Pela minha vivência no campo por mais de 40 anos como engenheiro agrônomo, dos quais pelo menos 30 trabalhando no gerenciando de propriedades rurais que tinham como atividade principal a bovinocultura de corte, observo que o maior desafio do produtor na gestão de propriedades rurais que exploram esta atividade, consiste em:
1. Mudar a maneira de pensar em relação a alguns assuntos, tais como:
– É impossível comparar bovinocultura de corte de baixa a média tecnologia com agricultura de alta tecnologia – cana, eucalipto, milho, soja;
– Antes de tudo, o produtor de bovinos de corte é produtor de forragem;
– Produtor de bovinos de corte é fornecedor e não cliente, sempre deve estar atento nas necessidades dos clientes, os quais influenciam diretamente no fluxo de caixa e decidirão quem permanece ou não na atividade.

2. Fazer parcerias para poder agregar valor no produto, participando de associações de produtores e programas específicos;

3. Implantar sistema agrosilvipastoril ou integração lavoura – pecuária, analisando logística / localização e perfil da empresa;

4. Implantar um sistema de gestão.
Dos itens relacionados acima o mais complicado é o item 04, pois depende de um grande entrosamento entre a empresa e a equipe de trabalho envolvida, onde devemos levar em conta:

a) Comprometimento da “ALTA ADMINISTRAÇÃO DA EMPRESA” com as mudanças necessárias;
b) Todos devem ser receptivos com as mudanças;
c) Todos devem passar por um processo de educação e instrução para poderem assimilar novos conceitos;
d) Todos devem ser preparados para aceitar novos princípios de relacionamento e comportamento;
e) Todos devem ter comprometimento, isto é: “TRABALHAR EM EQUIPE”.
Mas antes de tudo precisamos dar uma arrumada na casa – “EMPRESA”, utilizando-se de cinco palavras transformadoras:

1. ORGANIZAÇÃO OU UTILIZAÇÃO:
– Significa: Colocar a disposição para serem descartadas coisas inúteis e preservar as de uso no dia a dia;
– Vantagens: Elimina excessos, libera espaço, diminui riscos de acidentes.

2. ARRUMAÇÃO OU ORDEM:
– Significa: Deixar cada coisa no seu devido lugar, pronta para uso, de modo que qualquer pessoa possa encontrar;
– Vantagens: Facilidade de encontrar objetos, economia de tempo e diminuição na ocorrência de acidentes.

3. LIMPEZA:
– Significa: Que com ela, identificam-se defeitos, peças quebradas, vazamentos e outros problemas que possam ocorrer com maior facilidade;
– Vantagens: Melhoria do local de trabalho, satisfação dos colaboradores, maior segurança e eliminação de desperdícios.

4. CONSERVAÇÃO OU PADRONIZAÇÃO:
– Significa: Arrumação e limpeza de forma contínua, padronizando os procedimentos a serem executados;
– Vantagens: Equilíbrio físico e mental, melhoria das áreas em comum (banheiro, refeitório) e das condições de segurança.

5. DISCIPLINA, AUTODISCIPLINA OU OBEDIÊNCIA:
– Significa: Fazer as coisas como elas devem ser feitas, mesmo que ninguém veja; cumprir regularmente os padrões éticos, morais e técnicos; fazendo-se tornar um hábito, é o compromisso pessoal;
– Vantagens: Trabalho diário agradável, melhoria nas relações humanas.
Em momentos de crises sempre é notório a velha discussão: “TEMOS QUE CORTAR DESPESAS”, porém o que precisamos fazer é evitar desperdícios, isto é: “OBTER MAIS RESULTADO COM MENOS DESEMBOLSO”, o que nada mais é do que melhorar a eficiência na utilização dos recursos financeiros, infraestrutura – capacidade instalada de produção, insumos, mão de obra e etc. Para que isto aconteça, devemos estar de olho nos setores que mais necessitam desta atenção:

1. Almoxarifado;

2. Depósito para defensivos agrícolas;

3. Depósito para fertilizantes;

4. Depósito para produtos veterinários e sementes;

5. Depósito de rações, suplementos minerais e energéticos – proteicos;

6. Oficina;

7. Galpão de máquinas, equipamentos, implementos e utensílios;

8. Galpão de arreiamentos e selas;

9. Baias; currais; cercas; sistema de recalque, armazenamento e distribuição de água;

10. Residências;

11. Equipamentos e móveis para escritório;

12. Máquinas, equipamentos, implementos e utensílios;

13. Veículos;

14. Rebanhos;

15. Áreas com culturas permanentes, culturas temporárias, pastagens e capineiras;

16. Mão de obra direta e indireta, e prestadores de serviços – empreiteiros.
A observação que faço, para que o processo de gestão inicie com o pé no chão, é importante que a EQUIPE DA EMPRESA esteja coesa, isto é, falando a mesma linguagem, como também a casa – EMPRESA esteja arrumada, esta é chave do sucesso ou não para se implantar o referido processo.
Para que possamos iniciar um processo de gestão numa propriedade rural ou empresa, antes de tudo, se faz necessário conhecer a real situação da mesma – DIAGNÓSTICO, somente assim poderemos discutir: A FINALIDADE E MISSÃO DA EMPRESA, OBJETIVOS E METAS; sempre pensando no “CURTO, MÉDIO E LONGO PRAZO”.

O diagnóstico é composto pelo levantamento da situação atual da propriedade rural ou empresa dos seguintes itens:

1. Apurar o patrimônio da empresa – valor:
– Terra nua;
– Culturas permanentes;
– Pastagens e capineiras;
– Reflorestamentos;
– Benfeitorias e melhoramentos;
– Cercas para pastagens e capineiras;
– Equipamentos e móveis para escritório;
– Máquinas, equipamentos, implementos e utensílios;
– Veículos;
– Animas de produção e trabalho;
– Materiais e produtos em estoque;
– Saldo de caixa em aplicações financeiras, conta corrente, valores em espécie, outras fontes de valores;
– Saldo das dividas contraídas por empréstimos, financiamentos, outras fontes e recurso próprios;
– Saldo de contas a pagar e a receber.

2. Levantar a mão de obra direta / indireta e prestadores de serviços:
– Por função, quantidade e remuneração mensal.

3. Levantamento das atividades exploradas;
– Nível de produtividade;
– Nível de tecnologia;
– Condições de clima, solo e relevo;
– Logística e localização da propriedade rural;
– Mercado.

Após a realização do diagnóstico da situação da empresa, o passo seguinte é PROJETAR A SITUAÇÃO FUTURA, onde deveremos definir:

1. Plano de contas gerencial;
2. Plano de metas por atividade, onde definimos:
– As metas a serem atingidas;
– Os parâmetros para elaboração de orçamentos.

Em seguida, devemos “TRAÇAR OS CAMINHOS QUE DEVERÃO SER PERCORRIDOS”, para que possamos atingir os objetivos e metas traçados, levando em conta:
1. Cronograma das tarefas por atividade a ser explorada.
Concluído esta fase deveremos “LIGAR A SITUAÇÃO ATUAL COM A SITUAÇÃO PROJETADA”, e para que isto ocorra necessitaremos:
1. Elaborar o planejamento estratégico definindo “O QUE FAZER” E “QUANTO FAZER”, tendo como objetivo:
– Identificar as oportunidades e ameaças que possam surgir;
– Melhorar os pontos fortes e neutralizar os pontos fracos e ameaças;
– Visualizar os problemas internos e externos, priorizando alternativas com maior flexibilidade para solução dos mesmos;
– Administrar os custos e o capital de giro de cada atividade explorada, canalizando os recursos para as áreas de maiores resultados;

– Posicionar-se corretamente perante o meio ambiente, a sociedade, o mercado e o produto – visando o cliente;
– Ter competitividade = (produtividade + qualidade) x (criatividade + inovação);
– Isto é: “PLANEJAR”.
2. Elaborar o planejamento gerencial definindo “COMO FAZER”, com o objetivo de:
– Fornecer subsídios técnicos ao plano de ação da empresa;
– Dar suporte técnico no “O QUE FAZER” e “QUANTO FAZER”.
3. Elaborar o planejamento operacional definindo “QUANDO FAZER”, “ONDE FAZER” E “QUEM VAI FAZER”, com o objetivo de:
– Definir os prazos de execução e montar o cronograma das tarefas;
– Quantificar os recursos financeiros e materiais necessários existentes;
– Quem serão os responsáveis pela execução e fiscalização na realização das tarefas;
– Onde serão executadas as tarefas e os indicadores de produtividade das operações.
Assim que terminarmos o planejamento passamos para a fase de execução do mesmo, a fase seguinte será o acompanhamento da execução e coleta de dados – informações, a qual nada mais é do que “AVALIAR O SISTEMA DE COLETA E CONTRÔLE DAS INFORMAÇÕES”, onde deveremos:
1. Avaliar os formulários utilizados para a coleta de dados;
2. Avaliar a coleta de dados;
3. Fazer sugestões para melhorar o sistema.
Agora, após todo este dispêndio de energia e boa vontade na realização das tarefas incumbidas a cada colaborador, só nos resta “AVALIAR OS RESULTADOS”, onde teremos:
1. Emissão dos relatórios gerenciais;
2. Comparação do Orçado x Realizado – Metas e Objetivos Projetados;
3. Estabelecer sugestões para correção das Metas e Objetivos para o próximo período.
Assim, depois desta tremenda colaboração por parte da equipe, nada mais justo do que “CRIAR UM SISTEMA DE BONIFICAÇÃO TENDO COMO BASE AS METAS ESTABELECIDAS”, pois ninguém é de ferro.
E para finalizar:
1. Palavras que abrem porteiras: “POR FAVOR”, “DÁ LICENÇA” E “MUITO OBRIGADO”;
2. E como diz o ditado: “QUEM NÃO FAZ POEIRA, COME”;
3. A decisão está em suas mãos: “VAMOS AO TRABALHO”.
Atenciosamente, um grande abraço para todos e sucesso neste grande desafio que é implantar um sistema de gestão numa empresa agropecuária.
Engenheiro Agronomo Antonio Ledesma Neto – ESALQ F73 DEZ.
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