O impacto causado pelo surto do coronavírus nos lucros das empresas norte-americanas está ficando cada vez maior e mais difícil de prever.
Estrategistas de Wall Street têm reduzido suas previsões, já que o impacto do vírus deve afetar muito além do primeiro trimestre, colocando em risco o crescimento dos lucros em 2020. Desde meados do mês passado, muitos agentes do mercado vinham dizendo esperar que o vírus afetasse os lucros no primeiro trimestre, mas não muito além disso.
As preocupações com o impacto esperado aumentaram na semana passada, conforme o vírus, detectado pela primeira vez na China, se espalhou rapidamente para países como Coreia do Sul, Itália e Irã, fazendo com que o S&P 500 sofresse sua maior queda semanal desde a crise financeira global de 2008. Nos Estados Unidos, o governador de Nova York confirmou o primeiro caso positivo no domingo.
“Isso facilmente impactará o segundo trimestre”, disse Peter Tuz, presidente da Chase Investment Counsel em Charlottesville, Virgínia. “Não existe um dia que passe sem meia dúzia de empresas prevendo algum tipo de efeito negativo.”
O estrategista do Citigroup Tobias Levkovich prevê uma pequena queda na comparação anual em 2020, com o impacto ocorrendo na primeira metade do ano, à medida que surgem paralisações na produção e as viagens são canceladas.
No entanto, se desencadeasse uma recessão global, os lucros poderiam “cair perto de 25% e os mercados de ações cairiam da mesma forma, pois as ações normalmente seguem os lucros conforme padrões anteriores quando ocorreram retrações”, escreveu Levkovich.
Na quinta-feira, estrategistas da Goldman Sachs disseram que agora esperam que os lucros das empresas S&P 500 fiquem estáveis em 2020.
O consenso das previsões de lucros de Wall Street, que são baseadas em estimativas de analistas que cobrem empresas individuais, também caíram, mas não tanto quanto algumas das previsões de bancos.
Com base em dados da Refinitiv, o consenso da previsão de lucro para 2020 ainda está bem acima de zero. Na sexta-feira, analistas esperavam um crescimento de 7,6% nos lucros em 2020, abaixo de uma estimativa de 9,7% no início do ano, enquanto no primeiro trimestre os analistas esperavam um alta de 2,7% nos lucros em relação ao ano anterior, abaixo dos 6,3% em 1º de janeiro, segundo dados da Refinitiv.
Embora as estimativas do primeiro trimestre caiam ainda mais, à medida que mais empresas dão previsões negativas, é improvável nenhum crescimento no lucro do ano inteiro, disse Nick Raich, presidente-executivo da The Earnings Scout, uma empresa de pesquisa independente, antecipando uma recuperação nos resultados corporativos assim que o a propagação do vírus diminuir e a demanda aumentar novamente.
Muitos investidores observaram que as perspectivas em rápida mudança para a economia e os lucros tornam o vírus uma questão de longo prazo.
“Será um evento para o ano inteiro”, disse Tuz. (Reuters)