Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
 
Resumo da semana:
Aos poucos a cotação do boi gordo vai se assentando em um novo patamar, a última semana foi marcada pela estabilização dos preços físicos. A média semanal do boi gordo variou 0,63% para baixo, estabelecendo-se em R$ 203,65/@. A “força” da oferta de safra ainda não apareceu no mercado, e a cada semana que passa vai ficando mais distante. O Indea-MT disponibilizou os dados de abate em Mato Grosso no mês de maio/20, e, apesar do crescimento de 27% frente a abril/20, no comparativo anual a queda é de 12%.
Quem está dando as caras é a 2ª safra do milho brasileiro, após diversas incertezas quanto ao potencial produtivo, a colheita do cereal no país começou a avançar e com isso as 70 milhões de toneladas que o mercado aguarda começaram a pressionar as cotações do milho no mercado físico. Na semana passada, a desvalorização observada ultrapassou a casa dos 3,9% e em Campinas/SP, o cereal fechou a sexta-feira cotado próximo dos R$ 48,00/sc. Com grande parte do milho no Brasil entrando em maturação nos próximos dias, a tendência é que a colheita se intensifique e o “grosso” da produção entre no mercado até o fim de julho.
A reabertura econômica do mundo tem trazido consigo a valorização do petróleo, o WTI fechou a sexta-feira cotado à US$ 39,14/barril, alta de 11,7% na semana e o maior preço desde o dia 09/03/2020. A apreciação do petróleo puxa várias cadeias agrícolas junto, dentre eles: o etanol, o açúcar, algodão, e óleo de soja, que têm registrado melhora nas cotações devido a variação positiva do petróleo. Com a reunião da OPEP no radar e a economia dando sinais cada vez mais fortes de recuperação, o petróleo deve seguir sua curva de ascensão nos próximos dias.
O cenário econômico fechou a semana com chave de ouro, com a divulgação dos dados de desemprego nos EUA no mês de maio/20. A expectativa que se construía era da destruição de mais de 8 milhões de empregos, no entanto, o número divulgado foi de criação de 2,5 milhões de vagas. Os estímulos monetário europeus e norte-americanos soam como música para o mercado, e a recuperação mais rápida do que o esperado traz otimismo e a confiança de volta para o mercado mundial.
1. Na tela da B3
A última semana foi mais agitada na B3, o contrato para o final do mês de junho/20 encerrou a sexta-feira cotado à R$ 206,00/@, acumulando alta de 3,4% na semana. Tal valorização está seguindo o desempenho do mercado físico, já que as negociações de boi gordo na última semana rondaram a casa dos R$ 205,00/@.
O deságio do vencimento outubro/20 sobre o contrato atual seguiu durante esta semana, já que, apesar de ter se valorizado 1,71%, a cotação do BGIV20 fechou a sexta-feira em R$ 205,45/@, -0,27% na comparação com o vencimento junho/20. As incertezas continuam a desestimular os negócios na B3, já que o número de contratos em aberto nesta primeira semana de junho de 2020 está 39% menor que no mesmo período do ano passado.
Cabe ressaltar que no vencimento outubro/20 o IFR (Índice de Força Relativa) ainda não bateu 70, se aproximando dos 64 na última sexta-feira, com isso o mercado dá sinais de que o rali de alta que vem acontecendo nas últimas semanas, ainda não perdeu força, e que o rompimento da resistência dos R$ 205,00/sc reitera tal posição.
Os frigoríficos seguiram aumentando sua posição vendida na última semana, aumentando a exposição para 2,21 mil contratos, com isso a virada de posição se concretiza e neste momento pode-se dizer que os frigoríficos estão firmes na aposta de desvalorização da arroba. Por outro lado, as Pessoas Físicas aumentaram em 7 vezes sua posição comprada na B3, atingindo um resultado de 4.028 contratos comprados. A disputa segue acirrada no mercado futuro, mas vislumbrando fundamentos, a oferta reduzida deve continuar sustentando o boi gordo no Brasil.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
A volatilidade que pairava pelo mercado parece ter se dissipado, e com isso o travamento no mercado futuro começa a se tornar mais atrativo.
No mercado de opções, as PUTs com strike acima de R$ 195,00/@ para os vencimentos julho/20 e agosto/20 se mostram como uma boa opção de proteção para as entregas restantes de safra. O prêmio a se pagar por tais proteções recuaram com a diminuição da volatilidade, podendo ser interessante a compra desses, já que ainda há o risco da chegada de uma maior oferta proveniente da suplementação à pasto.
A PUT sintética segue no radar sendo a estratégia mais atraente para os contratos mais longínquos, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção plausível, no entanto, vale a ressalva de que é necessário ter o fluxo de caixa preparado para esse tipo de operação, e como o mercado continua ainda muito instável, desembolsos podem ser necessários. Acreditamos que ainda há espaço para os contratos se valorizarem até outubro, no entanto, a exposição a essa alta deve ser cautelosa.
Os frigoríficos continuaram ativos no mercado a termo nesta semana.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
Confirmando as expectativas, a carcaça casada bovina recebeu reajustes positivos no mercado atacadista paulista, ficando cotada na faixa dos R$ 13,40 a R$ 13,50/kg – alta semanal de 2,63%. A semana foi demandada, com vendas aquecidas e encerrando a sexta-feira (05/jun) com baixa disponibilidade, a reposição deve ocorrer na próxima semana.
O movimento deve continuar até a próxima semana, visto que o período sazonal é favorável para vendas com a chegada dos salários e o recebimento parcela do auxílio emergencial. Ainda não há indícios que apontem para ajustes negativos no curto prazo da carne bovina.
Com relação ao mercado de frango, o cenário é parecido, os preços reagiram positivamente devido ao bom volume de vendas, após trabalhar ajustado nas últimas semanas. O frango resfriado encerrou a sexta-feira cotado a R$ 3,73/kg, registrando valorização semanal de 3,47%, ainda assim, na comparação mensal permanece em campo negativo -1,73%.
Enquanto o mercado interno se recupera lentamente, os envios da proteína de aves para o exterior estão garantindo uma maior sustentação as cotações, já que o volume embarcado no mês de maio/20 foi o maior desde agosto/20. Cabe ressaltar, no entanto, que estamos vendendo ao menor preço em dólar dos últimos 11 anos, ou seja, estamos escoando para fora, mas nossa carne de aves está bem desvalorizada.
Para a carcaça especial suína o ambiente continua de firmeza, a oferta reduzida vem segurando os preços, esta encerrou a semana negociada a R$ 6,94/kg. Assim como no caso da proteína de aves, os envios de carne suína também foram excelentes, registrando a marca das 90,7 mil toneladas – maior volume já exportado na história. O vácuo na produção de proteína chinesa, tem feito a China se avolumar nas compras brasileiras, e isso deve permanecer durante este ano de 2020, já que o problema deles com a Peste Suína Africana está longe do fim.

 

3. No mercado externo
A primeira semana de junho/20 demonstrou um desempenho fraco nas exportações de carne bovina em comparação ao que o país estava registrando nos últimos meses. O volume médio diário embarcado nos primeiros cinco dias deste mês foi de 5,47 mil toneladas, uma queda de 29% frente a média diária do mês de maio/20. No comparativo com junho/19 a diminuição no volume médio embarcado está em 9%.
O câmbio continua a favorecer o preço médio da proteína bovina exportada nestes primeiros dias do mês, já que a receita cresceu 2% no comparativo anual, e, desta forma, o preço médio da tonelada embarcada aumentou 12%. Ainda assim, cabe a ressalva de que quando comparada aos números de maio/20, a média da receita diária está 30% menor em junho/20, chegando a US$ 23,74 milhões obtidas por dia com a venda de proteína animal.
Tais números ligam o sinal de alerta para a renegociação chinesa das compras que eles estavam fazendo nos últimos meses, um “respiro” das compras por parte do país asiático pode afetar diretamente os preços da carne bovina no mercado interno, já que o consumo no país está fragilizado. As nossas projeções indicam para um volume embarcado entre 110 e 120 mil toneladas em junho/20.
Com a colheita ainda engatinhando no país, o volume de milho exportado segue bem abaixo do registrado no mesmo período de 2019, nos cinco primeiros dias de junho/20 foram 38 mil toneladas de milho embarcadas para fora do país, uma queda de 88% se comparada aos cinco primeiros dias de junho/19 quando 314,48 mil toneladas de milho eram enviadas.
A média diária exportada ficou em 7,72 mil toneladas, enquanto que a receita média diária se estabeleceu em US$ 1,26 milhão, a diminuição da receita obtida com a exportação de milho também foi na ordem de 88%. Apesar do início de mês fraco, os envios tendem a se intensificar nas próximas semanas, com a colheita se intensificando e mais milho chegando aos portos brasileiros.
O apetite chinês arrefeceu, mas continua forte pela soja brasileira, já que a média diária de oleaginosa embarcada nos cinco primeiros dias de junho de 2020 ficou em 666,77 mil toneladas, 48% a mais do que a média diária de junho/19. Ainda assim, confirma-se o “respiro” chinês pois no comparativo com maio/20, registra-se uma diminuição de 14% na média diária exportada.
A receita obtida com as vendas de soja também avançou no comparativo anual, com uma média diária 43% maior em junho/20, foram US$ 217,41 milhões por dia nestes cinco dias de junho/20. Vale destacar que as exportações de farelo de soja brasileiro continuam reduzidas, devido a preferência pela compra do grão, o volume comprado já reduziu 16% no comparativo com junho/19, com pouco mais de 370,75 mil toneladas exportadas no acumulado desta primeira semana do mês.
4. A compra do pecuarista
O protagonismo positivo para o pecuarista desta semana continua sendo o milho, a colheita já chega nos 4% nos principais estados produtores, e com isso a cotação do cereal no mercado físico paulista rompe os R$ 48,00/sc, desvalorizando quase 4% na semana. A intensificação da colheita no Brasil deve trazer mais queda para o milho, não à toa o cereal na B3 recuou mais de 3% no vencimento para julho/20.
Aliado a valorização do boi gordo, a relação de troca boi gordo/milho tem crescido com força, a expectativa é que tenhamos já em junho/20, a melhor relação de troca do ano, na casa dos 4,40 sc/@. E com o movimento se repetindo na B3, os números indicam uma melhora dessa relação no 2º semestre do ano, com patamares parecidos aos de 2017.
A maior dificuldade deve continuar sendo o abastecimento da proteína para a ração animal, já que o farelo de soja continua valorizado, mesmo com a recente desvalorização do dólar. Além disso, a certo receio quanto a produção de DDG no centro-oeste brasileiro, já que os preços do etanol ainda não justificam um incremento produtivo nas usinas de processamento de milho. A busca por outras fontes proteicas deve se intensificar.
Na quinta-feira teremos divulgação do relatório de Oferta e Demanda do USDA, números maiores de área podem impactar a cotação da oleaginosa nos EUA, vale a atenção.
Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto
5.O destaque da semana:
O dólar encerrou a sexta-feira (05/jun) recuando abaixo dos R$ 5,00, em exatamente R$ 4,96, após ter encostado nos R$ 6,00 menos de 30 dias atrás. O cenário mais otimista pegou em cheio as cotações da moeda norte-americana em terras brasileiras. Fato confirmado é que o recuo diário foi de 2,66%, atingindo a menor cotação desde 13/mar (R$ 4,81).
As notícias da desaceleração da taxa de desemprego nos EUA, após atingirem em abril a máxima pós-Segunda Guerra, e também do maior incentivo do banco central europeu, acenderam uma luz dos próximos passos para a recuperação econômica da economia mundial, acalmando assim os players do mercado, aparentemente, os efeitos da pandemia sobre o ambiente econômico vai ficando para trás, e o mercado se firma para cima.
Apesar do cenário mais otimista, as tensões na política brasileira ainda ameaçam a estabilidade da moeda norte-americana. A volatilidade do dólar ainda é preocupante ante a moeda brasileira, estando acima dos 15% a mais de 60 dias, acima da média dos últimos três anos registrada em 14%. Você pode conferir mais sobre a volatilidade do dólar na nossa publicação especial aqui.
 

 

6. E o que está no radar?
A primeira semana de junho trouxe reajustes positivos às cotações da arroba, que andavam praticamente estáveis desde o início de março, orbitando a faixa dos R$ 195 a 200,00/@, estabelecendo um ágio de R$ 5,00 a R$ 10,00/@ a depender da região.
Os frigoríficos não viram outra opção senão aumentar as indicações para conseguir preencher as programações de abate. A retenção dos animais nos pastos vai se minguando, já que o suporte de matéria-verde está cada vez menor, no entanto, a menor participação das fêmeas no abate, sinaliza a virada do ciclo pecuário e o aperto mais forte na oferta de animais prontos.
Aliado a isso, as vendas indicaram melhora, o que deve se manter até pelo menos a próxima semana. Além disso, mesmo com o apetite chinês ligeiramente regulado, ainda está no radar que as compras continuem aquecidas, devido a deficiência em proteína animal que o país ainda demonstra. Neste cenário, é possível que no curtíssimo prazo os preços da arroba se mantenham aquecidas.