Convênio entre Câmara Árabe e ApexBrasil prevê promoção do alimento brasileiro industrializado no mundo islâmico e estímulo a fabricantes nacionais para adotar certificação halal obrigatória
Ação da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) vai habilitar empresas a exportar alimentos de valor agregado para países muçulmanos, num esforço de ampliar a pauta de exportação hoje prevalente em commodities alimentares, informaram as instituições no último dia 20 de outubro.
A iniciativa Halal do Brasil, como é chamada a ação conjunta, prevê investimento de R$ 15,4 milhões nos próximos 30 meses em ações de promoção comercial no exterior, além de subsídio a empresas interessadas em adotar certificação halal para seus produtos, que atesta manufatura conforme as tradições do islamismo, funcionando, na prática, como um passaporte de acesso a estes mercados.
Segundo o secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, a meta é habilitar 500 fabricantes de alimentos e bebidas com produtos de valor agregado no portfólio e já em fase de internacionalização a participar do mercado mundial de alimentação halal, que reúne 1,9 bilhão de consumidores, movimenta US$ 1,267 trilhão por ano e tem perspectiva de crescer 7,1% até 2025, segundo o relatório State of the Global Islamic Economy 2022.
“Queremos ver o Brasil ampliar participação nos países islâmicos com categorias de produtos de valor agregado, principalmente alimentos beneficiados, aproveitando a competitividade no segmento, a longa relação com os mercados islâmicos e a boa reputação do halal brasileiro nesses países, conquistada em função do comércio de proteína, desde os anos 1970”, disse Mansour em nota.
As ações de promoção vão priorizar, segundo o secretário-geral, feiras em mercados muçulmanos. Entre os países prioritários, além dos 22 estados da Liga Árabe, está a Malásia, que viu no estímulo à produção halal uma política eficiente de industrialização e fomento à exportação, sendo ainda uma referência em marketing aplicado ao consumo islâmico.
A promoção também vai mirar países com papel importante no mundo muçulmano, como Indonésia, França, Alemanha, Reino Unido e África do Sul. O primeiro abriga a maior população islâmica do mundo e começa a ter contato com a proteína brasileira. Os europeus têm expressivas populações muçulmanas e de alto poder aquisitivo. Já a África do Sul vem se firmando como hub halal.
No campo diplomático, as embaixadas brasileiras nos países-alvo vão buscar diálogo com governos e entidades para promover o halal nacional. “Já estamos nesse caminho com alimentos e bebidas, segurança e defesa, petróleo e gás natural, higiene pessoal e cosméticos, casa e construção”, disse em julho o presidente da ApexBrasil, Augusto Pestana, ao comentar a iniciativa conjunta com a Câmara Árabe no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes.
Um amplo mercado, mas ainda lastreado em commodities de baixo valor agregado
Dados compilados pela Câmara Árabe-Brasileira mostram que, em 2021, o Brasil exportou US$ 16,5 bilhões em alimentos e bebidas para os 57 países da Organização para Cooperação Islâmica (OCI), com participação de 7,2% do total de US$ 230,4 bilhões importados pelo bloco.
O resultado, embora tenha posicionado o Brasil na segunda colocação entre os fornecedores de alimentos e bebidas do mundo muçulmano, atrás apenas da Índia, ainda é lastreado em commodities de baixo valor agregado, como açúcar, soja, frango e milho, o que dá a medida do potencial a explorar nos segmentos de maior beneficiamento.
Na avaliação de Tamer Mansour, o avanço do Brasil no mercado islâmico de alimentação ainda esbarra na baixa oferta de produtos processados com certificação halal, razão pela qual a cooperação com a ApexBrasil quer estimular a adoção do selo entre as empresas.
Obrigatório para vários tipos de alimentos importados pelos países da OCI, mas também para outros produtos, o selo halal atesta ao consumidor muçulmano que o artigo em questão foi fabricado em respeito a suas crenças e aos preceitos do islamismo.
O selo garante, por exemplo, que o alimento beneficiado é livre de derivados suínos, cujo consumo é vedado ao muçulmano. Também atesta que produtos de origem animal vêm de processos de abate islâmico, com ações para evitar, inclusive, contaminação cruzada.
De acordo com Mansour, o estímulo à certificação também vai contribuir com o marketing do alimento halal brasileiro, já que nos países muçulmanos este tipo de produto é associado à produção socialmente responsável e a um estilo de vida saudável.
O dirigente lembra ainda que o conceito halal (do árabe, aquilo que é lícito) estabelece regras não só para alimentos, mas também cosméticos, artigos de higiene pessoal, medicamentos, moda, entretenimento, turismo e até para o sistema financeiro islâmico.
“Se o Brasil estiver disposto a cumpri-las, como já faz com as proteínas, pode se tornar relevante em todos esses segmentos, pois já é uma referência de respeito às crenças muçulmanas, embora muitos brasileiros ainda não saibam”, disse Mansour.
Com mais de 70 anos de existência, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira é uma entidade dedicada ao fomento da relação comercial bilateral entre o Brasil e os 22 países da Liga Árabe. Integrante da União das Câmaras Árabes, o braço econômico da liga diplomática, a entidade tem por missão conectar empresas árabes e brasileiras, buscando atender às necessidades dos dois lados da parceria comercial, o desenvolvimento dos laços comerciais e a integração entre os setores produtivos.
Já o Halal do Brasil – projeto realizado para Câmara de Comércio Árabe-Brasileira em parceria com a ApexBrasil – visa acelerar o processo de inserção internacional das indústrias com produtos halal no mercado mundial, fomentando a cultura exportadora brasileira para mercados islâmicos e não-islâmicos por meio de um projeto de apoio a negócios internacionais.
(CarneTec)