O indicador do milho Cepea/Esalq/BM&FBovespa fechou ontem (10) acima de R$ 90 a saca, pela primeira vez na série histórica, iniciada em agosto de 2004. O indicador subiu 1,90%, para R$ 91,59/saca. Mesmo em dólar o preço avançou 4,25%, para US$ 16,19/saca. O movimento foi na contramão dos preços futuros e do dólar, que recuaram mais de 2% na sessão de ontem. O indicador registrou a oitava alta seguida, acumulando ganho de 7,24% no mês, refletindo principalmente a preocupação com a oferta do cereal em segunda safra após atrasos no plantio, mas também a elevação dos custos de transporte. O valor também superou o recorde real (corrigido pela inflação) anterior da série do Cepea, de R$ 89,90/saca, registrado em 30 de novembro de 2007.

Em relatório divulgado no fim da semana passada, o Cepea já havia chamado a atenção para a alta dos preços do milho no mercado brasileiro. “O impulso vem da combinação da posição firme dos vendedores, diante das preocupações com o atraso da semeadura da segunda safra frente à temporada anterior, com as constantes elevações dos fretes, visto que há escassez de caminhões para o escoamento da safra verão e das entregas do cereal”, disseram os pesquisadores.

Ainda conforme o Cepea, as maiores dificuldades de abastecimento têm sido observadas nas regiões consumidoras de São Paulo, o que impulsiona as cotações. “Devido à dificuldade enfrentada pelos consumidores, alguns têm optado pelo grão que está mais próximo, levando-os a aceitar os patamares mais elevados.” Já na semana passada o Cepea apontava que o preço no mercado disponível havia atingido os maiores valores históricos em regiões como norte e oeste do Paraná e Sorocabana (SP).

“Nesse cenário, produtores têm preferido estocar a mercadoria colhida (safra de verão), além do restante da safra 2019/20. Muitos ainda apostam que as cotações não devem recuar de forma expressiva no curto e médio prazos”, disseram os pesquisadores. Segundo o Cepea, as exportações e o desenvolvimento da segunda safra devem ser decisivos para as cotações no segundo semestre. Na B3, os dois primeiros contratos, março e maio, também estão acima de R$ 90/saca. O primeiro fechou o pregão desta quarta-feira a R$ 91,08/saca, e o segundo, a R$ 93,86/saca.

Nas principais regiões produtoras, o plantio segue atrasado. Em Mato Grosso, maior Estado produtor, a semeadura atingia 73% da área prevista até sexta-feira (5), avanço semanal de 18,36 pontos porcentuais. Há um ano, o plantio tinha sido concluído em 97,9% da área. E Mato Grosso já comercializou 70,89% da safra de milho 2020/21 até fevereiro, segundo o Imea.

Em relatório, a consultoria AgResource Brasil destacou que os mapas no País mostram clima úmido para a metade norte do Brasil, com chuvas de até 160 milímetros. “Nos próximos 10 a 15 dias, há outra rodada de precipitações fortes que diminuirão ainda mais o ritmo de colheita da soja e plantio do milho segunda safra”, disse a consultoria. (AE)