Gustavo Machado é consultor de mercado pela Agrifatto
Marco Guimarães é estagiário pela Agrifatto
Hoje, o consumo interno fraco pode ser considerado o principal fator limitante para uma valorização mais consistente da arroba. Consequência da alta taxa de desemprego, alta taxa de endividamento das famílias e desestímulo a novos investimentos, além de um cenário futuro repleto de incertezas devido às eleições que se aproximam.
E a respeito desse futuro nebuloso, na última quinta-feira (09/08), o país assistiu ao primeiro debate com os candidatos à presidência, que já acarreta duas conclusões possíveis: primeiramente, que o cenário eleitoral continua completamente indefinido e, em segundo lugar, que os mercados devem registrar maior volatilidade e aversão ao risco a partir de agora.
Isso porque o risco político deve imprimir cada vez mais cautela ao mercado, o câmbio deve continuar forte e volátil, e muito possivelmente o investimento e o consumo devem seguir comedidos no médio prazo.
Mesmo com a expectativa que se tinha sobre as eleições e seus consequentes financiamentos bilionários, injetando maior volume de dinheiro na economia, as projeções de consumo parecem frustrar as expectativas devido à nova dinâmica desta campanha combinada à crise econômica, que até o momento tem sido incapaz de destravar o consumo e pressionar positivamente os preços pecuários na mesma proporção de eleições anteriores.
E a variação acumulada dos preços no varejo, no atacado e pelo bovino terminado desde 2008, mostram que o fortalecimento dos três setores perdeu fôlego nos últimos 2 anos.
Vale destacar a precificação do varejo com menor volatilidade frente aos outros elos da cadeia. Em 2010/11, por exemplo, o atacado e a arroba recuaram, enquanto o varejo seguiu sua tendência altista, possivelmente levando a resultados mais positivos naquele período.
No ano seguinte, o varejo não acompanhou a alta dos segmentos anteriores, pela impossibilidade de repassar os custos mais altos ao consumidor final no mesmo ritmo.
O fato é que a atual demanda interna impõe um teto à alta dos preços e sugere pressão aos gastos industriais e ao varejo nos próximos meses.
Por outro lado, as exportações se mostram cada vez mais importantes para a sustentação do valor da arroba, uma combinação entre o câmbio fortalecido e a alta dos embarques ampliando o faturamento em reais (gráfico 2).
Na média dos últimos 10 anos, os embarques cresceram a uma taxa anual de 5,20%, enquanto o faturamento em reais avançou numa taxa de 10% no mesmo período. Já o faturamento em dólares foi menos intenso, na média, 0,30%.
Para os próximos meses, com o câmbio em alta e a com a guerra comercial entre EUA e China se agravando, a participação do Brasil no mercado mundial deve continuar em destaque, trazendo volatilidade e pressão.
Entretanto, é muito provável que as investidas norte-americanas levem a um cenário internacional mais desafiador. Além da aversão ao risco, a liquidez dos mercados pode cair, e o aumento das medidas protecionistas pode levar a uma desaceleração do crescimento em escala global.
Neste sentido, o crescimento da demanda global por carne bovina, que vinha registrando variações positivas desde 2015, puxada especialmente pelo apetite asiático, pode perder força com impacto negativo sobre os preços no longo-prazo.
Em outras palavras, tanto o cenário interno quanto o ambiente externo estão repletos de incertezas. O mercado, como sempre, segue desafiador.
A demanda no Brasil deve continuar fragilizada e a economia pode não ganhar tração ainda neste ano (limitando a máxima dos preços pecuários na entressafra).
Para 2019, o cenário continua difícil, especialmente pela resistência dos governos em realizar importantes reformas que equilibrem melhor as contas públicas, como a fiscal e a previdenciária.
Externamente, a demanda pela proteína bovina tem crescido nos últimos anos, com as importações subindo na Ásia (+23,20% ante 2017), Hong Kong (+6,80%), Coréia do Sul (+5,27%), Chile (+5%) e com o Egito ampliando os embarques em 28% em 12 meses.
O consumo mundial por carne bovina deve continuar alcançando patamares mais altos, com o Brasil sendo um dos poucos países com potencial de acompanhar a demanda global, entretanto, o cenário adverso pode pressionar o valor por tonelada no médio e longo-prazos.