Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto

 

 
Resumo da semana:

 

 

Com o aumento da oferta de animais e a dificuldade em escoar a carcaça bovina nos patamares acima de R$ 19,50/kg, o boi gordo fechou a última semana com desvalorização. O alongamento das escalas para mais de 10 dias úteis em São Paulo colocou o “poder” de decisão na mão dos frigoríficos, e, com isso as ofertas para compra chegaram a reduzir R$ 20,00/@ no valor de balcão. Diante disso, o volume de negócios começa a cair drasticamente e ao que tudo indica o ano de 2021 já está praticamente encerrado para os pecuaristas. No estado de São Paulo, o animal pronto para o abate foi negociado a um preço médio de R$ 316,31/@, recuo de 1,34% ante a semana retrasada.
A dificuldade no escoamento de proteína animal no mercado interno também prejudica outro produtor, o suinocultor. Com a carcaça suína especial recuando durante a última semana, o suíno vivo sofreu forte pressão negativa para ser reajustado. Desta forma, em São Paulo o preço pago ao produtor pelo animal ficou na média de R$ 7,41/kg, queda de 3,67% no comparativo semanal.
Apesar da calmaria nas negociações do mercado doméstico do milho, as preocupações com o clima no sul do país e uma demanda exportadora mais aquecida sustentaram a cotação do cereal no Brasil. Em Campinas/SP, o grão foi negociado a um preço médio de R$ 87,20/sc, valorizando 2,35% no comparativo semanal.
A fim de conter o contínuo avanço da inflação no Brasil, durante a última quarta-feira (08/12) o Comitê de Política Monetária (Copom) do banco centra elevou a taxa básica de juros – Selic – para 9,25% a.a., um avanço de 1,5 pontos percentuais. Esta foi a sétima alta consecutiva, sendo o maior patamar da Selic dos últimos 4 anos.

 

1. O boi gordo na B3
Após dar sinais ao fim da última semana de que iria sofrer com desvalorizações, o boi gordo voltou a fechar uma semana com recuo no preço médio após cinco semanas consecutivas em alta. O preço do animal em São Paulo ficou em R$ 316,31/@ ao final da última semana, recuando 1,34% no comparativo semanal.
Na B3, o vencimento com maior liquidez (dez/21) chegou a ser negociado à R$ 301,50/@ na mínima da última sexta-feira, o menor valor dos últimos 30 dias, puxado principalmente pelas incertezas da sustentação do boi gordo no mercado físico. O vencimento para mai/22 foi o que mais “sentiu” a pressão do físico, já que no comparativo semanal recuou 3,44%, saindo dos R$ 318,00/@ na sexta-feira retrasada (03/12) para R$ 307,05/@ na última sexta-feira.

 

Fonte: B3;

 

Como já havíamos salientado na semana anterior, o mercado perdeu força por conta de escalas que se alongaram e o preço da carcaça casada no atacado paulista recuando, não vamos nos alongar nesses fatores pois pouco se alterou desde a nossa última conversa. A carcaça casada consolidou o preço de R$ 19,18/kg ao final da última sexta-feira, sendo este o menor preço dos últimos 28 dias e com uma tendência clara de que pode romper para baixo os R$ 19,00/kg. E as escalas que já estavam alongadas, fecharam a semana em São Paulo com 12 dias úteis já fechados, ou seja, ainda não há sinais no físico que sustentem uma retomada do boi gordo no mercado físico de volta aos R$ 325-330,00/@ que foram vistos no início do mês de dez/21.
Diante da atual precificação dos futuros e com o frigorífico “confortável” em suas escalas, não visualizamos motivo para acelerar as vendas neste momento. A “janela” de comercialização para aqueles que buscavam boas oportunidades para fazer o hedge dos seus animais e assim garantir margem da operação parece ter se finalizado, por isso, a recomendação atual é aguardar.
Uma nova janela de boa precificação deve aparecer em jan/22, com as projeções de escassez de oferta e volta chinesa ao radar, e, com isso, novas travas poderão ser feitas. Desta forma, para os pecuaristas que ainda buscam fazer hedge de seus bovinos, na precificação atual (média de R$ 315,00/@ para o 1º trimestre de 2022) nossa recomendação é aguardar. Esse posicionamento pode se alterar para aqueles que não fizeram nada de trava e caso o preço volte a circular acima dos R$ 325,00/@ para esse mesmo trimestre durante a próxima semana, aí sim, atingindo esse nível, a comercialização de animais pode voltar a ser feita da forma como foi abordada nos últimos relatórios.
No espectro especulativo, acreditamos que uma boa oportunidade de compra no dez/21 pode ser feita na compra de futuros próximos aos R$ 302,00/@, como o mercado ainda está com um viés baixista, a saída em caso de perda deve ser bem definida com perda controlada indicada próxima aos R$ 299,00/@, assim como o ganho estimado com a saída nos R$ 309,00/@. Diante das atuais circunstâncias e precificações do físico, visualizamos a possibilidade desta operação especulativa.
O termômetro do boi gordo continua “frio”, principalmente no mercado físico, e só esquentará com possíveis novidades vindas do outro lado do mundo (China).

 

2. Enquanto isso, no atacado…
O mercado atacadista de carne bovina mostrou menor apetite nesta segunda semana de dezembro/21.  A capitalização dos consumidores devido ao recebimento dos salários e decimo terceiro, não foi o suficiente para destravar as vendas no varejo, mantendo a dificuldade de escoamento em todos os cortes comercializados no atacado paulista. Portanto, com a sobra de mercadoras nas prateleiras, a carcaça casada bovina encerrou a sexta-feira cotada em média de R$ 19,37/kg, desvalorizando -1,74% no comparativo semanal.
As cotações do frango resfriado em São Paulo continuaram recuando. O preço está em queda devido ao enfraquecimento das vendas da carne na ponta final e a consequência deste movimento é a sobra de cortes nas prateleiras. Com isso, os varejistas vão ofertando valores cada vez menores para executar novas compras e desta forma o frango resfriado encerrou a semana cotada em média de R$ 6,37/kg, desvalorizando -3,25% no comparativo semanal e renovando a mínima semanal dos últimos seis meses.
No mercado da proteína suína, apesar das vendas estarem apresentando bons volumes devido a demanda sazonal de final de ano, ainda assim a desvalorização das demais proteínas segurou a carne suína de manter-se em patamar elevado. Desta forma, carcaça especial suína encerrou a semana com desvalorização de -3,37% no comparativo semanal e cotada em média de R$ 10,21/kg.
De modo geral nota-se que o consumidor brasileiro ainda sofre para manter o padrão de demanda por proteína animal elevado, e, com isso, a sustentação dos preços de todas as proteínas animais é fraca, ainda que a oferta esteja enxuta. A segunda semana do mês se encerra com recuos e sobras de mercadorias para os varejistas, desta forma, o encaminhamento para a quinzena final do último mês do ano não aparenta ser boa.

 

3. No mercado externo
 Durante a última semana 21,99 mil toneladas de carne bovina in natura foram exportadas, média de 4,40 mil t/dia, 16,83% de queda no comparativo semanal. Até o momento, dez/21 acumula um volume de 37,85 mil toneladas embarcadas do produto, o equivalente a 26,56% de todo o mês em 2020.
O preço médio recebido pela tonelada ficou em US$ 4,91 mil, alta de 1,94% ante a semana retrasada. Com isso, as vendas externas da proteína bovina nos 8 dias úteis do mês corrente consolidaram um montante de US$ 185,69 milhões, 20,49% a menos que o mesmo período no ano passado, quando o produto era comercializado em média a US$ 4,51 mil/t.
Com 744,05 mil toneladas exportadas na última semana, o volume embarcado de milho avançou 80,33% no comparativo semanal. A média diária das vendas externas está em 144,58 mil toneladas e com isso o mês corrente totaliza 1,16 milhões de toneladas exportadas, volume 34,51% a menos que o mesmo período em 2020. O preço médio de venda do produto está em US$ 241,2/t, com dezembro/21 totalizando um montante de US$ 279,02 milhões com as vendas internacionais, o equivalente a 30,10% de todo o dez/20.
Durante a última semana, 101,21 mil toneladas do cereal foram importadas, média de 20,24 mil t/dia, alta de 30,85% no comparativo semanal. Até o momento, em dez/21 147,62 mil toneladas de milho chegaram ao Brasil, sendo investidos US$ 35,58 milhões nas compras internacionais, montante equivalente a 92,18% de todo o mês em 2020.
Durante a última semana 831,98 mil toneladas de soja foram exportadas, média de 166,40 mil ton/dia, 59,02% de alta ante a semana retrasada. Os 8 primeiros dias úteis de dez/21 totalizam 1,14 milhões de toneladas embarcadas da oleaginosa, 4,2 vezes mais que todo o mês no ano passado.
O preço médio da commodity foi de US$ 501,40/t, alta de 3,67% no comparativo semanal. Com isso, as vendas externas de soja do mês corrente consolidaram uma receita de US$ 574,55 milhões, volume 14,2 vezes maior que o mesmo período em dez/20.
 

 

4. O destaque da semana
O destaque da semana fica por conta do mais novo ativo do mercado, o “Boitcon”.
Brincadeiras à parte, a pecuária vem se mostrando a cada dia que passa que não é mais aquele mercado definido por poucas oscilações em um curto espaço de tempo, até quando comparado à ativos que historicamente possuem maior volatilidade.
A intensidade de variação do boi gordo nos últimos dois meses surpreendeu até mesmo os mais experientes do mercado. O animal chegou a acumular queda de -15,50% em um intervalo de 30 dias no dia 26/10/2021 e cerca de um mês depois, no dia 29/11/2021, a variação observada no intervalo de 30 dias do mesmo boi gordo no mercado físico paulista chegava a +26,64%. Ou seja, em um intervalo de 60 dias, o animal chegou a ter uma volatilidade que superou 40 pontos percentuais.
A oscilação que observamos no mercado pecuário nos últimos 60 dias não foi constatada nem para milho e soja, commodities agrícolas que historicamente apresentam variação bem maior que do boi gordo, nem para outros mercados como dólar e o índice Ibovespa. O único ativo que no intervalo analisado no gráfico abaixo que superou o boi gordo foi o bitcoin, um dos ativos mais especulados e novos do mercado, que sempre registrou alto nível de volatilidade.

 

Fonte: B3; Cepea; Broadcast; Agrifatto;

 

Para o pecuarista que busca garantir suas margens e crescer sua produção esse nível de volatilidade pode ser altamente comprometedor para o cumprimento de metas de rentabilidade. Com isso, o incentivo a olhar para os mecanismos de hedge vai crescendo cada vez mais, principalmente em uma atividade que o investimento, os custos de produção e o risco são cada vez maiores, como é a pecuária atual.
Apenas para exemplificação: aquele pecuarista que não geriu riscos e teve que vender seus animais durante a última quinzena de out/21 realizou negócios no pior preço de 2021, sendo que cerca de 2 meses antes, a B3 oferecia oportunidades dos maiores preços da história para o vencimento out/21. E considerando os acontecimentos dos últimos anos, o que acreditamos por aqui é que o nível de volatilidade da pecuária brasileira só tende a aumentar e fica na mão do pecuarista de como ele pretender lidar com essa mudança da pecuária.
Agrifatto