Sem alternativas de fornecedores, importadores norte-americanos absorvem novas tarifas
Um dos setores que mais se preocuparam com a implementação das tarifas de 50% sobre produtos importados pelos Estados Unidos do Brasil foi o da manga brasileira. Segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas), os norte-americanos absorveram 14% do volume de mangas exportadas pelo Brasil em 2024, o que correspondeu a 13% do faturamento total da fruta no mercado externo. Considerando todas as frutas, o país representou 7% do volume exportado e 12% da receita total do setor no ano passado.
Porém, pelo menos até o momento, esse impacto ainda não foi sentido pelos exportadores brasileiros. Inicialmente havia preocupação com cerca de três mil contêiners que estavam programados para sair do país neste ano, mas nenhum deles foi cancelado até agora.
“Felizmente, o setor privado, tanto brasileiro quanto norte-americano, está resolvendo o problema satisfatoriamente, ou seja, entenderam que os negócios eram importantes para os dois países. Nós queríamos vender e as empresas americanas queriam comprar. Então, fizemos um ajuste nas margens, discutimos a modalidade de negócio, os modelos de negócio que tínhamos e as exportações estão acontecendo. Muito provavelmente, ao final do ano, o resultado não vai ser aquele que a gente imaginava, ele vai ser um pouco mais baixo, mas, absolutamente, não vai ser o de terra arrasada como nós imaginávamos inicialmente”, conta Jorge de Souza, Diretor Técnico da Abrafrutas.
Exportação manga
A preocupação também foi partilhada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), que ressaltou a importância de buscar novos mercados para os envios das frutas.
“Para o setor de fruticultura, que ficou de fora da primeira lista de exceções, o impacto é bem grande, principalmente para aquelas empresas mais dependentes do mercado norte-americano. E essa iniciativa chega em um momento oportuno para que as empresas possam buscar diversificação de mercados, é uma oportunidade para que eles possam buscar uma diversificação de mercados”, diz Sérgio Ferreira, Gestor Regional da ApexBrasil.
ABERTURA DE MERCADOS
Diante desse cenário, a Agência promoveu uma Rodada de Negócios durante a Expofruit 2025 na cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte. Foram 13 compradores de 12 países diferentes que se reuniram com produtores e exportadores brasileiros para fecharem novos negócios. Alguns dos países que tiveram representantes presentes no evento foram China, Equador, Chile, Estados Unidos, Índia, Singapura, Romênia, Rússia, Emirados Árabes e países da África. Ao todo, a expectativa é de realização de mais de 200 reuniões.
“A Apex traz compradores, como essa iniciativa que a gente está trazendo aqui para Mossoró, e a gente está tendo uma repercussão muito boa em nível de satisfação, tanto das empresas brasileiras, quanto dos compradores”, comenta Anderson Dib, Especialista da Coordenação de Agronegócio da ApexBrasil.
“Nós temos até um representante aqui dos Estados Unidos que, mesmo com tarifa de 50%, está querendo comprar frutas. Então, é a prova de que, de novo, trouxe dificuldades, mas eu acho que o brasileiro, com a sua flexibilidade, com o seu espírito empreendedor, vai conseguir ultrapassar esse momento difícil. Eu não tenho dúvida que os Estados Unidos, com o tempo, eles vão voltar atrás e, não sei se a tarifa volta ao que era, de 10%, mas nós vamos ter um número melhor do que esse 50%, mais baixo do que o 50%, para poder continuar operando com aquele país”, afirma Souza.
Outra mobilização que está sendo feita após a definição das tarifas pelos Estados Unidos é a aceleração do processo de abertura de novos mercados para as frutas brasileiras. “Eu diria para você que nos tirou da zona de conforto, causou problema, principalmente, para aquelas empresas que eram mais dependentes do mercado norte-americano, mas eu diria que a gente está reagindo razoavelmente bem a essa ameaça. Como toda crise é também uma oportunidade, a oportunidade que o setor verificou é que era a hora de acelerar isso, diversificar mais, sair dessa dependência de poucos destinos. Então, isso está acontecendo, estamos tendo apoio do setor público, do governo federal, na aceleração de abertura desses novos mercados, mas é óbvio que o reflexo disso vai ser daqui dois, três anos, mas, com certeza, nós estaremos numa posição muito melhor daqui dois, três anos”, conta o diretor da Abrafrutas.
MOSSORÓ E RIO GRANDE DO NORTE
Olhando especificamente para a região de Mossoró e para o estado do Rio Grande do Norte, a avaliação das lideranças do setor é de que as tarifas impostas pelos Estados Unidos não devem causar muitos efeitos diretos, já que a maior parte das exportações do município e do estado potiguar são direcionadas para a União Europeia.
Dados do Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX/RN) mostram que apenas 5% das frutas exportadas na região, puxadas pelo melão, tem como destino o mercado norte-americano.
“A maior parte da nossa produção agrícola aqui de Mossoró é para a Europa. Acho que pouca coisa vai para os Estados Unidos. Então, acredito que não vai afetar muito a produção, não vai afetar muito as exportações, esse imbróglio que está tendo nos Estados Unidos com o Brasil”, pontua Marcos Medeiros, vice-prefeito de Mossoró.
“A fruticultura, graças a Deus, tem um impacto muito pequeno, mas a gente está muito preocupado com o pescado, e aí há necessidade de se abrir esses mercados, principalmente a retomada da União Europeia e o mercado chinês para o peixe e para o camarão. Mas o crescimento que as exportações do Rio Grande do Norte têm experimentado na fruticultura, eu tenho certeza de que outros mercados irão absorver. Os Estados Unidos já cobravam uma tarifa muito alta, superior inclusive a 50%, só que essa tarifa baixava durante novembro e dezembro porque ninguém conseguia mandar melão para os Estados Unidos. Então a gente não sabe como é que vai ficar esse comportamento para esses meses que vão estar pertinho de chegar. Pode ser que reduza, porque o impacto na mesa do americano, que não vai ter onde comprar melão. A gente pode aproveitar isso, e eu não tenho dúvida que talvez isso seja revisto para voltar ao que já era antes. Se ficar nos 18% a gente consegue mandar melão sim para eles, esse ano ainda”, aponta Guilherme Saldanha, Secretário de Agricultura do Rio Grande do Norte.
Mesmo neste caso, com pouca dependência dos Estados Unidos a luz de alerta foi ligada para a necessidade de ampliar a abertura de novos mercados para diversificar a carteira de clientes para as frutas da região.
“Nunca se sabe quando o nosso principal cliente vai tomar decisões que podem colocar em risco a saúde do nosso negócio. Mandamos quase 90% de toda a nossa fruta produzida no estado do Rio Grande do Norte para a comunidade europeia, entretanto, é uma região que tem 500 milhões de habitantes. Hoje nós estamos com o pé já dentro da China, um país de 1,5 bilhão de habitantes. Estivemos em Xangai agora esse ano, buscando estreitar relacionamento com grandes importadores, inclusive trouxemos para a nossa Expofrut importador da China para desenvolver essa negociação, porque nós estamos visando aquele mercado. Apesar da distância, apesar da dificuldade de logística para colocar a fruta lá, mas a gente está cada vez mais alcançando essa possibilidade. Durante cinco anos, o melão da região de Mossoró era a única fruta aceita do Brasil no mercado chinês, agora já tem a uva de Petrolina. E a cada incremento de produtos que o mercado chinês aceita, nós aumentamos a chance de termos volume suficiente para termos linhas marítimas dedicadas para a fruta”, alerta Fábio Queiroga, presidente do COEX/RN.
MANGA PARA A COREIA DO SUL
Um caso de sucesso parecido é a manga para o mercado da Coreia do Sul, destacado pela Abrafrutas durante palestra realizada na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) ao longo da Expofruit.
“Quando abrimos o mercado da manga para a Coreia do Sul pensavam que éramos loucos de exportar para um país longe, que tinha intensas barreiras sanitárias e estava perto de outros fornecedores mundiais. Porém, em três anos a manga brasileira corresponde hoje a 16% de todo o mercado sul-coreano de mangas e tarifa de importação que era de 44% hoje é de zero. É um negócio que não tem volume tão grande, mas representa uma das melhores rentabilidades do setor”, conta Jorge de Souza.
(Notícias Agrícolas)