A indústria de pescados do Brasil pediu ao governo diferimento de obrigações fiscais, acesso a créditos subsidiados, e quer ainda que ele seja garantidor de linhas de financiamento emergenciais, afirmando que precisa de “oxigênio” em um momento em que a crise do coronavírus afeta a demanda e deixa em dificuldades um setor que emprega 1 milhão de pessoas no país.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em reunião com representantes da indústria que medidas de ajuda do governo seriam anunciadas ainda nesta semana, segundo Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), que participou do encontro.

Após o fechamento de restaurantes e o isolamento de pessoas em suas casa para conter a disseminação do coronavírus, as vendas de peixes recuaram 50% no Brasil, e os pescadores do Nordeste ficaram sem ter onde comercializar seus produtos, disseram a Abipesca e os próprios armadores.

“A resposta do Brasil deixa a desejar, enquanto os países competidores estão protegidos por seus governos”, afirmou Lobo.

Com uma produção relativamente baixa de peixes, apesar de seu litoral de aproximadamente 7,5 mil quilômetros, o Brasil é considerado um “gigante adormecido” no setor.

O país produz apenas 1,3 milhão de toneladas de peixes por ano, sendo 700 mil toneladas provenientes da pesca de captura e 600 mil toneladas da aquicultura, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês).

As exportações de peixes do país totalizaram 300 milhões de dólares em 2019, enquanto as importações foram de 1,1 bilhão de dólares, também de acordo com a FAO.

Gabriel de Araújo, presidente do Sindicato da Indústria de Pesca do Estado do Rio Grande do Norte (Sindipesca), disse à Reuters que desde que a pandemia surgiu, os barcos deixaram de pescar em águas profundas por não haver mercado para determinados tipos de atum.

O cancelamento de voos para os Estados Unidos restringiu as exportações de forma severa, segundo ele.

As embarcações nordestinas pescam cerca de 26 mil toneladas de atum “bigeye” e “yellowfin” por ano, com grande parte da produção sendo destinada para São Paulo e para os restaurantes de culinária japonesa dos EUA, disse Araújo.

Thiago De Luca, diretor da empresa Frescatto, de propriedade familiar, afirmou que sem a ajuda do governo, haverá mais problemas e inevitáveis cortes de empregos.

“Essa crise é diferente das outras”, disse ele. (Reuters)