Após o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) elevar as taxas de juros mais uma vez e sinalizar que o ano deve terminar com um total de quatro altas, analistas ouvidos pelo Broadcast garantiram que a projeção para a Selic ainda é de manutenção no nível de 6,5% ao ano na reunião de junho. A divergência é sobre se a pressão sobre o dólar vai ou não forçar o Banco Central (BC) a antecipar o início do ciclo de aperto monetário.
O comunicado de hoje praticamente pôs fim a um debate entre analistas de mercado em relação a quantos aumentos de juros seriam adotados ao longo de 2018. Uma parte apostava em três, enquanto outra parte falava em quatro. O aumento adotado hoje foi de 0,25 ponto porcentual, para a faixa entre 1,75% e 2,0% ao ano.
Para o ano que vem, a sinalização dada pelo Fed é de mais três altas de juros. Uma mudança nessa indicação, no entanto, é questão de tempo, afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, que acredita que o BC dos EUA em algum momento vai passar a sinalizar quatro aumentos, em razão do superaquecimento da economia norte-americana. “O viés está dado. As palavras do comunicado foram muito bem escolhidas, como o crescimento sólido e um mercado de trabalho bastante sólido”, comentou.
Para os analistas, a decisão de hoje já estava precificada e, portanto, não altera a expectativa para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para os dias 19 e 20 de junho, apesar da pressão que o avanço dos juros nos EUA impõe sobre a cotação do dólar. Todos os entrevistados continuam apostando em manutenção da Selic em 6,5% ano.
O Banco Central (BC) tem limitado a pressão cambial por meio dos leilões de swap e dispõe ainda de outros instrumentos mais eficazes do que alta de juros, ressalta o economista Sílvio Campos Neto, da consultoria Tendências. “Não há motivo para elevar a Selic pois a pressão no dólar é insuficiente para requerer uma mudança”, disse.
Uma mostra dessa ação do BC foi vista nesta tarde, quando a autoridade monetária realizou um terceiro leilão de swap, colocando mais US$ 1 bilhão em dinheiro “novo” no mercado, com o objetivo de conter a alta da moeda para a casa dos R$ 3,73 após a decisão do Fed. A atuação foi bem sucedida e a divisa passou a cair. Somando todos os leilões de hoje, houve injeção de US$ 4,5 bilhões.
Além disso, há uma percepção de que o principal fator de pressão sobre os ativos no Brasil não é externo, mas sim interno, com a incerteza em torno da eleição. “Estamos a quatro meses da eleição e ainda não sabemos quem é candidato”, afirmou a economista Simone Pasianotto, da Reag Investimentos.
A divergência está mais relacionada ao médio prazo para a Selic. Enquanto alguns analistas acreditam que a pressão do dólar sobre a inflação vai forçar o BC a antecipar o aperto monetário, com possibilidade de um aumento dos juros no fim deste ano, outros preferem enfatizar a comunicação dada até o momento pela instituição, de que a política monetária não será atrelada ao câmbio.
O economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira, por exemplo, afirma que a Selic deve subir já em setembro deste ano. “Imaginava um câmbio sob controle, mas o cenário já havia mudado depois da greve dos caminhoneiros e das últimas pesquisas eleitorais, que indicaram um processo eleitoral não amigável”, disse o analista, para quem a pressão cambial, além de levar a mais inflação, deve mexer com as expectativas.
Já Simone, da Reag, lembra que o Copom tem sinalizado que não pretende vincular política monetária ao cambio. “As últimas declarações indicam que o BC está disposto a queimar o estoque de swap”, disse a economista, para quem a Selic só deve voltar a subir entre julho e setembro de 2019.