Análise semanal sobre o mercado pecuário

Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto

Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

A segunda semana de setembro continuou com preços firmes no mercado físico, mas também preservou as diferenças observadas no mercado pecuário.

Os frigoríficos autorizados a exportar para a China desfrutam de resultados positivos pela operação, especialmente com o dólar mantendo os patamares ao redor de R$ 4,10.

Portanto, observa-se um fluxo maior de animais para essas plantas, principalmente bovinos jovens e vindos de sistemas de engorda intensiva.

Já os frigoríficos que têm suas operações voltadas ao mercado doméstico, trabalham com escalas mais encurtadas e maior dificuldade na originação de animais. As escalas mais curtas continuam no Mato Grosso do Sul (ao redor de 4 dias úteis), onde o bovino terminado, à vista, orbita os R$ 150,00/@ (para descontar impostos).

A última semana foi marcada por agenda cheia, e além da autorização de novas plantas a exportar para a China, o mercado mostrou novas valorizações para a carcaça casada bovina no atacado, atualização dos números de abates brasileiros, e novos números para a safra norte-americana.

 

  1. Na tela da B3

A notícia na última segunda-feira (09/set) sobre a habilitação de 17 novas plantas bovinas do Brasil para exportar à China reajustou positivamente as cotações em bolsa.

O contrato para out/19 avançou 0,84% ao longo da última semana, com fechamento na sexta-feira (13) em R$ 161,30/@ (na semana anterior, este vencimento estava balizado em R$ 159,95/@).

Os contratos para novembro e dezembro/19 também mostraram movimentação positiva, no dia em que se confirmou a autorização das novas plantas, esses contratos avançaram 0,64% e 0,92 p.p., respectivamente.

Aliás, os contratos para os meses entre o final deste ano e início de 2020, já incluem ágios convidativos, com o contrato para dezembro/19, por exemplo, balizado ao redor de R$ 165,40/@.

Portanto, a esperada notícia de habilitação de novas plantas, foi refletida sobre os contratos futuros, abrindo novas janelas de oportunidades.

 

  1. Enquanto isso, no atacado…

Na semana passada, a carcaça casada bovina continuou com novas valorizações, um movimento que se registra desde o final de julho, marcando a 6ª semana consecutiva de altas.

O boi casado avançou 0,95% na última semana, fechando com média no atacado paulista em R$ 10,60/kg, maior valor desde 23 de abril deste ano (R$ 10,68/kg). Ou seja, a alta da última semana colocou o boi casado no maior patamar em quase 5 meses.

Já o frango resfriado permaneceu praticamente estável, com ligeira alta de 0,37%, com fechamento em R$ 4,03/kg. No último mês, a desvalorização acumulada é de 6,74%.

A carcaça especial suína, ganhou força nos últimos dias, fechando a semana cotada em R$ 7,80/kg, avanço de 7,87%. Na comparação mensal, a alta acumulada é de 3,16%.

O spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), continua positivo, fechando a segunda semana de setembro em 0,71%.

 

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos 10 (dez) primeiros dias úteis de setembro/19 contabilizaram um volume total de 59,30 mil toneladas e uma receita de US$ 253,06 milhões.

A média diária registrada ficou em 5,93 mil toneladas, alta de 3,18% em relação à média do mês anterior, e recuo de 25,21% frente ao desempenho do mesmo período de 2018.

O preço médio por tonelada registrou-se em US$ 4.267,76, alta de 2,14% em relação a agosto/19, e valorização de 7,91% quando comparado com o valor médio de setembro/18.

Se o ritmo diário se repetir, serão exportadas 124,52 mil toneladas de carne bovina in natura neste mês. Se confirmado, o volume representa queda de 1,51% frente a quantidade embarcada em agosto/19, e recuo de 17,34% na comparação com o mesmo mês em 2018.

Já as exportações com milho continuam aquecidas, com o país enviando 3,31 milhões de toneladas nas duas primeiras semanas de setembro. O desempenho diário de 332,47 mil toneladas representa queda de 4,32% em relação ao mês anterior, além de alta de 88% frente ao mesmo período em 2018.

 

  1. O destaque:

A semana passada foi de agenda cheia para a pecuária brasileira, com destaque para a habilitação de mais de 25 plantas a exportar para China. Os frigoríficos habilitados somam: 17 de carne bovina, 6 de frango, 1 de suínos e 1 de asininos.

No total, os estabelecimentos habilitados passam de 64 para 89. Estados como MS, PA, RO e TO que não possuíam habilitação, agora podem enviar carne bovina para o gigante asiático.

Outro destaque fica para os dados das Pesquisas Trimestrais de Abate de animais, divulgados pelo IBGE na quinta (12), com o abate de novilhas subindo 24,31% na comparação anual, além de alta de 9,50 p.p. na comparação trimestral.

E ainda, o relatório do USDA que também foi divulgado na última quinta-feira (12), estimou a produção de milho nos Estados Unidos em 350,50 milhões de toneladas, cortando 2,58 milhões de toneladas neste boletim.

 

  1. E o que está no radar?

Uma nova reunião entre EUA e China deve acontecer nesta semana, em Washington, antes de uma nova rodada de negociações no início de outubro, em Pequim.

Outro ponto importante que entra no radar, é a retirada da soja americana de tarifas adicionais pela China. Neste sentido, se a China voltar a comprar o grão norte-americano, os prêmios nos portos brasileiros devem se ajustar para baixo, com possível alívio dos preços por aqui.

Além disso, nos próximos dias 17 e 18 de setembro, o Copom se reúne para decidir as diretrizes da política monetária, com expectativas de nova redução da taxa Selic (passando de 6,0% para 5,5%). Se confirmado, o câmbio pode reagir, com possível fortalecimento do real ante a moeda norte-americana – outro ponto baixista para a cotação da oleaginosa.

Portanto, a disputa comercial e o câmbio podem desempenhar papéis importantes para a precificação das commodities nesta semana.