Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Na última semana, os preços do boi gordo continuaram firmes no mercado físico, o mercado pouco ofertado e com necessidade de compra da indústria, reajustaram para cima as indicações de compra.

A expectativa é que esse cenário continue durante a semana, embora novas altas para a arroba dependerão de maior escoamento da carne bovina. Aliás, o boi casado começa a mostrar resistência a novas altas.

Os dados detalhados das exportações brasileiras mostraram que a China diminuiu em 36% as suas importações de carne bovina, o movimento é comum em janeiro pelo Ano Novo chinês, a diferença neste ano se dá pelo Coronavírus e possibilidade de atraso da retomada de suas compras.

O destaque na última semana ficou para a forte valorização do dólar, o câmbio renovou o seu recorde, com fechamento em R$ 4,35. As altas aconteceram após uma combinação de fatores externos e internos.

  1. Na tela da B3

E se a primeira semana de fevereiro foi marcada por estabilidade dos preços, sem que os futuros conseguissem superar barreiras gráficas, o que aconteceu na última semana foi uma continuidade deste cenário, ou seja, futuros com menos força e devolvendo parte dos ganhos obtidos.

A liquidez dos contratos está relativamente positiva, mas colocando limites claros para novas altas. O contrato para maio/20, por exemplo, resiste em superar os R$ 202,95/@.

Mas devemos lembrar que nos últimos 30 dias, os contratos subiram entre 6,0% e 8,0%, e apesar de menor fôlego para continuar sua rodada de altas, os contratos ainda mantêm os patamares alcançados, o que pode ser visto como oportunidade de hedge.

Por outro lado, há expectativa que um retorno em maior intensidade da China as compras devem injetar o ânimo necessário para equilíbrio de preços mais altos.

  1. Enquanto isso, no atacado…

Os preços da carcaça casada bovina subiram a partir do início deste mês, puxados pela necessidade de recomposição dos estoques em período de maior demanda interna.

Na média, o boi casado avançou 10% desde o final de janeiro, além de acumular alta de 1,71% na última semana e encontrar equilíbrio em R$ 13,50/kg.

Valorizações também foram registradas para o frango resfriado e a carcaça especial suína, subindo 2,18% e 2,89%, respectivamente, interrompendo um movimento de queda registrado nas duas semanas anteriores.

spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), continua positivo, encerrando a primeira semana de fevereiro em 2,57%.

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 10 (dez) primeiros dias úteis de fevereiro/20 contabilizaram um volume total de 61,18 mil toneladas e uma receita de US$ 279,05 milhões.

A média diária registrada ficou em 6,12 mil toneladas, alta de 15,03% em relação à média de janeiro/19, além de aumento de 6,00% frente ao desempenho do mesmo período de 2019.

O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 4.561.14, queda de 7,34% em relação à média do mês anterior, porém, avanço de 21,58% quando comparado com o valor médio de janeiro/19.

Projeções preliminares deste mês apontam para 110 e 118 mil toneladas enviadas até o final de fevereiro, um cálculo considerando o histórico dos últimos três meses e uma possível queda dos embarques no último período do mês. Entretanto, se a média diária se preservar, é possível que um volume ainda maior seja alcançado.

Por fim, destaque para as exportações com a soja, subindo 185% na comparação com janeiro/20, o país embarcou 1,93 milhões toneladas do grão nos primeiros 10 dias úteis deste mês. Entretanto, quando comparado a fev/19, o volume é 26,79% inferior.

  1. O destaque:

As valorizações cambiais chamaram a atenção do mercado, renovando sua máxima após alcançar R$ 4,382 na quinta-feira (13). Já o maior fechamento ficou para a quarta-feira (12), em R$ 4,356.

Há uma série de fatores que deixaram o câmbio mais volátil, como: resultado do varejo abaixo das expectativas, fala do ministro Paulo da Economia e as incertezas sobre o Coronavírus.

Sobre o surto da doença com epicentro na China, o principal temor é que quanto mais tempo a doença se prolongar, maiores podem ser seus impactos na economia global. Especialmente em consumo, turismo e na cadeia global de suprimentos.

Por fim, vale destacar que as taxas de juros menores no país encurtam o diferencial de retorno entre o Brasil e o mundo, fazendo com que investimentos sejam realocados em outros países com mesma classificação de risco, mas com rentabilidade maior.

A retirada de dólares diminui a oferta da moeda norte-americana e coloca seu câmbio em patamares mais elevados.

  1. E o que está no radar?

A China diminuiu seu fluxo de importações da carne bovina brasileira no início deste ano, caindo 36% em janeiro/20 contra o mês anterior, mas espera-se que seu retorno seja mais agressivo após o Coronavírus. Confira nossa análise especial sobre as importações chinesas na íntegra aqui.

Com o país asiático mais afastado das compras, as atenções voltam-se para o mercado interno, especialmente para a carne bovina no atacado.

Neste sentido, o boi casado mostra dificuldade em continuar subindo, e a chegada da 2ª metade do mês coloca risco de revisões para baixo, por outro lado, o mercado pouco ofertado e a reposição valorizada são importantes fatores de suporte às cotações.

 

Um abraço e até a próxima semana!