Gustavo Rezende Machado é graduado em engenharia agronômica e trainee pela Agrifatto.
A partir do dia 18 de maio desse ano, com a divulgação da conversa de um dos acionistas do grupo J&F com o presidente Michel Temer, o mercado pecuário se viu rapidamente em meio a uma série de dúvidas sobre o seu futuro. Muitos eventos se sucederam desde a explosão da denúncia e depois de um pouco mais de três meses, os preços se mostram agora positivos ao produtor.
Analisando-se os desdobramentos que ocorreram a partir de maio por uma perspectiva econômica, destacam-se três consequências iniciais:
1. Redução momentânea da demanda (queda nas exportações);
2. Aumento do risco do dinheiro, com indústrias oferecendo valores mais baixos em troca de pagamentos a vista, e com isso aumentando seus spreads entre a arroba do boi gordo e a carcaça bovina no atacado para o maior período da série histórica;
3. Nesse período as pastagens apresentam menor oferta de alimento e limitaram o tempo que o produtor conseguia manter os animais no pasto. Dessa forma, todos esses fatores juntos colaboraram para queda vertiginosa dos preços nas semanas que se seguiram.
Além disso, as incertezas geradas pela denúncia mudaram as estratégias dos produtores, que diminuíram a quantidade de animais em confinamento e aguardaram o maior período possível para ofertar animais terminados a pasto, resultando assim em queda de liquidez nesse momento de entressafra. Já nas últimas semanas, os frigoríficos que estavam mais capitalizados pelo aumento da diferença nos spreads, com redução gradual nas escalas e com a abertura de novas plantas que aumentaram a demanda pelo boi gordo e a competição pela matéria prima, pressionaram positivamente as cotações.
O histórico de preços médios a prazo confirma a tendência baixista desde o segundo semestre de 2016, mas agora com forte correção e alcançando valores pagos semelhantes àqueles vistos em maio de 2017 (Gráfico 1), época da divulgação do áudio que agitou o mercado. O cenário mais otimista presenciado em agosto confirma-se também pela média mensal dos preços pagos entre 2013 a 2016 comparando-se com os valores mensais deste ano. Para os meses de junho e julho observa-se maior diferença entre os preços praticados, mas em agosto ocorre forte aumento que ultrapassa a média dos últimos anos (Gráfico 2).
Por fim, a retomada dos preços também pode ser confirmada pelo indicador ESALQ/BM&FBovespa, que passou a registrar valores mais altos a partir do final de julho, atingindo o melhor valor em quase quatro meses: R$ 139,17/@ à vista. A variação do indicador para o período pode ser observada no gráfico 2, que ilustra a proximidade dos preços registrados entre o final de abril e final de agosto de 2017.