Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Durante a última semana os preços do boi gordo continuaram subindo no mercado físico paulista, mesmo com o leve aumento das escalas de abate no país, a oferta de animais prontos para o abate segue pequena e com isso os preços permanecem pressionados. No estado de São Paulo, o boi gordo foi negociado a um preço médio de R$ 317,09/@ no período, uma alta de 2,69% no comparativo semanal. Um ponto interessante da semana passada é que a valorização do boi gordo perdeu intensidade, visto que esta foi a menor alta das últimas três semanas.
O suíno vivo passou por uma semana de forte alta, influenciado pela demanda da carcaça suína que aumentou nessa reta final de 2021, graças ao consumo sazonal maior por alguns cortes do animal para as festas de fim de ano. O preço pago ao produtor pelo animal ficou na média de R$ 7,66/kg, valorização de 7,47%.
Influenciada pelos futuros na bolsa de Chicago, a soja avançou no mercado físico brasileiro. Em Paranaguá/PR, a oleaginosa foi negociada a um preço médio de R$ 170,66/sc, valorização de 2,60% no comparativo semanal. O subproduto da soja também passou por alta em território brasileiro, o farelo de soja fechou a última semana com variação positiva de 1,40%, atingindo os R$ 2.408/t, o maior nível do mês de nov/21.
O petróleo, que vinha acumulando altas expressivas, despencou na última semana devido ao temor do mercado por uma nova onda de covid-19, após a descoberta de uma nova variante na África do Sul. O petróleo WTI encerrou a sexta-feira cotado a US$ 68,17/barril, um recuo de 10,42% no comparativo semanal. A apreensão global com novas restrições e lockdowns cresceu com a descoberta da variante Omnicron.
1. O boi gordo na B3
Nesta semana quem deu o tom de valorização na B3 foi a expectativa futura de reabertura da China para a compra de carne bovina brasileira. Na terça-feira o governo chinês declarou que iria aceitar todas as cargas que estavam nos portos do país e que foram certificadas antes do dia 03/09/2021, com isso, todo o imbróglio sobre os contêineres parados nos portos vai se resolvendo.
Ainda que os chineses não tenham retomado a compra, o mercado emplacou alta nos vencimentos mais longos, em oposição ao que vinha ocorrendo nas semanas anteriores, quando quem ditava o ritmo da alta era o físico.
Enquanto o vencimento para nov/21 emplacou alta de apenas 0,54% no comparativo semanal, o dez/21 registrou valorização de 2,94% e o jan/22 de 2,33%, ou seja, o mercado estaria confiante na volta chinesa para estimular o preço do animal nos próximos 60 dias.
No mercado físico, diferentemente das últimas três semanas, a alta observada foi mais tímida, com a referência Cepea ficando nos R$ 318,10/@, emplacando alta de 1,26% no comparativo semanal.
Estamos nos atentando aos sinais que o mercado está pontuando neste momento. Ainda que a oferta esteja minguando, as escalas de abate conseguiram avançar em praticamente todos os estados acompanhados (com exceção do Tocantins) e as altas frenéticas da carcaça casada no atacado pararam de acontecer, ou seja, aquele cenário de alta contínua e forte do boi gordo dá lugar algo mais calmo. Ainda assim, o cenário permanece firme para as cotações do animal, principalmente caso a notícia de reabertura chinesa para a carne bovina aconteça.
No entanto, esse pode ser considerado um ditado no Brasil (o país do hedge): “o momento de comprar proteção se faz quando se deita a cabeça no travesseiro e se dorme bem”. Estamos flertando novamente com as máximas do boi gordo nos vencimentos futuros, são preços que podem promover uma boa rentabilidade para quem vive da pecuária, desta forma, acreditamos que o ideal neste momento é focar nas travas dos animais.
Diante de todas as formas de negociações via B3 que encontramos atualmente para garantir um bom patamar de preço, a venda de futuros continua sendo a mais interessante. Desta forma, acreditamos que comercializar via venda de contratos futuros de boi gordo para jan/22, fev/22 e mar/22 seja uma das opções mais interessantes para aqueles que planejam abater seus animais nesses meses. A referência para negócio nos R$ 330,00/@, com ágio de R$ 10,00/@ sobre o físico e diante das condições de mercado atual (atacado mais enfraquecido e escalas alongando), se apresenta como uma boa opção de trava para 50% dos animais. Para o restante do rebanho, deixamos em aberto, aguardando possíveis novidades vindas da China referente a uma reabertura das compras.
O mercado de opções simples está praticamente inviável, diante da volatilidade nas máximas históricas (24%-26%). No entanto, para aqueles que querem gastar pouco e ainda assim estar protegido contra catástrofes, é possível adquirir PUTs de R$ 285,00/@ gastando menos de R$ 1,00/@.
A montagem de uma operação estruturada é o movimento que nos parece mais interessante diante do que é oferecido atualmente no mercado de opções.
Desta forma, acreditamos que a operação de COLLAR (compra de PUT – venda de CALL), seja uma forma interessante de operar com opções a um custo baixo e ainda sim ficar exposto a uma alta leve do boi gordo. Para exemplificar essa operação ela seria feita da seguinte forma (considerando a operação para os meses de jan/22, fev/22 e mar/22):
Compra de PUT com strike nos R$ 318,00/@, custo médio de R$ 9,67/@
Venda de CALL com strike médio nos R$ 349,00/@, custo médio de R$ 9,67/@
Custo total: R$ 0,00/@.
Essa operação garantiria receber o mínimo de R$ 318,00/@ pelo seu animal e abriria a possibilidade de surfar em uma possível alta até os R$ 349,00/@, ou seja, fica exposto a uma queda de 4,38% frente o futuro atual (R$ 332,57/@) e a uma alta de 4,9%. Cabe a ressalva de que essa posição pode exigir depósito de margem e que se caso o animal ultrapasse os R$ 349,00/@, o detentor deixa de surfar na alta.
Conjecturando o espectro especulativo, vemos um direcional de alta perdendo sua força, diante das fortes valorizações dos últimos dias, no entanto, a volta da China poderia dar mais fôlego, principalmente para o fev/22. A entrada na compra nesses vencimentos poderia ser feita no patamar atual R$ 332,00/@ mas com a métrica de saída (stop loss) bem definida, com a perda aceitável em torno de 1 a 1,5%.
O termômetro do boi gordo continua levemente aquecido, com as altas ainda podendo acontecer, no entanto, o movimento frenético de alta está fora do radar neste momento.
2. Enquanto isso, no atacado…
O mercado atacadista paulista encerrou a última sexta-feira de novembro/21 com reajustes negativos nas cotações dos principais cortes bovinos comercializados. Os preços se sustentaram ao longo da semana, devido a pouca oferta de proteína bovina disponibilizada no mercado. No entanto, a sazonalidade mensal típica de fim de mês reservou a primeira desvalorização da carcaça casada em um comparativo diário dos últimos 21 dias. Ainda assim, o comportamento durante a semana foi sustentado e a carcaça casada bovina encerrou o período com uma média de R$ 19,78/kg, alta de 2,02% no comparativo semanal.
No mercado de frango a realidade já é outra. As cotações da carne de frango seguem um movimento de queda, que está acontecendo desde set/21, que é consequência do fraco ritmo de vendas no mercado atacadista. Os vendedores reajustaram os preços negativamente na expectativa de que assim o fluxo dos negócios melhore, evitando a sobra de mercadorias no estoque. Sendo assim, o frango resfriado encerrou a semana cotado em média de R$ 7,09/kg, desvalorizando -2,11% no comparativo semanal e o menor valor desde a 1ª semana de julho/21.
Já o mercado da proteína suína em São Paulo segue em ritmo de vendas considerados normais. As ofertas se mostraram encurtadas, porém, não houve sinalização de falta de animais para abate. O mercado permanece firme e com a demanda ajustada para suprir a sazonalidade referente as festividades do final de ano. Portanto, a carcaça especial suína encerrou a semana cotada em média de R$ 10,60/kg, mostrando valorização de 5,27% no comparativo semanal.
De modo geral, o mercado da proteína bovina segue em clima especulativo, apostando em altas nas cotações devido a escassa oferta de animais prontos para abate. A expectativa de melhora no ritmo de vendas com a chegada da primeira semana de dezembro/21 e consequentemente salários e 13º é grande. No entanto, o mercado segue em incógnita devido a chegada a níveis próximos as máximas históricas.
3. No mercado externo
Durante os últimos 7 dias úteis as exportações de carne bovina in natura ficaram em 22,42 mil toneladas, uma média de 3,20 mil t/dia, 21,74% de queda no comparativo semanal. Com isso, o mês de nov/21 se encerrou com 81,17 mil toneladas de proteína bovina enviada para fora do país, um recuo de 51,61% quando comparado ao mesmo período do ano passado.
O preço médio da proteína vermelha no mercado internacional ficou em US$ 4,92 mil/t, recuando 4,72% no comparativo mensal. As vendas externas do produto no último mês consolidaram um montante de US$ 399,58 milhões, 45,89% inferior ao que foi arrecadado em nov/20, quando o preço da carne bovina brasileira era negociada em torno de US$ 4,40 mil/t.
Durante os últimos 7 dias úteis as exportações de milho totalizaram 774,43 mil toneladas, uma média diária de 110,63 mil toneladas, avançando 0,11% no comparativo semanal. As vendas externas de nov/21 totalizaram 2,4 milhões de toneladas, volume 49,22% inferior comparado ao mesmo período no ano passado. Com um preço médio de US$ 215,1/t, os embarques do grão no último mês geraram uma receita de US$ 516,90 milhões, 38,78% a menos que nov/20, quando a tonelada era avaliada em US$ 178,4.
Já as importações do cereal fecharam os mesmos 7 dias úteis em 223,91 mil toneladas, média de 31,98 mil t/dia, um avanço de 34,57% no comparativo semanal. As compras do cereal no mercado internacional atingiram um novo recorde mensal, totalizando 621,37 mil toneladas em nov/21, 3 vezes mais que o mesmo período em 2020. O preço médio ficou em US$ 244,0/t e com isso, para as importações do grão foram investidos US$ 151,62 milhões, 26,43% de alta no comparativo entre os meses.
Os últimos 7 dias úteis contaram com 647,92 mil toneladas de soja embarcadas. Com uma média diária de 136,16 mil toneladas, as exportações da oleaginosa do último mês superaram 2,5 milhões de toneladas, volume superior em 80,21% ante novembro do ano passado.
O preço médio do grão ficou em US$ 510,8/t, um recuo de 2,24% ante out/21. Com isso, as vendas externas de soja totalizaram uma receita de US$ 1,32 bilhões, 2,5 vezes mais que o montante arrecadado em nov/20, quando a oleaginosa era avaliada em US$ 368,2/t.
4. O destaque da semana
Após meses consecutivos de piora, a relação de troca boi gordo/milho finalmente começa a dar sinais de melhora para o pecuarista tanto no mercado físico quanto no mercado futuro. Ainda que reste dois dias para a finalização do mês de nov/21, a relação de troca do boi gordo com o milho neste mês deve encerrar ao melhor valor dos últimos nove meses. Sendo possível adquirir 3,50 sacas de cereal com a venda de uma arroba de boi gordo.
A forte recuperação do boi gordo neste mês em conjunto com a desvalorização do milho fez com que finalmente essa relação voltasse a ultrapassar os 3,50 scs/@. E, considerando as condições futuras de precificação há níveis interessantes de comercialização na B3. As referências para os próximos 6 meses apontam para uma relação média de 3,79 sacas/@, valor que já seria o melhor desde set/20, quando o cereal era negociado à R$ 60,06/sc.
Ou seja, para aquelas propriedades que dependem muito desse tipo de relação, já que a composição da ração dos animais no Brasil é em grande parte precificada pelo milho atualmente, bons momentos de comercialização começam a aparecer na tela desses pecuaristas.
Fonte: Agrifatto; B3;