O Indicador de Incerteza da Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) recuou 1,5 ponto percentual de julho para agosto para 114,2 pontos. Mas esse patamar considerado de incerteza elevada – acima de 110 pontos – continuará assim nos próximos meses.
“A incerteza em torno das eleições e do problema fiscal torna o cenário econômico ainda mais nebuloso. Falta clareza sobre os planos econômicos e não se sabe quais serão os planos fiscais, e que se mostrem necessários para resolver o problema, ou não”, disse a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), Raíra Marotta.
Na avaliação do economista independente Pedro Coelho Afonso, a incerteza sobre a economia só irá diminuir significativamente se, no início do próximo governo, forem encaminhadas as reformas para aprovação no Congresso. Vale citar, nesse caso, que deputados e senadores eleitos só tomarão posse no começo de fevereiro de 2019, ou seja, um horizonte de seis meses.
“Desde o escândalo da delação da JBS [em maio de 2017], o governo não fez mais nada para que a economia crescesse. Temos um problema fiscal muito sério, uma reforma da previdência que não foi votada; e gargalos de logística e infraestrutura que precisam ser enfrentados”, lembrou Coelho Afonso.
Sobre a incerteza elevada atual, a pesquisadora do Ibre citou que além da indefinição eleitoral doméstica, há outros fatores internacionais influenciando. “No front externo, temos a guerra comercial entre Estados Unidos e China; a tensão entre os EUA e a Turquia, que provocou a queda da lira turca e a desvalorização do real e de outras moedas emergentes em relação ao dólar”, disse.
Quanto à atividade, Raíra Marotta acrescentou que a baixa confiança da indústria brasileira é registrada desde janeiro. “O aumento da incerteza também influencia no IBC-BR”, diz a pesquisadora.
O IBC-BR, considerada uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) feita pelo Banco Central (BC), registrou queda de 0,99% na atividade econômica no segundo trimestre do ano. O PIB oficial apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) será divulgado amanhã, dia 31.
Crescimento muito baixo
Na estimativa do economista Pedro Coelho Afonso, o PIB do segundo trimestre virá dentro das expectativas do mercado, ou seja, de estabilidade devido aos efeitos da greve dos caminhoneiros em maio. “O PIB do ano ficará em torno de 1,5%, ou 1,47% em linha com o que o mercado espera [Pesquisa Focus]”, diz Afonso. Mas, para o economista-chefe da Mapfre Investimentos, Luis Afonso Lima, o PIB para 2018 ficará em torno de 1%. “Se errarmos, é para menos”, ponderou. No segundo trimestre, ele espera alta de 0,3% contra os três primeiros meses do ano.
Ele justificou que o IBC-Br para o segundo trimestre está mais próxima da realidade (queda de 0,99%). “Os primeiros dados do terceiro trimestre não são estão bons, vimos aumento do estoque na indústria, que está com capacidade ociosa. E tivemos a paralisação em Paulínia (SP) que afetará a produção industrial”, afirmou.
Ele completou que o setor de serviços (63% do PIB) está cortando margens. “A diminuição afeta a capacidade de investimento das empresas”, diz.