Por Gustavo Machado – Eng. Agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
A semana passada foi de movimentação mista para as cotações. Se por um lado a maior disponibilidade de animais em São Paulo empurrou para baixo o equilíbrio dos preços, por outro lado, as escalas curtas de abate pelo interior do país ofereceram suporte às cotações.
No mercado futuro, o período foi marcado por cotações mais baixas. Após testar preços mais altos, a bolsa corrigiu e devolveu os ganhos, voltando ao patamar da semana anterior. As cotações para 2019 ficam balizadas ao redor de R$ 149,50/@, mas se recuperam parcialmente nesta manhã.
Já no atacado, a chegada de novembro trouxe valorização. Após as revisões para baixo no final de outubro, o boi casado subiu 1,68% nos últimos 7 dias.
O destaque para o comércio internacional fica por conta da tensão entre o Brasil e o mercado árabe – importante consumidor da carne brasileira, bem como novos casos de peste suína africana na China, o que pode impulsionar o consumo de outras proteínas no gigante asiático.
Por fim, a expectativa para a semana atual fica para cotações firmes no interior do país, mas fragilmente abaladas pela chegada da segunda quinzena. Em SP a queda de braço deve continuar entre produtores e as pequenas indústrias. Já os frigoríficos maiores exibem escalas mais alongadas que deve manter os preços pressionados para baixo nas praças paulistas.
- Na tela da B3
Na última, os animais a termo e saídos de confinamento combinados ao final do período eleitoral pressionaram para baixo a referência paulista, contagiando as cotações futuras, que devolveram praticamente todos os ganhos do período anterior.
O vencimento para dez/18 registou o maior recuo dos últimos 7 dias, passando de R$ 149,40 para R$ 148,20/@ (diferença negativa de 0,80% ou R$ 1,20/@). Hoje há recuperação.
A acomodação em bolsa encareceu os seguros de preços devido ao aumento da volatilidade.
Além disso, alguns contratos para 2019 seguem com baixa liquidez, mas balizados ao redor de R$ 149,50/@ – Entretanto, devem passar por ajustes na medida em que se aproximam seus vencimentos.
No momento, há oportunidades via mercado futuro para o início do próximo ano, precificadas em até R$ 3,25/@ acima do praticado atualmente nos balcões.
Além disso, há boas oportunidades de negócio em se considerando os atuais patamares do diferencial de base em determinadas praças. Discorreremos mais sobre isso a seguir.
- Enquanto isso, no atacado…
O boi casado subiu 1,68% nos últimos 7 dias, a média balizadora em SP de R$ 9,95/kg retornou aos patamares registrados no final de outubro.
Isso levou o spread carne/arroba a trabalhar em campo positivo por todo o início de novembro, com média de 2,2%. É a maior proporção deste 2º semestre, atrás apenas do desempenho registrado em junho, quando o mercado se distorceu em face à greve dos caminhoneiros.
Entretanto, considerando as programações de abates alongadas em SP, a oferta de carne para o atacado pode se ampliar e alterar o equilíbrio de preços para baixo, estreitando o spread na segunda metade do mês. Ainda assim, deve continuar em patamares positivos e historicamente altos, possivelmente fechando 2018 em campo positivo pela segunda vez consecutiva na história desse mercado.
Por fim, as proteínas concorrentes também contaram com alta das cotações, mantendo a competição da carne bovina. O frango resfriado subiu 1,85% para R$ 4,13/kg e a carcaça especial suína tem parcial em R$ 5,90/kg (+ 3,60%).
- No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura referentes aos embarques dos 6 primeiros dias úteis de novembro/18 contabilizaram um volume total de 50,7 mil toneladas.
A média diária registrada foi de 8,4 mil toneladas, avanço de 36,7% em relação a outubro/2018 e de 46,3% em relação à média diária referente a novembro/2017.
Após setembro/18 ter somado volume recorde, com 150,66 toneladas, o mês de outubro teve um ritmo menos intenso, com 135,94 toneladas.
Se a média diária do volume exportado nos primeiros dias se repetir, projeta-se que em novembro serão embarcadas 160,47 mil toneladas (19 dias úteis).
O valor médio (parcial) recebido por tonelada de carne exportada em novembro é de US$ 4.020,5/t. Em outubro, o valor foi de US$ 3.896,9/t. Ainda assim, sobre comércio exterior, vale destacar o polêmico plano de transferir a embaixada brasileira de Israel para Jerusalém. De imediato, o anúncio causou o cancelamento da visita do ministro de Relações Exteriores ao Egito.
E teme-se que novas sanções sejam aplicadas no médio prazo, restringindo o acesso da carne brasileira aos países do mercado árabe.
Neste sentido, o Brasil se destaca como o principal exportador de carne Halal, com o mercado árabe respondendo por 35% das exportações de carne bovina – apenas o Egito é responsável por 21,50% do faturamento no acumulado até set/18 (sendo o 3º maior consumidor do produto brasileiro).
A expectativa fica para que as tensões sejam amenizadas.
- O destaque da semana:
Na última semana começou a se desenhar um cenário de aproximação dos diferenciais de base.
Com o prolongamento das escalas de abate em SP, o indicador paulista tende a ficar pressionado, enquanto nos outros estados as escalas mais curtas e menor disponibilidade de animais traz maior suporte às cotações.
O destaque fica para os preços em MG e no MS, regiões onde já se registra negociações nos mesmos patamares praticados em SP, com valores alcançando R$ 148,00/@ a prazo e para descontar impostos (equivalente a R$ 145,80/@ livre de Funrural).
E a aproximação entre os preços nas diferentes praças gera oportunidades de vendas.
- E o que está no radar…
Para a próxima semana novas acomodações nas praças paulistas poderão ocorrer, dado que as programações de abate já se alongam para além da metade de novembro.
Já os preços no interior no país devem continuar mais sustentados pela menor disponibilidade de bovinos terminados e a recuperação das pastagens, que tira a pressa do produtor em vender (além ainda, é claro, da dificuldade de se engordar animais a pasto). Com isso, os diferenciais de base devem seguir fortalecidos.
Os preços futuros devem continuar sustentados pelo advento do feriado.
Por fim, as exportações devem continuar aquecidas, possivelmente com ritmo maior do que o registrado em outubro.
Um abraço e até a próxima semana!