Até metade dos suínos reprodutores da China morreu de peste suína africana ou foi sacrificada devido à disseminação da doença, o dobro do que mostram os números oficiais, de acordo com estimativas de quatro fontes que abastecem grandes produtores.
Embora outras estimativas sejam mais conservadoras, a queda no número de suínos para reprodução deve deixar um grande buraco na oferta da carne favorita do país, pressionando para cima os preços dos alimentos e devastando os meios de subsistência em uma economia rural que inclui 40 milhões de suinocultores.
“Algo como 50% das porcas está morta”, disse o veterinário Edgar Wayne Johnson, que passou 14 anos na China e fundou a Enable Agricultural Technology Consulting, uma empresa de serviços agrícolas com sede em Pequim e clientes em todo o país.
Três outros executivos em produtoras de vacinas e aditivos para rações e genética também estimaram perdas de entre 40% e 50%, com base na queda das vendas dos produtos de suas empresas e em seu conhecimento direto sobre a extensão da doença mortal sobre animais pelas fazendas do país.
A peste suína africana, que não possui cura ou vacina, mata quase todos os porcos infectados e não afeta seres humanos. Desde que a China reportou o primeiro caso em agosto passado, o vírus se espalhou para todas as províncias e para além das fronteiras do país, apesar das medidas tomadas pelo governo chinês para conter seu avanço. O vírus é semelhante a uma cepa encontrada nos últimos anos na Rússia, Georgia e Estônia.
O governo relatou 137 surtos da doença até agora, mas muitos não são informados, principalmente e mais recentemente nas províncias ao sul do país, como Guangdong, Guangxi e Hunan, segundo quatro criadores e uma autoridade entrevistada pela Reuters.
“Quase todos os porcos morreram”, disse um criador no condado de Bobai, em Guangxi. A província produziu mais de 33 milhões de suínos em 2017 e é uma importante produtora de carne de porco para o sul da China.
As perdas não são apenas devido a suínos infectados ou sendo sacrificados, mas também devido a fazendeiros que estão enviando seus suínos para o mercado mais cedo quando há descobertas da doença nas proximidades, disseram à Reuters produtores e fontes da indústria, o que analistas dizem que ajudou a segurar os preços da carne suína nos últimos meses.
Mas os preços começaram a subir significativamente neste mês, e o ministério da Agricultura da China afirmou que eles podem saltar em 70% nos próximos meses devido aos surtos da doença. A carne suína representa mais de 60% do consumo chinês de carne.
O ministério não respondeu de imediato a um pedido de comentário da Reuters sobre as projeções de que as mortes de suínos poderiam ser mais numerosas que os números oficiais. Em 24 de junho, o ministério havia afirmado que a doença havia sido “efetivamente controlada”, segundo a agência estatal de notícias Xinhua.
O banco holandês Rabobank disse em abril que as perdas na produção de suínos da China devido ao surto de peste suína africana poderiam atingir 35%. O Rabobank está agora revisando esse número para cima, para levar em consideração um aumento nos sacrifícios de animais nos últimos meses, disse à Reuters o analista sênior da instituição, Pan Chenjun.
A China tinha 375 milhões de suínos no final de março, 10 por cento menos que o registrado um ano antes, segundo a agência nacional de estatísticas (NBS, na sigla em inglês). O país tinha 38 milhões de matrizes, um declínio de 11 por cento, segundo a agência.
Mas numerosos fornecedores para a indústria de proteínas da China afirmaram que acreditam que os números reais sejam muito piores.
“Cem por cento de nossos negócios é focado em suínos, metade disso já era”, disse Dick Hordijk, presidente-executivo da cooperativa holandesa Royal Agrifirm. “Isso é um desastre para os pecuaristas e para os animais.” A companhia produz ração em duas fábricas na China e vende os produtos para cerca de 100 grandes suinocultores na China.
Fonte: Reuters