Após uma temporada marcada por fortes chuvas e guerras comerciais no ano passado, os agricultores dos Estados Unidos esperavam um cenário mais positivo em 2020. Em vez disso, a situação piorou para muitos, já que os preços continuam baixos. Apesar da tempestade de vento que causou danos em parte do Meio-Oeste na semana passada e das condições de seca em áreas isoladas, uma safra abundante de milho e soja ainda é esperada este ano.

“No geral, o mercado parece estar chegando à conclusão de que ainda haverá um excesso de oferta de milho nos EUA e no mundo”, disse o analista Tomm Pfitzenmaier, da Summit Commodity Brokerage.

Essa percepção foi reforçada na sexta-feira, quando a publicação Pro Farmer, após ter percorrido lavouras em sete Estados na semana passada, estimou o rendimento nacional do milho em 11,14 toneladas por hectare e o da soja, em 3,53 toneladas por hectare. Os números são menores do que as estimativas mais recentes do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), mas maiores do que os do ano passado.

Para muitos agricultores dos EUA, a perspectiva de os preços dos grãos permanecerem baixos é insustentável. “É quase uma luta diária decidir o que fazer no próximo ano”, disse o presidente da União dos Produtores de Dakota do Sul, Doug Sombke, que cultiva cerca de 1.200 hectares de milho e soja.

Sombke diz que a empresa local de armazenagem de grãos está pagando US$ 2,87 por bushel de milho. Isso é quase US$ 1 a menos do que o necessário para cobrir os custos de produção. No caso da soja, a companhia está disposta a pagar cerca de US$ 8,50 por bushel.

Os preços do milho e da soja não aumentaram desde o início do ano, quando a assinatura da primeira fase do acordo comercial entre EUA e China deu aos agricultores esperança de que a demanda chinesa impulsionaria as cotações. Em vez disso, os futuros de milho na Bolsa de Chicago caíram 14% desde o início do ano, enquanto o trigo caiu mais de 8% e a soja, mais de 7%.

As importações chinesas de milho, soja e trigo dos EUA estão 144% maiores do que nesta época do ano passado, de acordo com dados do Serviço Agrícola para o Exterior (FAS) do USDA. Mas o início da pandemia de coronavírus nos EUA, em março, prejudicou a demanda doméstica por grãos, já que restaurantes e outras instituições em todo o país fecharam.

As falências estão altas nas áreas rurais. Cerca de 580 agricultores entraram com pedido de proteção contra falência durante o ano encerrado em 30 de junho, de acordo com dados federais. Dados mais recentes do Federal Reserve de Kansas City mostram que os pagamentos de empréstimos agrícolas devem cair acentuadamente nos próximos três meses. A maior parte das falências relatadas são de pequenas fazendas familiares, e grandes empresas do setor estão aproveitando a oportunidade para comprar terras de produtores em dificuldades, disse o CEO da AgAmerica Lending, Brian Philpot.

Embora o clima no Meio-Oeste tenha sido mais favorável a uma safra robusta, a temporada de cultivo deste ano não foi isenta de problemas climáticos. No início deste mês, uma forte tempestade com ventos de mais de 160 quilômetros por hora varreu grande parte do cinturão do milho, causando danos generalizados a propriedades e plantações.

Os agricultores afetados pela tempestade agora têm pressa para colher e armazenar o milho antes que ele apodreça. “Eles tinham uma safra muito boa antes da tempestade de vento”, disse Brian Grete, editor da Pro Farmer. “Agora, é uma corrida para ver o quanto eles conseguem colocar no silo a tempo.”

Quando os preços de grãos estão baixos, os agricultores geralmente tentam cultivar safras maiores para vender mais e cobrir os custos. “Se você tem preços de commodities baixos e rendimentos baixos, é extremamente difícil”, disse Richard Guebert Jr., presidente do Escritório Agrícola de Illinois. (AE)