Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é graduanda em zootecnia pela USP e estagiária pela Agrifatto
Resumo da semana:
A segunda metade de agosto trouxe bons números para o mercado pecuário.
A necessidade de recomposição das escalas, combinado com a restrição de animais prontos, continuam como os principais fundamentos altistas.
Nesse ambiente, as indicações no balcão em São Paulo subiram 1,9% ao longo da última semana, com registro de negócios envolvendo boi comum por R$ 160,00/@ à vista (para descontar impostos).
Além do mercado físico, as indicações em bolsa também se mostraram sustentadas, embora as altas tenham sido mais comedidas – o que pode levar a movimentações mais técnicas e players mais cautelosos no curto prazo.
A carcaça casada bovina foi outro indicador que passou por revisões positivas, apesar do período de sazonal menor consumo interno – indicando que os estoques no atacado também devem estar ajustados.
O destaque da semana ficou para o acordo de exportação de carne bovina para a Indonésia, um mercado de grande potencial – alcançado pela qualidade com preços competitivos da proteína brasileira.
- Na tela da B3
Os contratos futuros devolveram parte dos ganhos obtidos na metade de agosto, marcando leves desvalorizações na última semana.
Na terceira semana de agosto, quando a bolsa ganhou tração, o contrato para set/19 subiu 0,90%. Mas na última semana do mês, recuou 0,19% com fechamento em R$ 158,00/@ (30/ago).
Movimento similar aconteceu para os contratos de outubro e novembro, com os vencimentos preservando os novos (e mais altos) patamares de preços na maioria dos pregões, mas voltando para uma posição de cautela ao final da semana.
Nem mesmo o anúncio de abertura do mercado da Indonésia foi suficiente para oferecer novo fôlego aos futuros. Aliás, o comunicado contagiou mais diretamente as ações dos grandes frigoríficos brasileiros.
E ainda, na última sexta-feira (30/ago), a média dos últimos 5 indicadores do CEPEA liquidou o contrato para agosto/19 na B3, com valor em R$ 156,84/@ (alta de 2,18% em relação ao fechamento do vencimento anterior).
- Enquanto isso, no atacado…
A carcaça casada bovina continuou com novas altas na semana passada.
O boi casado avançou 0,76% na última semana, com média no atacado paulista em R$ 10,42/kg. Em agosto, a alta acumulada ficou em 2,01%.
Enquanto isso, o frango resfriado caiu 1,19%, fechando a última semana de agosto em R$ 4,15/kg. Desde o início do mês, a queda acumulada ficou em 3,83%.
A carcaça especial suína, permaneceu estável no mesmo período, com média em R$ 6,34/kg. Caindo 8,55% em agosto.
O spread (diferença de preços entre a carne bovina vendida no atacado e a arroba do boi gordo), que trabalhava há um mês em 1,17%, ficou em 0,42% na média da última semana.
- No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura em agosto/19 contabilizaram um volume total de 126,5 mil toneladas e uma receita de US$ 528,5 milhões.
A média diária registrada ficou em 5,75 mil toneladas, avanço de 2,45% em relação à média do mês anterior, mas recuo de 8,53% frente ao desempenho do mesmo período de 2018.
O preço médio por tonelada registrou-se em US$ 4.178,06, alta de 4,77% em relação a julho/19, e valorização de 2,42% ante o valor médio em agosto/18.
Vale destacar o novo recorde para as exportações com o milho em agosto/19. O Brasil enviou 7,65 milhões de toneladas, avanço de 21,16% em relação ao volume embarcado no mês anterior, além de aumento de 170,86% frente ao exportado em agosto/18.
- O destaque:
Na última quarta-feira (28/ago), a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou a abertura do mercado da Indonésia para as carnes brasileiras. Segundo ela, serão habilitadas 10 plantas para exportação de pelo menos 25 mil toneladas de carne bovina.
A ministra esteve reunida com o ministro da Agricultura da Indonésia em maio, afirmando que o Brasil podia atender à necessidade por proteína animal com preços mais competitivos que seu principal fornecedor, a Austrália.
Dentre as plantas que devem ser habilitadas, o Minerva comunicou que 5 plantas já foram autorizadas: José Bonifácio (SP), Rolim de Moura (RO), Araguaína (TO), Mirassol d’Oeste (MT) e Palmeiras de Goiás (GO).
A alta densidade demográfica, rápida urbanização e sólido crescimento econômico são alguns dos fatores que apontam para o potencial positivo do mercado que se abre ao Brasil. Em 2018, a Indonésia importou mais de 58 mil toneladas de carne bovina.
Para saber mais sobre este novo mercado, acesse este link.
- E o que está no radar?
O final de agosto foi positivo ao mercado pecuário, já que a restrição da oferta valorizou a arroba em importantes praças produtoras.
Este ambiente mais ajustado não deve passar por grandes alterações no curto prazo, mantendo no radar um mercado sustentado.
Por outro lado, algumas praças em São Paulo mostraram um relativo alongamento das escalas para o início deste mês, o que pode limitar a renovação dos preços máximos negociados.
Para os grãos, o milho pode continuar firme no balcão, especialmente com o dólar apreciado e se os produtores continuarem com o posicionamento defensivo nas vendas. Em bolsa, os contratos podem passar por ajustes técnicos após alta recente.
Os preços da soja devem se voltar para a disputa comercial entre EUA e China, já que novas taxações foram adotadas neste início de setembro.
Um abraço e até a próxima semana!