Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Na última semana, as indústrias mantiveram-se afastadas das compras, observando o ritmo lento de consumo interno de carne bovina, um cenário sazonal para o período – quando a maior proporção de contas a serem pagas diminui a demanda pela proteína bovina.

O boi casado encerrou a última semana com média de R$ 12,00/kg, baixa de 11,31% ante a semana anterior. Na comparação mensal, acumula queda de 10,51%.

Com relação às escalas de abate, as indústrias terminaram a semana ligeiramente mais confortáveis, indicando a possibilidade de uma oferta de animais de pasto ficando gradualmente maior. Se confirmado, pode causar impacto sobre as cotações da arroba no curto/médio prazo.

Destaque para a assinatura da primeira fase do acordo comercial entre os EUA e a China, em que o governo chinês se comprometeu a importar US$ 32 bilhões de produtos agropecuários norte-americanos nos próximos dois anos, incluindo carnes, oleaginosas, cereais, algodão e frutos do mar.

 

  1. Na tela da B3

O mercado do boi gordo começou o ano ligeiramente mais fraco, especialmente com a demanda retraída. Este ambiente de cotações buscando gradualmente por patamares menores também contagiou os preços futuros.

Os contratos mais negociados recuaram 2,7% ao longo da última semana, confirmando o cenário previsto, uma combinação de ausência de novidades altistas com a baixa liquidez acomodando as cotações.

Após as quedas, os valores na B3 aproximaram-se de alguns importantes suportes gráficos, e uma tentativa do mercado de tentar reverter as perdas não está descartada.

Entretanto, altas expressivas que retornem os preços aos patamares do final do último ano também são improváveis no curto prazo, dado o menor consumo doméstico que limita fortalecimentos mais expressivos.

 

  1. Enquanto isso, no atacado… 

A comercialização de carne bovina no atacado continua lenta, provocando uma desaceleração dos preços da carcaça casada bovina.

O boi casado encerrou a última semana com média de R$ 12,00/kg – baixa de 11,31% ante a semana anterior. Na comparação mensal, acumula queda de 10,51%.

O frango resfriado também desacelerou, fechou cotado em R$ 4,78/kg – baixa de 3,44% e acumula queda mensal de 1,55%.

Assim como as outras proteínas, a carcaça especial suína perdeu força nos últimos sete dias, encerrando a semana em R$ 8,88/kg no atacado paulista, baixa de 10,98% quando comparada a semana anterior. Nos últimos 30 dias acumula baixa de 9,25%.

spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), continua positivo, encerrando a terceira semana de janeiro em 3,81%.

 

  1. No mercado externo 

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 12 (doze) primeiros dias úteis de janeiro/20 contabilizaram um volume total de 72,97 mil toneladas e uma receita de US$ 369,87 milhões.

A média diária registrada ficou em 6,08 mil toneladas, baixa de 14,16% em relação à média do mês anterior, mas aumento de 30,60% frente ao desempenho do mesmo período de 2019. 

O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 5.068,76, alta de 0,38% em relação a dezembro/19, e valorização de 35,21% quando comparado com o valor médio de janeiro/19.

O destaque fica para o menor desempenho das exportações nesta metade do mês, com a média diária das exportações caindo 23% na terceira semana de janeiro quando comparada à semana anterior. Com isso, nossas projeções foram ajustadas na mesma medida, calculadas entre 120 e 125 mil toneladas até o final do mês.

Por fim, as exportações com milho nos primeiros 12 dias úteis deste mês somaram 1.357 milhão de tonelada, queda de 45,63% em comparação à média diária do mês anterior, e baixa de 35,64% frente ao mesmo período em 2019.

 

  1. O destaque:

Na última quarta-feira (15/jan), os EUA e a China assinaram a primeira fase do acordo comercial após quase dois anos de impasse, fato que impactará diretamente as compras agropecuárias chinesas. 

A China se comprometeu a importar US$ 32 bilhões de produtos agropecuários nos próximos dois anos, incluindo carnes, oleaginosas, cereais, algodão e frutos do mar. 

Nos próximos 30 dias, a carne bovina norte americana será capaz de entrar na China, produto que competirá diretamente com as importações brasileiras e de outros países.

Como um dos pontos principais do acordo sino-americano para carne, está a retirada da restrição para abate de até 30 meses. Agora toda carne bovina é elegível para a China, ou seja, qualquer categoria animal e idade serão aceitas, desde que atendam aos padrões do Codex MRL.

O governo chinês também aceitou o sistema de rastreabilidade dos EUA, desde que atenda ou exceda as diretrizes da OIE.

As tarifas permanecerão as mesmas para carne bovina e suína desossada, sendo estas de 47% e 68%, respectivamente. 

 

  1. E o que está no radar?

Com a chegada da segunda quinzena do mês e ao lento escoamento de carne bovina no atacado, a arroba vem sofrendo pressão negativa.

O boi casado no atacado paulista está sendo cotado em R$ 12,00/kg (queda de quase R$ 2,00/kg desde o início do ano).

Este valor da carne no atacado coloca um equivalente físico de R$ 180,00/@, indicando que o boi gordo pode passar por revisões negativas de preços nos próximos dias.

Portanto, o menor consumo interno neste período do mês, além de informações da China renegociando seus contratos de importação, podem gerar novas pressões negativas no curto prazo. 

 

Um abraço e até a próxima semana!