Em mais um trimestre com resultados financeiros recordes, a Marfrig Global Foods reforçou a sua atuação no segmento de produtos com maior valor agregado e deslocou parte das suas exportações do Brasil para outros países da América do Sul, na tentativa de diminuir a exposição aos desafios do trimestre, segundo o CEO da região, Miguel Gularte. Para além da conjuntura de custos de produção mais altos e consumo doméstico enfraquecido, nos últimos três meses a empresa precisou driblar também a suspensão dos embarques de carne bovina do Brasil para a China, principal parceiro comercial, por causa dos casos atípicos do “mal da vaca louca” no País.
Nesse sentido, uma das apostas da companhia foi nos produtos industrializados, que representaram cerca de 15% da receita da América do Sul, contra 11% no mesmo período do ano passado. “Nós aproveitamos que o custo da matéria-prima sofreu uma readequação como desdobramento da situação com a China e ampliamos a nossa produção de maior valor agregado”, afirmou ele.
Outra estratégia foi recorrer à diversificação geográfica da empresa, realizando contratos anteriormente previstos para embarques oriundos do Brasil a partir dos outros países em que a Marfrig está presente, especialmente o Uruguai, onde a companhia é líder na exportação de carne bovina in natura. A companhia possui 13 plantas da América do Sul habilitadas para exportação à China, das quais sete estão no Brasil, quatro no Uruguai e duas na Argentina. “Seguimos acompanhando a situação das exportações brasileiras para a China”, disse Gularte.
O executivo comentou, ainda, que a empresa optou por conceder férias coletivas em algumas das suas plantas habilitadas para exportação à China no Brasil, enquanto a situação dos embarques não é solucionada.
Apesar dos efeitos adversos da interrupção do escoamento ao país asiático, a operação América do Sul engatou em um movimento de recuperação no terceiro trimestre, com base no desempenho da empresa no mês de agosto, conforme o executivo. Para o quarto trimestre, a expectativa é de maior equilíbrio entre os preços de compra da matéria-prima no Brasil, ou seja, a arroba do boi gordo, e o preço de venda da proteína no mercado doméstico. A tendência para os próximos meses é de uma atuação ainda maior na produção de produtos com marcas, em função das festas de fim de ano, que costumam elevar o consumo de carnes premium, conforme Gularte. Ele pondera, entretanto, que a conjuntura vai depender “do timing da volta das compras da China, se isso ocorrer e quando ocorrer”.
Além disso, a retomada do food service, com a reabertura total dos restaurantes, auxiliou na recuperação da unidade de negócio, com destaque para o e-commerce e o serviço de delivery.
Estados Unidos – O cenário ainda positivo para as operações de carne bovina nos Estados Unidos garantiu, em mais um trimestre, o protagonismo da National Beef nos resultados financeiros da Marfrig Global Foods no terceiro trimestre do ano. Com a demanda por carne bovina mais forte, uma recuperação do segmento do food service e fundamentos referentes à oferta de gado favoráveis, a operação América do Norte da empresa manteve a sua participação no Ebitda consolidado em 95% nos últimos três meses. De acordo com o CEO da unidade de negócio, Tim Klein, a perspectiva é que o desempenho robusto da operação continue no quarto trimestre, embora a sazonalidade possa reduzir as margens na comparação com o terceiro trimestre.
O executivo comentou que o problema com relação à mão-de-obra no país preocupa toda a indústria de proteína animal, mas, por enquanto, a empresa tem conseguido manter as atividades e a capacidade produtiva normais nas unidades de abate. Além disso, a Marfrig não prevê qualquer aumento na remuneração aos funcionários nos próximos meses. “No entanto, vale considerar que se a indústria como um todo não conseguir manter o processamento do mesmo número de cabeças de gado, como a demanda está muito forte, os preços das carnes podem aumentar. Do ponto de vista das margens, o aumento nos preços deve compensar a queda nos abates”, acrescentou.
No terceiro trimestre do ano, a unidade da América do Norte registrou receita líquida recorde de R$ 16,7 bilhões (US$ 3,2 bilhões) no terceiro trimestre, avanço de 38,9% em relação a igual período do ano passado. O Ebitda ajustado ficou em RS 4,5 bilhões (US$ 857 milhões), alta de 159,4%. Além disso, o lucro bruto avançou 146,4% ante o ano anterior, para R$ 4,8 bilhões (US$ 926 milhões).
(AE)