Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto

 

Resumo da semana:
O ritmo de alta continuou dando cartas no mercado físico do boi gordo, a escassez na oferta do animal pronto para o abate faz com que a arroba siga firme no movimento de alta, atingindo patamares vistos pela última vez final do mês de ago/21. No estado de São Paulo/SP, o preço médio das negociações da última semana ficou em R$ 308,78/@, emplacando valorização de 7,55% no comparativo semanal. Vale a ressalva de que a valorização da carcaça casada bovina no atacado paulista também deu sustentação para que o boi gordo permanecesse firme em sua valorização.
Com a demanda pela carne suína iniciando a segunda quinzena de novembro de maneira aquecida, o suíno vivo avançou no mercado físico. No estado de São Paulo, o preço pago ao produtor pelo animal fechou a semana em R$ 7,31/kg, valorizando 9,43% frente a sexta-feira retrasada. A entrada na reta final do ano, período em que o consumo de suíno tende a ser mais aquecido, também deu sustentação para a alta do animal vivo.
Acompanhando a valorização da soja em Chicago (impulsionado pela alta de seus derivados) e com sinal positivo da demanda, a oleaginosa avançou no mercado físico brasileiro. Em Paranaguá/PR, a saca foi comercializada a um preço médio de R$ 165,86 na semana, avanço de 3,73%. A sustentação do dólar acima dos R$ 5,50 também auxiliou para que a oleaginosa permanecesse com preços firmes no Brasil.
A possibilidade de EUA e China liberarem suas reservas de petróleo e preocupações com o avanço da covid-19 em uma nova onda, fez com que o betuminoso recuasse na última semana.  O petróleo WTI recuou 6,16%, fechando a sexta-feira cotado a US$ 75,81/barril, o menor valor desde o início de out/21.

 

 

1. O boi gordo na B3
Mais uma semana em que a força do boi gordo na B3 veio da movimentação no físico. Não à toa, os vencimentos mais curtos foram os que mais se valorizaram na semana. Ao que tudo indica, o mercado diminuiu sua aposta na alta contínua do animal.
Enquanto no físico a referência Cepea voltou aos R$ 314,15/@ (pela primeira vez nos últimos 54 dias), na B3, o contrato que mais se valorizou foi o nov/21, com alta de 3,75%, fechando a sexta-feira a R$ 318,00/@. Os vencimentos mais longos (jan/22 e fev/22) imprimiram uma alta de apenas 0,84% e 0,79%, respectivamente. Ou seja, o ímpeto contínuo de alta do animal no médio prazo perdeu força.
É fato que pode ocorrer maiores valorizações nos próximos dias, mas essa alta irá se escorar no comportamento do físico. Ao que parece, a B3 perdeu a força compradora de médio prazo que tomou conta dos negócios nas últimas 3 semanas.

 

Fonte: Agrifatto; Cepea; B3;

 

Umas das possíveis motivações para o mercado ter perdido um pouco do seu fôlego de médio prazo é o primeiro sinal de trava que o mercado atacadista paulista deu após três semanas de forte alta. Diferentemente da semana retrasada, onde a carcaça casada emplacou alta de R$ 1,50/kg durante a semana, desta vez, a valorização foi de apenas R$ 0,50/kg, e, o pretendido pelos frigoríficos era um ajuste positivo de R$ 1,00/kg. Ou seja, a dificuldade em repassar as altas começou, o que é um sinal muito parecido com o que tínhamos em junho-julho deste ano, quando o boi gordo testou os R$ 321,00/@ em São Paulo e não conseguiu ultrapassar.
Desta forma, acreditamos que o mercado está bem firme no curto prazo e que dificilmente iremos ver uma desvalorização do boi gordo nas próximas duas semanas, no entanto, o cenário de médio prazo é um pouco mais nebuloso e por isso para aqueles que detêm animais para a entrega no segundo trimestre de 2022, a recomendação vai em linha com o que pontuamos na semana passada:
“Diante disso, para aqueles que enxergam na precificação acima dos R$ 325,00/@ um bom valor para garantir a margem positiva na atividade e afastar o risco de exposição a problemas como os que acometeram a pecuária em out/21, a recomendação é de trava de ao menos 50% dos animais a serem entregues no primeiro trimestre de 2022. A operação mais interessante para realizar esse travamento é via a venda de futuros para os vencimentos de jan/22, fev/22 e mar/22 acima dos R$ 325,00/@ atuais. Essa operação deve ser encarada com o intuito exclusivo de hedge, e, aqueles que a executarem devem ficar atentos aos ajustes diários que possam ocorrer caso o mercado ainda explore patamares acima deste.
Com o mercado muito intenso, a volatilidade das opções desestimula muito a execução de estratégias simples de opções, seja a compra de PUTs ou de CALLs.
A montagem de uma operação estruturada faz mais sentido para aqueles que preferem operar opções, desta forma, enxergamos em uma COLLAR comprando PUTs de R$ 310,00/@ e vendendo CALLs de R$ 345,00/@ uma operação de custo zero e que garante o valor mínimo de R$ 310,00/@ para o boi gordo em São Paulo. Ainda assim, cabe a ressalva de que essa operação irá exigir depósito de margem por conta da venda da opção de compra (CALL) e que a exposição a alta se limitaria aos R$ 345,00/@, valor de difícil concretização na nossa percepção e que faria sentido dentro da métrica de proteção.
Nesta semana, por enquanto, iremos nos ausentar de novas operações especulativas, por enxergar poucas possibilidades, e focar apenas no hedge dos animais que serão comercializados no primeiro trimestre de 2022.”
Ou seja, o mercado do boi gordo está firme e deve testar novas máximas, no entanto, sinais de travamento já começam a aparecer no horizonte de precificação, por isso, o termômetro do boi gordo perde um nível de “calor.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
A escassez de oferta de gado gordo pressionando os preços do animal e consequentemente sendo repassado pelos frigoríficos aos varejistas é o que dita o ritmo dos preços no mercado atacadista paulista. A carcaça casada bovina encerrou a última semana cotada a uma média de R$ 19,32/kg, demonstrando valorização de 6,88% no comparativo semanal e atingindo o maior valor desde a terceira semana de set/21, ou seja, ao menos a carne já recuperou o patamar anterior a EEB atípica não-transmissível atingir o Brasil.
No mercado de frango em São Paulo, a retração do consumo ainda se faz existente. Com maior procura pelos cortes bovinos e suínos, a demanda para o frango resfriado continuou diminuindo, o que contribuiu para que o desempenho das vendas no varejo serem consideradas abaixo do normal esta semana. Com isso, o frango resfriado encerrou a semana cotado em média de R$ 7,27/kg, desvalorizando -2,22% no comparativo semanal.
A preparação dos varejistas para a demanda forte de final de ano, principalmente para cortes específicos do suíno, como o lombo, fez com que o mercado do animal se aquecesse nessa última semana, como não houve acompanhamento da oferta, não à toa houve valorização do suíno vivo, o preço registrou aumentos. A carcaça especial suína encerrou a sexta-feira cotada na casa de R$ 10,02/kg, com valorização de 6,86% no comparativo semanal.
De modo geral, a curto prazo, pode se dizer que o ímpeto que a demanda demonstrava no início de nov/21 tende a diminuir com a chegada do final do mês e o que ditará o compasso dos reajustes da carcaça casada bovina daqui para frente, será a intensidade do consumo interno. Portanto, para a próxima semana, o mercado deve seguir em âmbito especulativo e com reajustes menores do que nas semanas anteriores.

 

3. No mercado externo
Durante a última semana 20,46 mil toneladas de carne bovina in natura foram exportadas, 8,99% a menos que a semana retrasada. Até o momento, nov/21 totaliza 58,75 mil toneladas do produto enviadas para fora do país, uma média de 4,89 mil t/dia, 41,62% a menos que o mesmo período em 2020. Caso concretize esse padrão pelos próximos oito dias úteis, o volume exportado pelo Brasil deve ficar em torno das 95 mil toneladas.
O preço médio da proteína bovina ficou em US$ 4,93 mil/t, recuo de 0,39% no comparativo semanal. As vendas externas do início da segunda quinzena do mês corrente consolidaram uma receita de US$ 100,20 milhões e, com isso, nov/21 totaliza um montante de US$ 289,76 milhões com as exportações.
Durante a última semana 552,55 mil toneladas de milho foram exportadas, queda de 12,16% no comparativo semanal. O mês de nov/21 totaliza 1,62 milhões de toneladas embarcadas, equivalente a 34,42% de todo o mês em 2020. O preço médio do grão nas negociações do mercado internacional está em US$ 225,6/t, alta de 6,28% no comparativo semanal. Até o momento, as vendas externas consolidam um montante de US$ 367,45 milhões, 43,52% de todo nov/20.
As importações do cereal ficaram em 118,85 mil toneladas na última semana, 24,03% de queda no comparativo semanal. Até o momento foram importadas 397,46 mil toneladas, volume 1,9 vezes superior que todo nov/20. A um preço médio de compra no mercado internacional de US$ 245,3/t, nov/21 totaliza um montante de US$ 97,48 milhões investidos na compra do grão, 443,36% a mais que a mesma ocasião no ano passado.
As exportações de soja desaceleraram durante a segunda quinzena do mês. Com recuo de 41,10% no recuo entre semanas, o volume 400,37 mil toneladas deixaram a o país na 2ª semana do mês. O volume de soja exportado durante o mês corrente totaliza 1,93 milhões de toneladas do grão embarcadas, superando em 35,07% o mesmo mês em 2020.
O preço médio da oleaginosa exportada ficou em US$ 509,70/t, avanço de 1,28% ante a semana retrasada. Com a receita média diária na casa dos US$ 82,37 milhões, as vendas externas da soja totalizam um montante de US$ 988,50 milhões nos 12 primeiros dias úteis do mês corrente, 86,98% superior a todo nov/20.
 

 

4. O destaque da semana
A Rússia, que já foi um dos principais países importadores de carne bovina brasileira, comunicou ao governo brasileiro que irá abrir uma cota de 300 mil toneladas para importações de carnes com isenção tarifária, sendo 200 mil toneladas para a carne bovina e 100 mil para a suína. A informação foi dada pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que acrescentou que representantes russos irão fazer uma visita de inspeção ao Brasil para habilitar novos frigoríficos para exportações ao mercado russo, ainda no primeiro trimestre de 2022.
No ano de 2021, a Rússia foi responsável por adquirir 16,27 mil toneladas de carne bovina in natura brasileira, o menor volume desde o ano de 2018. A última vez que os russos importaram uma quantidade de carne bovina acima de 200 mil toneladas em um ano, foi em 2014, na ocasião 309,02 mil toneladas foram embarcadas para o país, volume 19 vezes superior ao que foi visto até outubro deste ano.
Ou seja, a Rússia já vem reduzindo suas compras de proteína bovina brasileira desde 2014, em um movimento que reduziu a participação do país nas exportações do Brasil de mais de 30% para algo em torno de 2%. A retirada de tarifas é um estímulo para mais proteína bovina brasileira adentrar ao solo russo, no entanto, a problemática de redução das importações de carne bovina russa é mais profunda.
O consumo interno e as importações totais da Rússia de carne bovina recuaram 30% e 68%, respectivamente, nos últimos dez anos. Ou seja, mesmo com a isenção tarifária conquistada pelo Brasil para 200 mil toneladas, o desafio em embarcar mais proteína bovina para Rússia está em fazer os russos aumentarem seu nível de consumo para o que era em 2012. Os embarques brasileiros devem sim crescer a partir dos próximos meses com essa isenção tarifária, mas dificilmente chegará a 20% da média mensal chinesa em 2021, que seria de 14 mil toneladas/mês.

 

Fonte: USDA; Agrifatto;

 

Uma outra notícia que esquentou o mercado brasileiro foi a de que a associação que representa os pecuaristas norte-americanos, reivindicaram a suspensão das importações de carne bovina brasileira, alegando que o Brasil não é eficiente em reportar casos de EEB à OIE. Esse movimento ocorre num momento em que as importações de carne bovina brasileira pelos norte-americanos vêm ganhando espaço.
Somente nos 10 primeiros meses deste ano o volume de carne bovina in natura exportada para os EUA já é o maior registrado dentro dos últimos 21 anos (48 mil toneladas), indicando que pode ser apenas pressões feitas pelos lobistas afim de frear a entrada da proteína brasileira no país. Mas é um fator de atenção, já que os EUA é um dos poucos países que poderia reduzir a dependência brasileira da China, visto que os norte-americanos são o segundo maior importador mundial de proteína bovina. A atenção a postura que o USDA adotará deve ser acompanhada de perto pelo setor pecuário brasileiro, afim de evitar sanções incoerentes como as que sofremos dos chineses.

 

Fonte: MDIC; Agrifatto;

 

 

Agrifatto