Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Resumo da semana:
O mercado do boi gordo apresentou maior firmeza na última semana, mesmo com uma pressão querendo se formar partindo das vendas do atacado. O boi gordo em São Paulo que iniciou a semana cotado a R$ 194,90/@ encerrou a última sexta-feira em R$ 203,55/@, alta de 4,44%. A animosidade foi acompanhada no mercado futuro e pelo bezerro no físico que registraram altas.
Vale o destaque para os números de confinamento divulgados pelo Imea em Mato Grosso. A redução de quase 30% na intenção de animais a serem confinados neste ano dá mais indicativos ao mercado de que a segunda metade de 2020 pode reservar uma oferta ainda mais encurtada de bovinos, os confinadores seguem preocupados com o preço do boi gordo e com o coronavírus.
No front econômico, o dólar continuou protagonista das principais notícias. Se na semana retrasada a divisa norte-americana dava sinais de que poderia romper os R$ 6,00, a última semana fechou com este se encaminhando para o valor de R$ 5,53, queda de 5,47%. Com esse recuo, a soja em Paranaguá acompanhou e registrou desvalorização de 5,17%, ficando abaixo dos R$ 110,00/sc, oportunidade que se abre para quem necessitava adquirir farelo de soja.
O tão esperado vídeo sobre a reunião ministerial foi divulgado na última sexta-feira e foi bem recebido pelo mercado, que havia precificado ambiente de maior instabilidade diante da incerteza do que poderia vir a público. Com a falta de novidades relevantes, o dólar registrou leve queda após a divulgação.
1. Na tela da B3
Tivemos uma última semana animada na B3, com todos os vencimentos registrando valorizações e rompendo a barreira dos R$ 200,00/@. O contrato para maio/20, que irá se finalizar nesta semana, buscou os R$ 203,65/@ valor bem próximo ao preço físico da sexta-feira, R$ 203,55/@. Com isso, a crise causada pelo coronavirus dá sinais de que está próxima a uma acomodação, já que as cotações futuras voltaram ao patamar de 75 dias atrás.
O vencimento para outubro/20 voltou a fechar um dia acima dos R$ 200,00/@ após 69 dias sem romper esta barreira, batendo R$ 204,65/@ no encerramento de sexta-feira, alta de 2,53% frente aos valores da semana retrasada. Ainda assim, os valores pré-coronavirus ainda não foram retomados (R$ 210,00/@), ou seja, ainda há espaço para correções.
Apesar das movimentações positivas, o número de contratos de boi gordo em aberto na B3 se movimentou pouco, fechando a sexta-feira com pouco mais de 11,9 mil contratos. A movimentação a se destacar nesta semana foi o posicionamento das PJ não financeiras (frigoríficos), que reduziram a posição comprada em mais de 14% e aumentaram a posição vendida em 19%, ou seja, uma queda de 33% no tamanho da posição “de alta” que tinham na semana retrasada.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Com o futuro operando acima dos R$ 200,00/@, o travamento de algumas opções conservadoras já se apresenta plausível, mas ainda assim a volatilidade pesa sobre os prêmios a serem pagos em opções. O termo voltou a ser uma ferramenta disponível.
No mercado de opções, as PUTs com strike acima de R$ 180,00/@ para o vencimento outubro/20 voltaram a entrar no radar com prêmios mais acessíveis, fato que não ocorria há mais de dois meses. Apesar de distante, há de se levar em conta que o nível atual de incerteza projeta boa volatilidade ao mercado futuro de boi gordo, o que encarece os prêmios das opções e força os strikes da PUT para baixo. Entretanto, a resiliência do mercado gradualmente devolve competitividade ao mercado de opções. A PUT sintética continua no radar sendo a estratégia mais interessante, especialmente se realizada em combinação com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Como observado, os futuros continuaram o movimento de valorização na última semana, rompida a resistência dos R$ 200,00/@, com maior intensidade principalmente para os contratos para a entressafra, com sinais de que será possível alongar ainda mais a perna de alta, corrigindo os spreads que estavam praticamente zerados. Assumir o posicionamento vendido nos contratos mais longos ainda pode ser visto como um movimento precipitado, já que o mercado dá sinais de que a valorização continuará.
Os frigoríficos continuam ativos no mercado a termo, principalmente para o último quadrimestre de 2020, acompanhar o diferencial de base na hora do fechamento é primordial, e dependendo das condições ofertadas iniciar a venda de pequenos lotes se mostra como um estratégia mais conservadora e segura.
2. Enquanto isso, no atacado…
A última semana foi marcada por lentidão. O anúncio do “feriadão” desestabilizou completamente o mercado atacadista paulista. O clima que pairou foi de total incerteza, com pedidos cancelados ou adiados para semanas posteriores, inclusive para carregamentos que já estavam em trânsito. Os estoques excedentes foram transferidos para outras regiões do Brasil, que fazem ofertas de menores preços na hora da compra. Neste cenário, a carcaça casada bovina encerrou a terceira semana de maio cotada entre R$ 12,60 e 12,80/kg.
Vale a pena ressaltar que os frigoríficos menores, que atendem majoritariamente o mercado interno, se afastaram das compras de boiada para abate, visto que os estoques aparentam estar mais do que abastecidos.
Dentre as outras proteínas animais, o destaque vai para o suíno. Já que a cotação da carcaça suína ainda não encerrou seu movimento de recuperação nas cotações e segue em alta, a carcaça suína especial fechou a sexta-feira em R$ 6,95/kg. A variação positiva no comparativo semanal foi de 1,46% e no mensal de 19,33%. A proteína suína tem encontrado sustentação no mercado interno e externo, e com isso tem conseguido melhores preços gradualmente. No entanto, os patamares pré-coronavirus ainda não foram alcançados e este será o real teste para os preços quando o mercado voltar a se ajustar.
Frango e ovos seguiram caminhos parecidos nesta última semana, registrando quedas de 3% no comparativo semanal. No entanto, enquanto a cotação do ovo se estabiliza próximo aos R$ 100,00/cx, valor 34% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, o frango derrapa e não consegue imprimir uma forte valorização, fechando a semana cotado a R$ 3,91/kg, a fragilidade do mercado de atacado paulista dificulta o escoamento do frango.