Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
 

 

Resumo da semana:
O mercado físico do boi gordo que vinha sendo pressionado para baixo pelo fraco escoamento de carne bovina no mercado interno voltou a se animar com a retomada das exportações para a China durante a última semana. O preço médio do animal pronto para o abate ficou em R$ 314,05/@, queda de 0,71% no comparativo semanal. Apesar do recuo no preço médio semanal, o animal fechou a sexta-feira sendo negociado próximo dos R$ 325,00/@, puxado justamente pela nova precificação com o fator China.
O bezerro voltou a se valorizar durante a última semana. Com as chuvas estabelecidas em boa parte do Brasil pecuário e a retomada das negociações com a China vai se formando um cenário favorável para a engorda do animal e com isso estimulando as compras por partes dos recriadores. Em Mato Grosso do Sul, o bezerro foi negociado a um preço médio de R$ 2.959,93/cab, alta de 2,57% no comparativo semanal.
Os preços praticados no mercado do suíno vivo continuaram a ceder, a oferta elevada de animais em um momento em que a demanda não consegue consumir tal aumento produtivo puxa os preços do animal vivo para baixo. Em São Paulo, o suíno vivo fechou a última semana sendo negociado a um preço médio de R$ 6,69/kg, queda de 8,93% em relação a semana anterior.
Em um momento global de aversão ao risco, devido ao temor do avanço da variante ômicron, o dólar seguiu avançando. A moeda norte-americana ficou cotada a um preço médio de R$ 5,67, alta de 0,98% no comparativo semanal. Cabe a ressalva de que o dólar se valorizou frente a outras moedas consideradas fortes, visto que o índice DXY saiu dos 96,05 e fechou a semana em 96,67, subindo 0,64%.
1. O boi gordo na B3
E quem diria? Após 103 dias a China retomou as compras de carne bovina brasileira e com isso os preços do boi gordo explodiram na B3, enquanto no físico os negócios minguaram, com o pecuarista aumentando a pedida por seus animais exponencialmente.
A volta dos chineses as exportações de carne bovina brasileira representam a retomada de um mercado que pode captar até 15% da nossa produção de carne bovina mensal, ou seja, a forte pressão que as cotações sofreram tem um fundamento muito forte por trás.
Na B3, tivemos a alteração de contrato mais líquido do dez/21 para o jan/22, o mercado já está virando a “página” do ano. O vencimento para jan/22 encerrou a semana cotado à R$ 337,25/@, com alta de 7,10% no comparativo semanal, sendo este o maior valor de fechamento para este contrato desde que ele começou a ser negociado em ago/21.
Fonte: B3; Agrifatto;
Com a China de volta, o “último” componente que faltava para fechar a precificação do boi gordo de maneira completa se encaixa no quebra-cabeça e o Brasil deixa de sofrer com sanções externas que imponham preços menores ao boi gordo, agora o que resta para se analisar é previsão de oferta e demanda, única e exclusivamente. Como os frigoríficos ainda dispunham de escalas alongadas até o anúncio chinês, pelas compras que foram feitas nas últimas semanas, a pressão sobre o físico ainda não ganhou muita intensidade, no entanto, assim como pontuamos os sinais de baixa lá no final de nov/21, já começamos a visualizar sinais de sustentação para o boi gordo no curto prazo, podendo a B3 ultrapassar os R$ 340,00/@.
O primeiro sinal são as escalas de abates dos frigoríficos que reduziram em boa parte do país, com destaque para São Paulo que viu suas escalas saírem de 12 para 9 dias no comparativo semanal, recuando fortemente, mas ainda assim em um nível confortável. O segundo sinal veio do atacado, visto que mesmo diante de um mercado interno com demanda fraca e caminhando para a segunda quinzena do mês a carcaça casada conseguiu “virar” o jogo e registrar alta a partir da última quinta-feira, com a China enxugando boa parte do volume do dianteiro que estava sendo destinado ao mercado interno, de quarta para quinta-feira, a carcaça casada registrou alta de 0,90%, interrompendo quase três semanas consecutivas de desvalorizações.
Diante da atual precificação dos futuros e com o frigorífico ainda relativamente “confortável” em suas escalas, não visualizamos motivo para acelerar as vendas neste momento. A tendência é que a partir da próxima semana os frigoríficos venham a sofrer maiores apertos em suas programações de abate e consequentemente a B3 responda transpondo os R$ 342,00/@, e, esse seria o primeiro acionamento de comercialização para aqueles que fecharam 50% dos animais quando recomendados a R$ 330,00/@.
E por que R$ 342,00/@? Pois negociar nesse patamar é negociar dentro de um preço competitivo com Uruguai e Argentina no valor de US$ 60,00/@, sendo assim, para os que já travaram 50% dos animais do 1º trimestre, a comercialização pode ser dividida em 10% a cada R$ 3,00/@ de valorização, começando no patamar de R$ 342,00/@ através da venda de futuros. Para os que não realizaram nenhum tipo de trava, o mercado ressaltamos que no patamar atual de R$ 338,50/@ o mercado já precifica a China, e garantir esse nível de preço acreditamos ser interessante para grande parte dos pecuaristas brasileiros. Ou seja, essa operação consistiria na venda de futuros de boi gordo para os vencimentos de jan/22, fev/22 e mar/22 de maneira particionada e buscando fazer um preço médio.
Para os mais conservadores e com fluxo de caixa mais apertado, as opções simples ainda continuam caras, mas que podem proteger valores interessantes que não eram cogitados há sete dias atrás. É possível comprar PUTs para o primeiro trimestre de 2022 com strike nos R$ 305,00/@ a um custo médio de R$ 3,51/@. No entanto, considerando tal precificação acreditamos que a operação de COLLAR é mais interessante no momento atual, visto que é possível adquirir PUTs com strike nos R$ 320,00/@ gastando cerca de R$ 0,10/@ em conjunto com a venda de CALLs com strike nos R$ 355,00/@, considerando que a possibilidade de rompermos e mantermos o patamar de R$ 355,00/@ é baixa, essa é uma boa operação para aqueles com um perfil mais conservador e que busquem realizar o travamento via opções.
Assim como listamos na semana passada, reiteramos nesta semana, no espectro especulativo acreditamos que a possibilidade de compra de futuros é o que faria mais sentido neste momento. A entrada no vencimento para fev/22 no patamar de R$ 337,00/@ ainda reservaria boa probabilidade de ganhos, principalmente caso o rompimento do patamar de R$ 340,00/@ seja executado.
Como dissemos na semana passada, somente uma novidade do outro lado do mundo esquentaria o termômetro do boi gordo e foi o que aconteceu, a China mudou novamente o mercado do boi gordo e deu tons altistas para o animal. Agora embarcado em uma curva de alta, mas ainda sem referência de um preço “limite”.
2. Enquanto isso, no atacado…
A notícia da retomada das exportações de carne bovina in natura à China, que estava fora desde 04/09/2021 levantou os ânimos do mercado brasileiro. O setor pecuário agora espera que a liquidez e o escoamento melhorem, já que parte da produção das plantas frigorificas tem a retomada do destino externo que mais consumia nossa proteína. Neste momento, a indústria programa com cautela as suas estratégias de aquisição de animais para compor suas escalas de abates, que em grande maioria, se apresentavam alongadas. O mercado interno começou uma virada a partir da última quinta-feira, já que os preços apontavam para uma curva de desvalorização até então e desde o dia 16/12/2021, com a volta chinesa, as cotações já começaram a se elevar. Ainda assim, a média da carcaça casada bovina na última semana fechou em queda de 1,40%, sendo negociada a R$ 19,10/kg.
Após um período de queda nas cotações do frango, que vinha acontecendo desde agosto/21, aparentemente este encontrou seu limite. Na semana passada, o preço do frango resfriado encerrou em R$ 6,37/kg, mesmo patamar de referência da semana retrasada, sendo assim, sem alterações no comparativo semanal. Com as festividades de final do ano cada vez mais próximas, momento que culturalmente se consome mais carne de aves e suínos, o mercado de frango em São Paulo acredita que os preços atuais podem impulsionar as vendas no atacado e varejo.
A mesma lógica se segue para o mercado da proteína suína. A sua competitividade no mercado melhorou frente as concorrentes nos últimos dias, devido às quedas nas cotações dos principais cortes. Do mesmo modo que o anterior, as vendas no setor suinícola devem passar por aquecimento confirme as festividades vão chegando. Ainda assim, a carcaça especial suína passou por mais uma semana de desvalorização, recuando 4,33% no comparativo semanal sendo cotada a R$ 9,75/kg.
De modo geral, com os olhos agora voltados para a exportação à China, os volumes de carne bovina a ser disponibilizado para comercialização no mercado interno devem diminuir, o que gerará uma nova dinâmica entre oferta e demanda no mercado interno, levando a tendência altista no curto prazo.
3. No mercado externo
Com o retorno da China às compras de proteína bovina brasileira, as exportações de carne bovina in natura aceleraram o ritmo. Durante a última semana 28,35 mil toneladas foram embarcadas, 28,96% de avanço no comparativo semanal, sendo esse o maior volume semanal desde a primeira semana de out/21. O mês corrente já totaliza 66,20 mil toneladas exportadas de proteína bovina, 14,26% a menos que no mesmo período de 2020. Com a retomada chinesa, a tendência é que ultrapassemos as 110 mil toneladas exportadas em dez/21.
O preço médio pago pela tonelada está na casa dos US$ 4,91 mil, valorização de 0,18% ante a semana retrasada. Com isso, as vendas externas da primeira quinzena de dez/21 consolidaram um montante de US$ 325,38 milhões, o equivalente a 50,66% de todo o mês no ano passado, quando a carne bovina exportada tinha um preço 8,32% inferior.
Com uma média de 138,86 mil toneladas embarcadas diariamente, as exportações de milho encerram a última semana na casa das 694,33 mil toneladas, queda de 6,68% ante a semana retrasada. Com isso, dez/21 totaliza um volume de 1,85 milhões de toneladas exportadas. O preço médio do produto está em US$ 242,20/ton e as vendas externas do mês corrente consolidam um montante de US$ 448,8 milhões, o equivalente a 48,36% de todo dez/20.
Já as importações do cereal na última semana foram de 204,21 mil toneladas, alta de 101,77% no comparativo semanal. Com uma média de importação de 27,06 mil ton/dia, a primeira quinzena do mês corrente se encerrou com 351,82 mil toneladas do cereal que chegaram ao país, 1,4 vezes mais que todo o dez/20. Até o momento, para as compras internacionais do grão foram investidos US$ 84,78 milhões, valor 2,2 vezes superior do montante destinado as importações de milho em todo o mês no ano passado.
Durante a última semana 627,50 mil toneladas de soja foram exportadas, um recuo de 24,58% no comparativo semanal. Os embarques da oleaginosa fecharam a primeira quinzena do mês em 1,77 milhões de toneladas, volume 9,9 vezes superior que o mesmo período no ano passado.
O preço médio do grão ficou praticamente estável, sendo negociado a US$ 501,5/ton (+0,03%). Até o momento, as vendas externas de soja geraram uma receita de US$ 889,43 milhões, o equivalente a 858% de todo dez/20.
 
4. O destaque da semana
O destaque da semana que se passou não poderia ser diferente… a tão esperada volta chinesa! Após 103 dias de embargo à carne bovina Brasileira devido aos dois casos reportados de Encefalopatia Espongiforme bovina atípica, a doença da “Vaca louca”, a China finalmente liberou a importação da nossa proteína bovina.
Importante recapitularmos o desenrolar dos fatos nesse período de tempo. No dia 04/09/21 tivemos a confirmação dos dois casos de Vaca louca atípica, onde as certificações foram interrompidas imediatamente, devido ao acordo existente entre Brasil e China. Os documentos foram enviados para as autoridades chinesas, com o aval de órgãos internacionais, como a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), para que avaliassem as informações e liberassem novamente a comercialização de carne bovina entre os dois países. Porém, essa liberação demorou mais do que o esperado pelo mercado, que tinha criado expectativas pautadas no tempo de duração de embargos anteriores.
A partir deste momento estava proibida a entrada de carne bovina brasileira na China, inclusive da proveniente de animais abatidos antes do dia 04/09/21. Porém mesmo assim vários exportadores se arriscaram e aceleraram o envio dessas carnes, que já tinham sido certificadas antes do embargo, o que fez com que o volume exportado no mês de set/21 fosse recorde. Essa proteína, entretanto, ficou parada nos portos chineses, até que no dia 23/11/21 o governo daquele país liberou a entrada, dando assim uma certa “folga” para os estoques da proteína bovina na China.
Fonte: MDIC; Agrifatto;
Com a esperança de retomada por parte dos chineses sempre rondando o mercado, o preço do boi gordo se focava no curto prazo e testou mínimas e máximas nos últimos dois meses. Em um primeiro momento, com oferta excessiva e mercado interno depressivo, os preços do animal despencaram para o patamar de R$ 250,00/@ em São Paulo. No entanto, após um forte ajuste produtivo, com o enxugamento dos estoques de proteína bovina, a demanda mais forte sazonal que acontece no mês de nov/21 e preços competitivos com o frango, o preço do boi gordo voltou a testa os R$ 330,00/@ mesmo sem a China. E até antes do dia 15/12/21, o mercado caminhava de maneira calma para encontrar um suporte próximo aos R$ 310,00/@, no entanto, a China estremeceu tudo novamente.
Fonte: Cepea; Agrifatto;
E agora, o que esperar do mercado? O que estamos observando é o cumprimento dos contratos firmados pré-bloqueio chinês, ou seja, todos aquelas negociações em que os importadores chineses já haviam pago os 40% para garantir o embarque da proteína para a China estão sendo honradas agora, seja com carne que já estava armazenada em contêineres refrigerados nos pátios dos frigoríficos ou seja com bovinos abatidos desde o dia 15/12/2021.
Ao que parece, os chineses não voltaram com uma “fome” tão grande para a realização de novas compras, fato que pode ser explicado pela falta de tempo hábil da carne ser comprada agora e chegar a China antes do ano novo chinês (01/02/22), desta forma, os novos negócios são poucos justamente por que a demanda sazonal chinesa não é tão mais aquecida neste momento.
Por isso, acreditamos que nos próximos dias o mercado vai continuar otimista com a volta da China, mas o que vai sustentar mesmo esses preços serão os negócios efetivados e por isso devemos estar atentos, principalmente às oportunidades que o mercado futuro pode proporcionar para o Hedge a preços mais altos.
Agrifatto