A chegada da gripe aviária ao Brasil, mesmo que em locais distantes de granjas comerciais, já pressiona as ações de frigoríficos exportadores de carne de frango, com investidores temendo eventuais impactos sobre os embarques do produto, segundo analistas.
Ontem, um dia depois de o Ministério da Agricultura ter declarado emergência zoossanitária no país, devido a casos da doença em aves migratórias, a Marfrig liderou as quedas do Ibovespa. As ações ON da empresa caíram 5,18%. A BRF fechou com o terceiro maior declínio do índice – as ações ON recuaram 4,91%.
O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, disse que existe um receio no mercado financeiro quando o assunto envolve problemas sanitários. Entre fevereiro e março, as exportações brasileiras de carne bovina ao mercado chinês e a outros países foram suspensas em função de um caso atípico da doença “mal da vaca louca” no Pará.
“Agora, quando vemos essa notícia da gripe aviária, que já provocou desgastes grandes em outros lugares do mundo, surge um temor”, afirmou Cruz.
A BRF foi afetada por ser uma das maiores exportadoras globais de carne frango, disse o head de agronegócios da Criteria Investimentos, Rodrigo Brolo. A Marfrig, por sua vez, foi prejudicada por ser a controladora da BRF, com uma fatia de 33% na empresa de alimentos.
“A JBS mexeu pouco (nos preços das ações) porque a Seara só representa 10% do grupo”, acrescentou Brolo – a Seara é a unidade de aves e suínos da JBS no Brasil. As ações ON da JBS também terminaram o pregão em baixa, mas o recuo foi mais comedido: a queda foi de 0,93%, para R$ 16,98. Procuradas, BRF e JBS não quiseram se manifestar. A Marfrig não respondeu o pedido de comentários.
De acordo com o Ministério da Agricultura, até a última segunda-feira, foram detectados oito casos de influenza aviária de alta patogenicidade (H5N1) em aves silvestres. Sete deles foram no Espírito Santo e um no Estado do Rio de Janeiro.
Não há mudanças no status brasileiro de livre da doença perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), por não haver registro na produção comercial – o que permite que as exportações de frango e o consumo interno sigam normalmente.
Ainda assim, o estrategista da RB Investimentos avalia que a confirmação de casos no país faz com que uma desconfiança paire sobre o mercado. “Não vale a pena ficar exposto a um setor cujas ações podem cair”, disse.
Além disso, Cruz destacou que a próxima divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) sobre o primeiro trimestre deve mostrar um desempenho positivo para o agronegócio, o que chama a atenção dos investidores para outras companhias do setor agrícola, que podem ser alternativas a quem optar por sair dos papéis de frigoríficos.
Rafael Passos, analista-sócio da Ajax Asset, lembrou que o problema sanitário ocorre justamente no momento em que as exportações estavam melhorando em volume e as margens das indústrias sinalizavam recomposição, beneficiadas pela queda nos preços das commodities utilizadas na ração, como o milho e farelo de soja. “É uma pena, porque nos últimos dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) a gente vinha observando um crescimento”, disse ele.
Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), feitos com base em informações do governo federal, mostraram que as exportações de frango (in natura e processado) aumentaram 12,1% no primeiro quadrimestre de 2023 em relação ao intervalo entre janeiro e abril do ano passado, com 1,749 milhão de toneladas.
A ausência de gripe aviária no país era um dos fatores que vinham contribuindo para que as vendas externas da carne de frango produzida no Brasil ganhassem mercado sobre concorrentes atingidos pela doença, que precisaram fazer abates em massa.
As importações chinesas de carne de frango brasileira, por exemplo, cresceram 33% no primeiro quadrimestre, para 262,8 mil toneladas. Outros mercados importantes como Coreia do Sul, México e Cingapura, também ampliaram suas compras.
(Valor Econômico)