Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

Em mais uma semana sem grandes alterações para os fundamentos do mercado pecuário, observou-se um físico fortalecido, com a maioria das negociações nas praças paulistas orbitando os R$ 160,00/@ (à vista e para descontar impostos).

Aliás, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) tem registrado preços máximos relevantes, alcançando R$ 166,63/@ na última terça-feira (17). Entretanto, as mínimas ainda impedem valorizações mais expressivas para o seu indicador.

O bom desempenho das exportações, combinado com câmbio fortalecido, altas para a carcaça casada bovina no atacado (apesar do atual período de menor consumo), e a disponibilidade restrita de animais prontos na maioria das praças analisadas, são o pano de fundo para o mercado físico sustentado.

Neste ambiente, as cotações futuras trabalham em campo positivo, gerando oportunidades para o gerenciamento dos riscos de preços, especialmente pela viabilidade de alívio dos valores com a chegada dos animais do 2º giro de confinamento.

Os vencimentos futuros já marcam preços acima de R$ 170,00/@, o maior valor nominal para o boi gordo, o que representa excelente oportunidade de negócio.

E o destaque da última semana ficou para o avanço da peste suína africana, cruzando novas fronteiras, e agora presente nas Filipinas e Coreia do Sul. Dada a agressividade do surto e o baixíssimo nível dos estoques mundiais de carne suína, é difícil projetar com maior precisão os efeitos sobre os preços pecuários brasileiros. Entretanto, a Agrifatto projeta a estimativa do rebanho suíno global em 750 milhões de cabeças até o fim de 2019. Esse número sugere um recuo de 53% sobre a população mundial de suínos comerciais, ou 22% do volume global de proteína disponível. A projeção inclui carne de frango, suína e bovina.

Isso adiciona um potencial de crescimento para as exportações entre 10 e 15% ao mês após as habilitações de novas plantas.

 

  1. Na tela da B3

Com manutenção dos fundamentos altistas para o mercado pecuário, os preços futuros do boi gordo reagiram positivamente na última semana.

Os novos reajustes foram mais tímidos, mas é fato que os novos equilíbrios de preços foram mantidos.

O out/19 avançou 0,12% ao longo da última semana, fechando o pregão em R$ 161,65/@ na sexta-feira (20). O novembro/19 subiu 0,24% no mesmo período, encerrando a semana em R$ 164,70/@.

Já o contrato para dezembro/19 subiu em intensidade relativamente maior, a alta de 0,33% colocou a sua parcial em R$ 166,20/@.

Destacamos que os contratos continuam trabalhando nos maiores patamares já negociados, acumulando altas entre 1,60% e 2,90% ao longo dos últimos 30 dias. Mas há o risco de correção para baixo dos valores em bolsa a partir da chegada dos animais do 2º giro do confinamento.

Além disso, 2020 já mostra oportunidade de negócios acima de R$ 170,00/@.

 

  1. Enquanto isso, no atacado…

 

Na última semana, o boi casado e a carcaça especial suína continuaram com o movimento altista.

A carcaça casada bovina avançou 0,42% na última semana, fechando com média no atacado paulista em R$ 10,64/kg. A proteína bovina mantém a sua trajetória de alta desde o final de julho/19.

A carcaça especial suína também ganhou força nos últimos dias, fechando a semana cotada em R$ 7,30/kg, avanço de 6,42%. Na comparação mensal, a alta acumulada é de 13,90%.

Já o frango resfriado permaneceu praticamente estável, com fechamento em R$ 3,97/kg, queda de 1,61% na semana. No último mês, a desvalorização acumulada é de 6,74%.

O spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), continua positivo, fechando a terceira semana de setembro em 0,54%.

 

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 15 (quinze) primeiros dias úteis de setembro/19 contabilizaram um volume total de 89,13 mil toneladas e uma receita de US$ 378,96 milhões.

A média diária registrada ficou em 5,94 mil toneladas, alta de 3,40% em relação à média do mês anterior, mas recuo de 25,05% frente ao desempenho do mesmo período de 2018.

O preço médio por tonelada registrou-se em US$ 4.251,60, alta de 1,75% em relação a agosto/19, e valorização de 7,50% quando comparado com o valor médio de setembro/18.

Se o ritmo diário se repetir, devem exportadas 124,79 mil toneladas de carne bovina in natura neste mês. Se confirmado, o volume representaria queda de 1,30% frente a quantidade embarcada em agosto/19, e recuo de 17,16% na comparação com o mesmo mês em 2018.

Por fim, as exportações com milho continuam aquecidas, o país enviou 4,76 milhões de toneladas nas três primeiras semanas de setembro. O desempenho diário de 317,12 mil toneladas representa queda de 8,74% em relação ao mês anterior, porém, alta de 79,28% frente ao mesmo período em 2018.

 

  1. O destaque:

Durante este mês (setembro/19), foram registrados novos surtos de peste suína africana (PSA) na Coreia do Sul e nas Filipinas, países que estavam livres do vírus.

No início do mês, foram encontrados focos da doença em pelo menos sete aldeias perto de Manila, nas Filipinas, levando ao sacrifício de 7,4 mil animais.

Na Coreia do Sul, segunda-feira (16), foi detectado o primeiro caso do vírus na cidade de Paju, com abate de 4 mil suínos da região. O surto foi confirmado em uma fazenda próxima da fronteira com a Coreia do Norte – focos da doença já haviam sido identificados no país vizinho em maio deste ano.

Alguns dias depois, na quinta-feira (19), mais um caso de contaminação foi observado em uma cidade próxima, sacrificando outros 4,7 mil animais.

 

  1. E o que está no radar?

 

As atenções do mercado se voltam para as previsões climáticas das próximas semanas, já que a chegada das chuvas determinará o início da nova temporada 2019/20.

Neste sentido, espera-se um período mais úmido nos próximos dias, especialmente nas regiões Sul, Sudeste e ao Norte do país. Mas na região Central, as precipitações ainda podem ficar entre leves e moderadas.

As temperaturas devem continuar acima do normal para o período na grande maioria dos estados brasileiros (a exceção fica para os três estados ao Sul do país).

Novas habilitações de plantas aptas a exportar para a China podem ocorrer, o que indica o forte potencial dos embarques para o gigante asiático já a partir de outubro, devendo se estabelecer como tendência de longo-prazo.

Além disso, a persistente taxa de abate de fêmeas mantém a atenção sobre a restrição gradual da oferta de animais terminados. Esse é um fator que, se combinado a uma possível continuidade da recuperação econômica do mercado interno, mesmo que lenta, traga bons ventos às cotações.

A tempestade perfeita está se formando para o cenário pecuário em 2020.
Um abraço e até a próxima!