O mercado de trabalho dá sinais de recuperação no emprego, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O instituto reconhece que os indícios ainda são difusos em relação à ocupação, mas ressalta que houve melhora nos salários.

O rendimento médio real do trabalhador teve alta de 1,4% no trimestre encerrado em fevereiro ante o mesmo período do ano anterior. No segundo trimestre de 2016, a renda dos ocupados registrava queda de 3,9% nesse tipo de comparação. O levantamento tem como base microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Pelo lado dos rendimentos, a expectativa é de continuidade deste movimento recente de recuperação salarial, possibilitado, em parte, pelo recuo da inflação. Mesmo que de forma moderada, a conjunção da expansão dos rendimentos reais, atrelada à melhora de comportamento da população ocupada, deve impactar positivamente o comportamento da massa salarial, gerando incentivos à retomada do consumo das famílias”, avaliou o instituto, em nota oficial.

O estudo, divulgado pela Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (Dimac) do Ipea, lembra que os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho também mostram uma melhora recente dos salários na economia. Após registrar quedas consecutivas durante todo o ano de 2015 e de 2016, os salários de admissão voltaram a apontar expansão em relação a um ano antes.

“Apesar desta alta, em fevereiro (de 2017), na média, os salários dos admitidos giravam em torno de R$ 1.340,00, enquanto os desligados possuíam remuneração média de R$ 1.640,00”, ponderaram os autores Maria Andréia Parente Lameiras e Sandro Sacchet de Carvalho, técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea.

O levantamento aponta ainda que, embora a taxa de desemprego tenha atingido o patamar recorde de 13,2% no trimestre encerrado em fevereiro, há uma desaceleração no ritmo de redução da população ocupada. O movimento é impulsionado pela expansão da população economicamente ativa (PEA), que apresentou alta de 1,4% em 2016.

“Essa alta se explica, em boa parte, pelo aumento de 2,7% dos declarados ‘não chefes de família’ na PEA, o que aponta o ingresso de um ou mais membros do domicílio na força de trabalho, a fim de recompor a renda perdida com o agravamento da recessão”, explicaram os autores no documento.

O impacto da desaceleração econômica sobre o nível de emprego foi mais forte entre os trabalhadores com menor grau de instrução: ensino fundamental incompleto (queda de 5,6% em 2016) e ensino fundamental completo (redução de 8,3%). Já o contingente de trabalhadores com ensino superior cresceu 2,5% no ano, indicando que houve geração de postos de trabalho destinados a pessoas com maior qualificação mesmo no período mais grave da crise.

O fenômeno também ocorreu entre os trabalhadores com mais de 59 anos, que cresceram 1,1% no ano, o único segmento por faixa etária com variação positiva. Os trabalhadores com idade entre 25 e 49 anos, que correspondem a 62% de toda a população ocupada, tiveram uma redução de 1,4% no período.

“A força de trabalho brasileira vem, portanto, sofrendo alteração em seu perfil: está se tornando mais idosa e instruída, devido à acelerada transição demográfica brasileira e a uma série de políticas de aumento do acesso à educação iniciadas na década de 1990”, justifica o instituto.
A expectativa é de uma relativa estabilidade nas condições do mercado de trabalho nos próximos meses, mas a taxa de desocupação deve permanecer em patamares elevados.

“Em que pese a melhora do nível de atividade já a partir do primeiro trimestre do ano, o emprego tende a reagir lentamente às mudanças nos ciclos econômicos. Adicionalmente, os últimos dados parecem sinalizar que a reação deve ocorrer, em um primeiro momento, por meio da recuperação dos rendimentos reais – já beneficiados pela desaceleração da inflação – e, posteriormente, pela melhora no desempenho da ocupação”, preveem os autores. (AE)