O Mato Grosso está vendendo mais milho para os países árabes, mais carne bovina, mais soja, mais ouro, mais óleo de soja e mais vários outros produtos. Com isso, o estado vem galgando posições como fornecedor brasileiro do mercado árabe. O Mato Grosso passou da posição de sexto estado brasileiro que mais exportava aos árabes há nove anos para o terceiro neste ano.
Dados do Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que os mato-grossenses tiveram receita de US$ 681,2 milhões com vendas aos países da Liga Árabe em 2010. Neste ano apenas até o mês de setembro o faturamento com os embarques ficou em US$ 1,09 bilhão. O crescimento está ligado principalmente ao tamanho do agronegócio no estado, que ganha produtividade e com isso volume de produção.
“O agro mato-grossense vem se profissionalizando há muitos anos, tendo ganhos de produtividade, fazendo uma agricultura sustentável e, obviamente, conseguindo ter preços competitivos e, de uma forma muito profissional, tem entrado em toda a Ásia e nos países árabes como um todo”, afirmou para a ANBA o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Mato Grosso, César Miranda.
O secretário não chama mais o agricultor e o pecuarista locais de produtor rural, mas de “empresário rural”. Miranda cita como exemplo da profissionalização os setores de gado de corte, que vem conseguindo fazer o abate do animal com tempo menor de vida, e de soja e milho, culturas que têm uma safra por ano cada no estado. O milho do mato-grossense tem a quinta maior produtividade do Brasil, com 6,3 mil quilos por hectare, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
É justamente o milho que figura como produto que o Mato Grosso mais vendeu ao mercado árabe de janeiro a setembro. O grão respondeu por cerca de metade do valor das exportações. Foram US$ 522 milhões em receita de vendas com milho. Em 2010, o estado vendia aos países árabes US$ 141 milhões com o grão. A soja foi o terceiro produto mais vendido pelo Mato Grosso aos árabes e passou de US$ 9 milhões em 2010 para US$ 107,4 milhões nos nove primeiros meses deste ano.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja), Antônio Galvan, explica as vendas volumosas aos árabes pela qualidade dos produtos cultivados no estado. Segundo ele, a soja local tem alto teor de proteína e o milho possui alta qualidade por chover pouco na finalização da safra e por ser colhido em período seco. “Automaticamente tem menos chance de ter problema de deterioração e o mercado internacional busca muito esse milho por conta disso”, diz.
O estado planta a soja entre outubro e novembro e o milho entre janeiro e fevereiro. As duas culturas costumam revezar parte das lavouras do Mato Grosso. “São poucas as regiões no mundo em que você tem essa opção de fazer essas duas safras”, afirma Galvan. O milho, porém, representa apenas metade da área de soja do estado.
O segundo produto que o Mato Grosso mais exporta aos árabes é a carne bovina congelada. A carne bovina fresca e resfriada é o sexto produto da lista. De janeiro a setembro deste ano, o estado faturou US$ 194 milhões com vendas de carne bovina congelada para o mercado árabe contra US$ 107 milhões em 2010. A carne fresca e resfriada somou US$ 45 milhões em vendas neste ano e US$ 6 milhões há nove anos.
O diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, afirma que entre as razões que explicam o aumento de vendas de carne bovina aos árabes está o fato de o estado estar se consagrando no abate halal, próprio para o mercado de países muçulmanos. Além disso, ele lembra que o Mato Grosso tem o maior rebanho do Brasil, com 30 milhões de cabeças de gado, em um total de 200 milhões no Brasil.
Assim como Miranda, Manzi também cita a queda na idade de abate dos bovinos como um fator positivo para a exportação. “A idade de abate tem diminuído muito e isso está diretamente relacionado com maciez, com a qualidade da nossa carne”, afirma. O Mato Grosso tem 22 plantas frigoríficas de carne bovina habilitadas para exportação e está havendo ganho de produtividade, segundo o diretor técnico.
O secretário Miranda conta que o Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac) está finalizando um sistema digital para frigoríficos de bovinos. O sistema fará o controle digital da pesagem dos animais e permitirá que o produtor acompanhe pelo celular o abate do seu boi, entre outras inovações. O Imac é vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado do Mato Grosso.
“É um sistema de gestão e governança feito pelo produtor e pela indústria. O Imac vai certificar, num primeiro momento, se aquela carne comprada pelo importador foi feita com sustentabilidade, sem trabalho escravo, dando certificado de origem desde a fazenda, como aquele animal foi abatido, enfim, vai dar uma garantia da qualidade e da origem da carne mato-grossense”, explicou Miranda.
O secretário César Miranda esteve neste ano nos Emirados, onde fez parte da agenda uma reunião no Escritório Internacional da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em Dubai. Ele segue em contato com a entidade, com a qual discute a possibilidade de realizar no ano que vem uma missão para os Emirados, e possivelmente para outros países árabes, com a presença do governador Mauro Mendes (Democratas) e delegação empresarial. O objetivo é buscar mercado, mas também atrair investimentos, principalmente para a indústria e a infraestrutura local.
Galvan e Manzi acreditam na importância das ações do setor público para o comércio. “Com a visita do presidente da República (Jair Bolsonaro), com certeza deve aumentar muito mais”, diz o presidente da Aprosoja sobre as exportações do Mato Grosso aos árabes. Bolsonaro visitou Emirados, Catar e Arábia Saudita em outubro. “Mas é a qualidade do nosso produto que, com certeza, cada vez mais faz aumentar a procura por ele”, afirma Galvan.
Mazi lembra também do trabalho do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na busca por mercados para o agronegócio brasileiro no exterior. “Tem o trabalho da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, existe uma prospecção pelo Ministério da Agricultura, que tem feito um grande trabalho de procurar novos mercados, uma vez que o Brasil é um grande produtor”, afirma.
O Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil, além do maior produtor de soja, de algodão e de milho. O estado também tem o maior rebanho bovino. Além dos produtos já citados, o Mato Grosso também exporta para os países árabes tortas e resíduos sólidos de extração do óleo de soja, outras carnes e miudezas, legumes, ovos, algodão, sementes e frutos oleaginosos, gorduras de animais, entre outros. (Portal DBO)