Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Com o dólar recuando 4,53% no comparativo entre a sexta-feira da semana passada (03/04/2020) e a última quinta-feira (09/04/2020), houve queda no mercado físico das commodities de -1,30% para o boi gordo, -3,56% para o milho -1,39% para a soja. Ao mesmo tempo, com base na evolução geral de novos casos, investidores começam a enxergar o “fundo do poço” da crise do coronavírus, e com isso, a busca por maior rentabilidade em negócios está afetando o dólar.

A habilitação de 15 plantas frigoríficas de bovinos para envios ao Egito trouxe boas notícias ao mercado de carne bovina brasileira, no entanto, vale a ressalva de que isso traz mais competitividade ao mercado brasileiro, mas não necessariamente resulta em aumento no volume exportado. Desta forma, a atenção as vendas internas devem permanecer para que seja avaliado o desempenho da atividade.

No caso do cereal brasileiro, ainda pesa o fato de que a safra de verão está finalizando sua colheita no Brasil e assim uma maior disponibilidade de milho é notada nesse período, além disso as estimativas revisadas de 2ª safra apontam volumes em crescimento, com a Conab estimando mais de 75 milhões de toneladas, crescimento de 3,1% frente a safra 18/19. A soja brasileira segue apoiada na forte demanda chinesa, e apesar da desvalorização do dólar, os negócios à R$ 100,00/sc pelo indicador Cepea, ainda são factíveis.

 

  1. Na tela da B3

Com uma forte volatilidade presente no mercado futuro, os negócios de boi gordo na B3 voltaram a registrar valorização na última semana. Os ajustes foram justos, mas seguem em linha com a perspectiva de uma redução da demanda interna.

O contrato para maio/20 encerrou a semana cotado à R$ 182,20/@, valorizando 1,79% frente ao fechamento da semana anterior. Ainda assim, este valor representa uma queda de R$ 15,85/@ frente aos preços atuais do mercado físico. A visão de esgotamento das pastagens com a chegada do período seco, tem movimentado o mercado para baixo.

Para o contrato outubro/20 a valorização na comparação com a semana anterior foi maior, cerca de 2,47%, com este encerrando a semana em R$ 186,50/@, neste caso, o mercado ainda busca entender como o comportamento da demanda interna será no 2º semestre deste ano.

 

  1. Enquanto isso, no atacado…

O consumo doméstico de carne bovina continua patinando, acentuado pelo aumento do desemprego e queda da renda per capita, aumentando assim o consumo por alternativas mais baratas, como é o caso do frango e ovos. Além disso, a Semana Santa fortalece a saída de pescados e carne de aves.

No atacado paulista, os estoques são pequenos e cortes de segunda são os mais procurados. A carcaça casada bovina se mantém estável na faixa dos R$ 12,90/kg.

As cotações do frango resfriado e da carcaça especial suína recuaram na última semana, a demanda enfraquecida também atinge essas proteínas. No caso do frango, os preços fecharam a última semana em R$ 4,15/kg – desaceleração de 4,05%, no acumulado mensal a queda é de 5,15%. Segundo o Cepea, o produto vem perdendo espaço para carne suína, mas   continua à frente da carne bovina no momento de escolha do consumidor.

Já a carcaça especial suína, encerrou a semana em R$ 6,84/kg – baixa de 7,51% nos últimos sete dias e queda de 21,12% ante o mesmo período do mês anterior.

Segundo as cotações levantadas pelo CEPEA, o spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo) continuou em campo positivo, encerrando a segunda semana de abril em 1,71%.

 

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 7 (sete) primeiros dias úteis de abril/20 contabilizaram um volume total de 41,92 mil toneladas e uma receita de US$ 185 milhões.

A média diária registrada ficou em 6 mil toneladas – avanço de 34,23% ante a primeira semana do mês e também alta de 11,30% em comparação ao mesmo período do ano passado. O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.419,32, aumento de 30,15% quando comparado com o valor médio de abril/19.

Projeções preliminares deste mês apontam para 115 e 120 mil toneladas enviadas até o final de abril, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês.

Exportações de soja brasileira seguem se intensificando, até a última quinta-feira, dia 09/04/2020, o total enviado no mês de abril/20 chegou a 6,12 milhões de toneladas, com uma média de envio diário de 875,21 mil toneladas. Os envios diários aumentaram 2,91% em comparação com a média da semana interior. O valor da tonelada da oleaginosa está saindo por US$ 334,95.

No caso do milho, a oferta restrita ainda permeia o mercado do cereal, apesar de ter registrado crescimento de 21,32% nos envios diários no comparativo semanal, o volume total exportado é 97,88% menor que o registrado em abr/19. Foram encaminhadas 2,4 mil toneladas de milho nos primeiros sete dias úteis de abril/20, a um preço de US$ 494,32/t.

 

  1. Grãos e o seu poder de compra

A entrada de milho no mercado, devido a quase finalização da colheita da 1ª safra no Brasil, afetou o preço do cereal no Brasil, que recuou 3,56% nesta semana. Voltando ao patamar de R$ 56,41/sc, menor valor registrado desde o dia 11/03/2020.

A divulgação da Conab de uma nova estimativa para a 2ª safra brasileira, com números ainda maiores afetou o mercado futuro, melhorando a relação de troca futura entre o boi gordo/milho no comparativo semanal. A entidade projeta cerca de 75,4 milhões de toneladas para a safrinha no Brasil e consequentemente estoque finais um pouco maior que o estimado em mar/20, em torno de 9,32 milhões de toneladas. Apesar do aumento, este ainda é o menor estoque final desde a safra 2015/16. Fica no radar o comportamento da demanda nas indústrias de etanol de milho.

A soja brasileira viu suas cotações se estagnarem nos R$ 100,00/sc essa semana em Paranaguá, já que apesar da recuperação nas cotações da CBOT, o dólar puxou o valor médio dos negócios para baixo. Ainda assim, os envios para fora do país continuam acelerados, com a China buscando recompor estoques.

Vale a ressalva de que o USDA divulgou sua nova estimativa de estoques para a oleaginosa, com redução nas reservas de soja globais de 102,4 milhões de toneladas para 100,5 milhões de toneladas, valor abaixo do que o mercado aguardava. Fator que atuou positivamente sobre as cotações futuras da CBOT na quinta-feira.

 

Fonte: Broadcast AE / B3 / Agrifatto

 

  1. O destaque:

No final de março/20, a Organização Geral dos Serviços Veterinários do Egito concedeu novas habilitações para 15 plantas frigoríficas de bovinos e renovou a habilitação para mais 82 unidades do Brasil. Sendo: 6 plantas no Centro-Oeste, 4 no Norte, 3 no Sudeste, 1 no Sul e 1 no Nordeste.

Segundo o adido agrícola da embaixada do Brasil no Cairo, as negociações para as novas permissões iniciaram no começo deste ano e, possivelmente, a pandemia de Covid-19 acelerou o processo pelo receio de desabastecimento do país, como aponta a Agência de Notícias Brasil-Árabe.

Em 2019, o Egito foi o 3° maior comprador, perdendo apenas para China e Hong Kong, foram enviadas 164 mil toneladas de carne bovina total e uma receita próxima a US$ 480 milhões. Leia na íntegra completa aqui.

 

  1. E o que está no radar?

Após uma semana de baixa comercialização de carne bovina no mercado doméstico, agravada pelo período de maior fluxo de saída de proteína de peixe/frango e o isolamento social, o atacado trabalhou com estoques enxutos.

Para o mercado de boi gordo, conforme o período de seca se aproxima e a qualidade das pastagens diminui, a disponibilidade de animais prontos para abate deve aumentar e causar pressão negativa nas indicações da arroba. A tendência no curto prazo é um mercado andando de lado.