Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
Pela 4ª semana consecutiva o boi gordo registrou valorização no seu preço médio. A cotação que na semana retrasada fechou em média à R$ 215,99/@, nesta última semana ficou em R$ 219,71/@. Durante a semana notamos que as indústrias frigoríficas tentaram ensaiar uma pressão negativa sobre os preços, em virtude das boas compras que fizeram durante a última semana de junho/20, alongando assim suas escalas. No entanto, tal tentativa não obteve grande resultado, já que as cotações continuaram a avançar até a sexta-feira, quando chegaram em uma média de R$ 220,95/@ em São Paulo.
O movimento de desvalorização conseguiu imprimir um ritmo no mercado futuro do boi gordo, já que depois de sete semanas de alta, a média semanal do preço do vencimento para outubro/20 fechou a semana com queda de 0,54%, estabelecendo-se em R$ 213,85/@. A pressão também veio de realização de lucros de players que estavam comprados, e com o abalo chinês, resolveram sair da posição.
Apesar do dólar continuar protagonista e muito volátil nesta semana, o noticiário internacional impactou as commodities nos EUA com dois relatórios. O primeiro, na terça-feira, divulgado pelo USDA, sobre a área plantada de soja e milho nos EUA, que veio com números bem menores do que o mercado esperava (a área do cereal foi cortada em 2 milhões de hectares), fazendo com que a cotação da oleaginosa avançasse mais de 3,5% na semana e o milho valorizasse incríveis 8% no vencimento julho/20.
E o segundo relatório dos EUA, sobre o nível de desemprego no país, que recuou para 11,1% (frente à 13,3% no mês de maio/20), queda maior que a esperada pelo mercado. Com isso o petróleo WTI rompeu novamente a barreira dos US$ 40,00/barril, valorizando-se 5,4% na semana, voltando assim a flertar com os níveis pré-coronavírus de fevereiro/20.
1. Na tela da B3
Após várias semanas acompanhando o mercado físico, esta semana ficou marcada pelo descolamento entre as cotações do boi gordo no físico e no futuro. Enquanto as negociações de boi gordo registraram valorização na semana, os vencimentos futuros fecharam a semana em queda.
O contrato para outubro/20 encerrou a sexta-feira à R$ 211,60/@, caindo 1,90% no comparativo com a sexta-feira da semana retrasada e atingindo o menor valor dos últimos 20 dias. A pressão negativa se estendeu basicamente por todos os contratos futuros de boi gordo da B3, no entanto, como ressaltado anteriormente não foi consolidada no mercado físico.
Mesmo com o encerramento do vencimento junho/20, o volume de contratos futuros negociados seguiu crescendo no comparativo semanal, já são 15,41 mil contratos de boi gordo em abertos na B3, 80% a mais do que era visto há um mês atrás. Aos poucos, o mercado de negociações está voltando ao volume padrão de negócios pré-coronavirus.
O posicionamento dos players segue se “distanciando”, com a queda de braço entre PJs não-financeiras (frigoríficos) aumentando a posição vendida e já chegando a um resultado liquido de 8,30 mil contratos vendidos, enquanto que do outro lado da balança, as Pessoas Físicas, aumentaram a posição comprada, chegando a um saldo líquido de 8,57 mil contratos comprados. Aparentemente ainda estamos longe de um “fim” desta queda de braço.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Semana de queda nas cotações dos contratos futuros, redução no nível de volatidade, mas ainda acima da média histórica.
Desta forma, o mercado de opções, demonstrou um encarecimento das PUTs no comparativo com a semana passada. No entanto, as cotações dos futuros ainda circulam acima dos R$ 210,00/@, e as PUTs para quem tem entrega de animais programada para agosto/20, demonstram prêmios acessíveis para strikes acima de R$ 200,00/@.
A compra de uma PUT sintética segue no radar sendo a estratégia mais atraente, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção plausível, no entanto, vale a ressalva de que é necessário ter o fluxo de caixa preparado para esse tipo de operação. A execução da venda de parte da produção à R$ 215,00/@ na semana passada para o vencimento outubro/20 (como recomendamos na semana retrasada), já estaria garantindo uma margem de R$ 3,40/@ se comparado ao fechamento desta semana. Ainda assim, ressaltamos que o mercado físico ainda demonstra sustentação, com os indicadores atuais se posicionando do lado positivo da balança de preços, desta forma, o espaço para quedas é pequeno.
O mercado a termo segue no radar, mas há pouca atividade, devido as incertezas de produtores e frigoríficos sobre o 2º semestre, recomendamos atenção ao diferencial de base utilizado nos cálculos.
2.Enquanto isso, no atacado…
O atacado paulista de carne bovina iniciou a semana andando de lado, mas a maior procura por produtos bovinos entre a quinta e sexta-feira alavancaram as vendas. A ponta vendedora trabalha com estoques enxutos, o que auxilia na manutenção dos preços nos patamares atuais. A carcaça casada bovina encerrou a sexta-feira cotada a R$ 14,10/kg, entretanto, já são observados pequenos acréscimos entre R$0,10-0,20/kg.
Para o frango resfriado, o cenário foi de estabilidade de preços, as cotações permaneceram na faixa dos R$ 4,60/kg. A firmeza de preços se dá principalmente ao ajuste de produção nas granjas após as quedas bruscas observadas entre abril e maio.
A carcaça especial suína encerrou a sexta-feira em R$ 7,20/kg, assim como observado no frango, as indicações se mantiveram praticamente estáveis nos últimos sete dias. A oferta menor e as exportações em alta dão sustentação às cotações do produto.
No mercado de ovos, a pressão negativa pela baixa liquidez continua pressionando as cotações, que cotações encerram a primeira semana de julho em R$ 88,00 cx c/ 30 unid., acumulando uma baixa semanal de 5,38%.
3. No mercado externo
Os envios de carne bovina in natura iniciaram o mês com 17,73 mil toneladas exportadas e uma receita de US$ 71,37 milhões até o terceiro dia útil de julho.
A média diária ficou registrada em 5,90 mil toneladas/dia, desaceleração de 18,60% ante o mês anterior, porém, avanço de 2,05% em comparação a julho/19.
O preço foi tonelada também desacelerou quando comparado a junho, a média girou em torno de US$ 4.025,73– baixa de 6,35%. Se comparado ao mesmo período do ano passado, os preços ficaram praticamente estáveis, com uma alta pontual de 1,06%.
Caso o desempenho se mantenha, projeções preliminares apontam para um volume total embarcado entre 125 e 135 mil toneladas durante o mês julho.
Aos poucos, os embarques de milho começam a ganhar “corpo”, a média diária embarcada durante os três primeiros dias úteis de julho/20 cresceu 477% em comparação à média diária do mês de junho/20, ficando em 95,63 mil toneladas. Ainda assim, está bem atrás do que era registrado há um ano atrás, quando a média do mês de julho/19 ficou em 257,67 mil toneladas/dia.
A receita obtida com a venda de cereal também cresceu no comparativo mensal, saindo de uma média de US$2,75 milhões/dia em junho/20 para US$ 15,63 milhões/dia em julho/20, desta forma, em quatro dias úteis do atual mês a receita obtida com a venda de milho deve ultrapassar todo o valor de junho/20.
Para a soja, o início de mês continua a demonstrar o ritmo frenético de embarques da oleaginosa em 2020. A média diária de soja embarcada em julho/20 está 100% maior que em julho/19, com 648,09 mil toneladas enviada para fora do país por dia. Ainda assim, vale a ressalva, que aos poucos os embarques vão se reduzindo, em virtude de uma oferta cada vez mais escassa no mercado interno.
A receita obtida com as vendas de soja chegou a US$ 677,36 milhões nos três primeiros dias úteis deste mês, com uma média de US$ 225,79 milhões por dia. Mantendo a oleaginosa como o principal produto da balança comercial brasileira neste começo de mês.
4. A compra do pecuarista
Mesmo com o recuo do dólar, o poder de compra do pecuarista seguiu pressionado nesta semana. A divulgação do relatório de área do USDA, com uma área de 2 milhões de hectares a menos de milho e um aumento de pouco mais de 100 mil hectares na área de soja, mexeu com o mercado norte-americano de grãos, fazendo com que tanto o cereal quando a oleaginosa reagissem com forte valorização a essa divulgação.
No Brasil, a variação dos preços do milho seguiu Chicago, fechando a semana cotada próximo dos R$ 50,00/sc em Campinas/SP, variando positivamente 3,12%. A pressão não veio apenas dos EUA, já que a colheita que segue a passos lentos e com os vendedores priorizando entregas de contratos firmados anteriormente. Desta forma, o comprador que necessitava de cereal a pronta entrega, teve que aumentar o preço ofertado.
O cenário positivo do mercado físico do milho pressionou também as cotações na B3, o vencimento para setembro/20 subiu mais de 5% somente na última semana, projetando um valor de R$ 46,75/sc. Tal valorização, em conjunto com a queda nas cotações do boi gordo na B3, fez a relação de troca cair bem nesta semana.
De maneira geral, a compra de insumos para os pecuaristas deve continuar pressionada durante todo esse ano de 2020, o dólar não dá grande sinais de afago aos preços das commodities e o bezerro segue com uma oferta ainda restrita e com as suas cotações em ascensão, a criação de um suporte do boi gordo à R$ 220,00/@ é crucial para a rentabilidade positiva da pecuária de corte neste ano.
Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto