Os mercados de grãos ainda enfrentam altos níveis de incerteza nesta última semana de vigência do acordo que permitiu o envio de grãos ucranianos pelo Mar Negro. Negociações seguem em andamento entre Ucrânia, Rússia, Turquia e as Nações Unidas. Na sexta-feira, as quatro partes se reuniram em Genebra para mais discussões sobre a iniciativa. O encontro ocorreu após a Rússia ter se retirado temporariamente do acordo, com diversas ameaças.
De acordo com analistas, independentemente do rumo das negociações, os mercados de grãos ainda devem ver grandes níveis de incerteza no curto prazo. Segundo a estrategista de fundos de investimento de commodities da Invesco, Kathy Kriskey, o presidente russo, Vladimir Putin, está usando o acordo como tática de negociação. “No dia seguinte ao fechamento do acorodo, ele [Putin] bombardeou Odessa”, lembrou, acrescentando que a suspensão temporária da Rússia de sua participação criou um “efeito chicote nos mercados, que arrepiou os corações dos comerciantes e pessoas que observam as negociações relacionadas a alimentos”.
“Parece que a Rússia usará esta oportunidade para impulsionar suas próprias exportações de grãos e fertilizantes – com uma safra expressiva de trigo e preços competitivos [em comparação com outras fontes]”, afirmou a analista da Agricultura e Horticultura do Reino Unido, Megan Hesketh, em um e-mail.
Grande parte da retórica da Rússia nas últimas semanas tem sido sobre querer garantir a movimentação de grãos para os países mais pobres em detrimento da União Europeia, disse Hesketh. “Quando você olha para os números de cereais e oleaginosas que saem da Ucrânia de navio desde agosto, uma grande porcentagem deles está indo para a União Europeia ou para a Europa em geral”, afirmou, sendo a maior parte das exportações de trigo e milho.
A Rússia deve ter uma safra grande de trigo – estimativas da consultoria agrícola SovEcon são de mais de 100 milhões de toneladas. A previsão é de uma exportação de 43,7 milhões de toneladas da safra 2022/23, com o ritmo acelerando em outubro. Essa previsão pode subir para 50 milhões de toneladas, mas o ritmo lento das exportações no início da temporada, bem como os agricultores que optaram por vender mais girassol e milho, provavelmente inibirá isso, disse a SovEcon em nota.