Um respiro no cenário inflacionário do Brasil e a expectativa de uma certa acomodação na taxa básica de juros (Selic) são indicações de que o Plano Safra conseguirá atender melhor os produtores em 2022/23, sem a escassez de recursos vista no ciclo anterior, avaliou o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Soria Bastos.
“Tivemos aumento de inflação e um ‘chute’ da taxa Selic, ela cresceu muito rápido e tínhamos um teto de gastos”, afirmou Bastos, para justificar o período em que contratações de crédito pelo programa de 2021/22 foram suspensas.
Após participação em evento promovido pela associação de defensivos agrícolas Andav nesta quarta-feira, ele disse a jornalistas que a diferença entre a taxa básica de juros e o que estava acordado no Plano Safra “é o tamanho da conta” que pesou para o governo em 2021/22.
“Então, esse foi o grande problema do primeiro semestre. A gente não espera que isso venha a acontecer agora.”
A pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central nesta semana mostrou que o mercado vem reduzindo a perspectiva de alta da inflação em 2022, mas ainda vê a taxa em torno de 7%, enquanto projeta uma certa estabilidade da Selic, com o primeiro corte na taxa básica em junho de 2023.
O Plano Safra 2022/23 projeta ofertar um recorde de 340,88 bilhões de reais em financiamentos para produtores brasileiros, alta de 36% ante a temporada anterior, embora também com juros acima dos programa anterior.
Sobre eventuais remanejamentos de recursos entre as linhas do Plano Safra, ele disse que isso pode acontecer.
“Algumas linhas as vezes ficam mais represadas que outras… Então existem as janelas de remanejamento que acontecem naturalmente”, acrescentou.
Segundo o secretário, a suspensão nas contratações de financiamento ocorrida no início deste ano gerou uma demanda represada por crédito, que está vindo com força para o Plano Safra de 2022/23.
Os custos de produção para a nova temporada também estão mais elevados, o que aumenta a necessidade de recursos.
No entanto, Bastos ressaltou que o programa foi pensado com foco nos pequenos e médios produtores, pois a necessidade real de recursos do setor agrícola representa mais que o dobro do valor do plano.
“A necessidade de crédito da agricultura brasileira é de 800 bilhões de reais, o tamanho do Plano Safra é 340 bilhões. Se for pensar na parte de custeio são 240 bilhões, não tem dinheiro para todo mundo, por isso ele foi focado em pequenos e médios. O restante não tem jeito, tem que ir a mercado”, disse ele.
Com isso, o secretário disse que o Ministério da Agricultura está fazendo um trabalho para aproximar as instituições financeiras privadas, fomentando a tomada de crédito nesta ponta também.
Um exemplo é o avanço da Cédula do Produto Rural (CPR) que, segundo Bastos, tem emissões aumentando mês após mês.
“Isso começa a ajudar a gente a monitorar o tamanho do mercado e como é que ele está, como o mercado financeiro está olhando para o setor e o apetite do setor em usar desses instrumentos para se financiar”, afirmou.
“E o que a gente está vendo é isso, É um ‘boom’ de LCA, boom de CDCA, os títulos do agro estão sendo alavancados por esse processo todo”, completou.
(Reuters)