Turbinada no Bolsa Família, garantia de mais repasse aos estados e municípios, diálogos com centrais sindicais: essas são algumas das investidas do ministro da Economia, Paulo Guedes, para conseguir amaciar o caminho para aprovar a reforma da Previdência.

Ainda que o texto final da proposta de reforma não tenha saído do forno, não são poucas as frentes em que Guedes atua para ganhar apoio. Entre os focos para “amansar” a opinião pública – e de quebra garantir um apoio mais aberto dos governadores – estão o fortalecimento dos programas sociais. Segundo informações do Planalto, a medida seria possivel por meio de um maior repasse federal para que estados e municípios possam usar o recurso de modo a melhorar serviços prestados à população.

O argumento de Guedes seria que, ao invés de repassar incentivos à setores da economia por meio de desonerações, uma política de estimulo ao consumo teria um efeito mais efetivo para recuperar empregos e retomar a atividade econômica. “Se confirmada, esse plano é bastante hábil do ponto de vista de popularidade. Isso retira a pecha de liberal e inimigo do povo brasileiro que tentam ligar ao governo Bolsonaro”, avalia o cientista político Emerson Cruz.

Essa tática, segundo ele, é comum em países que precisam fazer arrochos fiscais. “A tática é usada em regimes autoritários e democráticos e é uma solução para amenizar o impacto na opinião pública, já que o consumo é imediato, e a Previdência, nesse caso, um problema que o cidadão só vai enfrentar no longo prazo”, diz.

A medida também seria bem visto por deputados, senadores, governadores e prefeitos, que poderiam usar o maior repasse de recursos para amenizar qualquer impressão ruim de ter apoiado uma medida impopular do presidente.

De imediato, espera-se para os próximos dias a oficialização de uma promessa de campanha de Jair Bolsonaro, o pagamento de um 13º para os beneficiários do Bolsa Família. Com uma estimativa de impacto de R$ 2 bilhões ao ano aos cofres públicos, Guedes já sinalizou que com os ajustes da Previdência, esse valor extra não comprometeria as contas públicas da União.

Centrais sindicais

Acertando os parâmetros com os políticos e ganhando popularidade com apoio de políticas sociais, o próximo passo da equipe econômica de Guedes será se aproximar também das centrais sindicais. Ontem o secretário especial de Previdência Social, Rogério Marinho disse que o governo avalia realizar um seminário para discutir a reforma da Previdência com centrais sindicais após a divulgação do texto.

A ideia surgiu após encontro dele na manhã de ontem com representantes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), do Sindicato Nacional de Aposentados e Pensionistas e Idosos (Sindiapi) e a Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap). O objetivo do encontro, que ocorreu no Ministério da Casa Civil, era discutir aspectos da Medida Provisória antifraude na concessão de benefícios do INSS.

Também em Brasília, ontem o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, encontrou o vice-presidente da República, Hamilton Mourão.

De acordo com Freitas, o teor da conversa era entender os parâmetros da reforma da Previdência. “Viemos perguntar qual é, de fato, a proposta. Toda vez tem uma notícia diferente. Se a proposta é de capitalização, não temos concordância. E, se é essa a proposta, tem que ser levada para ser discutida com a sociedade”. De acordo com ele, a proposta de capitalização retira direitos, e a CUT deve convocar no próximo dia 20 uma assembleia nacional para organizar os trabalhadores para a “resistência” da reforma da Previdência.