O Brasil deverá repetir em 2019 o recorde de exportações de soja previsto para este ano, de 80 milhões de toneladas, alta de 19,4% em relação a 2017. O desempenho é impulsionado pela demanda chinesa, que aumentou com a guerra comercial travada entre o país asiático e os Estados Unidos.

A estimativa foi anunciada nesta quinta-feira (22) pelo diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, em evento em São Paulo. No início do ano, a projeção da entidade era de 72 milhões de toneladas.

Já para o diretor da Agroconsult, André Pêssoa, as exportações brasileiras de soja podem ultrapassar as perspectivas da entidade para 2018, atingindo 82 milhões de toneladas. “Nunca tivemos um plantio finalizado nas áreas de safrinha tão cedo como agora. A maior parte das regiões produtoras deve ter produtividade excepcional”, analisa Pêssoa.

Segundo Mendes, a receita com os embarques de grãos neste ano deve somar US$ 40 bilhões. “Evidentemente que esses 13 milhões de toneladas adicionais ocorrem em função da guerra comercial, que nos ajudou, mas também nos causa preocupação, porque nos deixa mais dependentes do que já estamos dos compradores do Oriente, especialmente China, enquanto na Europa nós perdemos mercado”, avalia.

Conforme Mendes, a retomada das vendas na Europa é uma preocupação para 2019. “Reconquistar esse mercado vai depender da continuidade da guerra comercial, pois não podemos deixar de abastecer o nosso principal cliente e os norte-americanos vão fazer de tudo para manter os clientes que já conquistaram.”

Os embarques de milho, por outro lado, foram prejudicados pelo tabelamento do frete, já que as exportações do cereal ocorrem em sua maioria no 2º semestre do ano, após a colheita da segunda safra. Além disso, as cotações do cereal começaram o ano fortalecidas e ganharam novo suporte com a quebra da safrinha 2017/2018.

Esse cenário interrompeu a trajetória de crescimento dos embarques do milho dos últimos anos. A entidade projeta exportações de até 18 milhões de toneladas do cereal para 2018 ante previsão inicial de 32 milhões de toneladas. No ano passado, os embarques somaram 29 milhões de toneladas. “O milho nos preocupa, não apenas por causa do preço, que estará menor por causa da maior oferta, mas pelo tabelamento do frete, que pesa mais para o cereal”, afirma. A Anec calcula que a tabela do frete ampliará os custos dos produtores em US$ 5 bilhões.

PleitoA associação está entre as 72 entidades que assinaram documento encaminhado para a equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro, nesta semana, solicitando o fim do tabelamento. Mendes espera que o grupo possa levar essa demanda diretamente ao governo. “Há um ambiente em que a defesa do livre mercado sempre foi colocada em pauta pelo presidente [eleito] e pelo futuro ministro da economia, Paulo Guedes. A partir disso, temos um caminho para percorrer”, ponderou.

Conforme o diretor da Anec, a possibilidade de um “encavalamento” no escoamento das duas commodities preocupa, uma vez que o estoque de milho está elevado.

“Pode ser que a gente repita aquele episódio de quatro anos atrás, quando o escoamento dos dois grãos levou a enormes filas nos portos”, destaca. “A soja terá preço e condições favoráveis para continuarmos exportando e esse excedente de milho terá que ser escoado. Temos que fazer de tudo para que um produto não atrapalhe o outro.”

As projeções da Anec estão em linha com as perspectivas da INTL FCStone, que prevê o embarque de 79 milhões de toneladas de soja neste ano. “A expectativa para o ano que vem é de que as exportações continuem aquecidas, mas isso vai depender da continuidade da guerra comercial entre China e Estados Unidos”, ponderou a analista da consultoria, Ana Luiza Lodi.

Ela projeta que os embarques do grão encerrem o ano comercial – de fevereiro a janeiro – em 20 milhões de toneladas, queda de 10 milhões de toneladas ante o período anterior. “No ano que vem, se a safrinha for boa, há espaço para que o Brasil continue ampliando as exportações”, destaca a analista da FCStone. (Estadão)