Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Laura Rezende é média veterinária e consultora pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Depois de recuar com força em set/21 e em out/21, o preço do boi gordo reagiu com força neste começo de mês. Com a redução das escalas de abate e o consumo doméstico ganhando forças neste final de ano, a arroba voltou a ser negociada a um valor próximo do que era visto antes da EEB. Em São Paulo, o animal pronto para o abate fechou a semana sendo negociado a um preço médio de R$ 287,11/@, alta de 9,09% no comparativo semanal. Entre o dia 05/11/2021 e o dia 12/11/2021 o indicador referência de São Paulo, Cepea, variou R$ 36,60/@.
A melhora do cenário para a engorda do bovino, com as chuvas se reestabelecendo em todo o país e arroba voltando a se valorizar, fez com que o preço da reposição se valorizasse. Durante a última semana no estado do Mato Grosso do Sul, o bezerro foi comercializado a um preço médio de R$ 2.725,52/cab no período, avançando 2,36% quando comparado a semana anterior.
No mercado físico do milho, o excesso da oferta em um momento de demanda retraída continuou a pressionar os preços praticados pelo grão. Na cidade de Campinas/SP, o cereal foi comercializado na média de R$ 84,68/sc, queda de 2,43% ante a semana retrasada. Cabe a ressalva de que a desvalorização do dólar também pesou para que o cereal voltasse a ser negociado abaixo dos R$ 85,00/sc.
Com a inflação oficial (IPCA) atingindo níveis acima dos dois dígitos no acumulado em 12 meses (10,67%), o mercado financeiro aumentou sua expectativa de que a elevação da taxa básica de juros possa se intensificar. Com isso, o dólar fechou a semana sendo cotado a R$ 5,42, queda de 1,63% ante a sexta-feira retrasada e freou o ímpeto de valorização dos grãos no Brasil.
1. O boi gordo na B3
Sustentado pelo mercado físico o preço do boi gordo na B3 fechou mais uma semana com forte valorização, com o vencimento para nov/21 saindo dos R$ 284,50/@ e fechando a sexta-feira cotado a R$ 306,50/@, com alta de 7,73% no comparativo semanal.
Diante disso, os vencimentos mais longos já dão referências acima da máxima histórica nominal que foi registrada em jul/21, quando o boi gordo registrou média de R$ 318,63/@. Os contratos para jan/22-fev/22 e mar/22 já superaram a barreira dos R$ 320,00/@ no fechamento da última sexta-feira (12/11/2021).
Fonte: Agrifatto; Cepea; B3;
A sustentação para essa forte valorização veio do físico, o qual está sofrendo pressão pela redução de oferta de gado confinado e pela boa resposta da demanda interna, que fez com que a carcaça casada voltasse ao patamar de R$ 19,00/kg ao fim da última semana. No entanto, essa pressão de alta pode estar começando a perder fôlego na nossa visão.
Se com a China, a carcaça casada bovina no atacado paulista enfrentava dificuldade para ultrapassar os R$ 19,50/kg e assim tratava a alta do boi gordo acima dos R$ 320,00/@, o rompimento desse patamar sem a China deve ser ainda mais difícil e por isso o sinal “amarelo” é acendido por nós!
Diante disso, para aqueles que enxergam na precificação acima dos R$ 322,00/@ um bom valor para garantir a margem positiva na atividade e afastar o risco de exposição a problemas como o que aconteceram na última quinta-feira (11/11/2021) e até mesmo o que acometeu a pecuária em out/21, a recomendação é de trava de ao menos 50% dos animais a serem entregues no primeiro trimestre de 2022. A operação mais interessante para realizar esse travamento é via a venda de futuros para os vencimentos de jan/22, fev/22 e mar/22 acima dos R$ 322,00/@ atuais. Essa operação deve ser encarada com o intuito exclusivo de hedge, e, aqueles que a executarem devem ficar atentos aos ajustes diários que possam ocorrer caso o mercado ainda explore patamares acima deste.
Com o mercado muito intenso, a volatilidade das opções desestimula muito a execução de estratégias simples de opções, seja a compra de PUTs ou de CALLs.
A montagem de uma operação estruturada faz mais sentido para aqueles que preferem operar opções, desta forma, enxergamos em uma COLLAR comprando PUTs de R$ 300,00/@ e vendendo CALLs de R$ 349,00/@ uma operação de custo zero e que garante o valor mínimo de R$ 300,00/@ para o boi gordo em São Paulo. Ainda assim, cabe a ressalva de que essa operação irá exigir depósito de margem por conta da venda da opção de compra (CALL) e que a exposição a alta se limitaria aos R$ 349,00/@, valor de difícil concretização na nossa percepção.
A montagem da operação especulativa sugestionada na semana passada, com a compra de futuros de boi gordo para jan/22 nos R$ 305-308,00/@, se for encerrada nos R$ 322,00/@ já denota um ganho de no mínimo R$ 14,00/@ e a nossa percepção é de ela deve ser encerrada, pois o risco da operação cresceu muito, não valendo a pena permanecer nela pois o retorno não valeria a pena.
Nesta semana, por enquanto, iremos nos ausentar de novas operações especulativas, por enxergar poucas possibilidades, e focar apenas no hedge dos animais que serão comercializados no primeiro trimestre de 2022.
2. Enquanto isso, no atacado…
Na semana que se passou, as cotações dos principais cortes bovinos comercializadas deram um salto de recuperação no mercado atacadista de carne bovina. A sazonalidade de consumo doméstico em nov/21 surgiu em peso, em um cenário que une a atual restrição de oferta de matéria prima, com o aumento significativo do consumo da proteína bovina, reflexo da maior capitalização dos consumidores. O volume disponibilizado foi menor do que as semanas anteriores e adjunto com maior movimentação do atacado e varejo, toda mercadoria foi comercializada, sem apresentar reclamações ou devoluções. Na atual conjuntura, a carcaça casada bovina encerrou a semana cotada em média de R$ 17,95/kg, mostrando valorização de 4,05% no comparativo semanal.
Com maior interesse e preços ainda competitivos a proteína bovina ficou a frente na preferência do consumidor, o que afetou o frango resfriado. Com a procura menor pelos cortes de frangos e a oferta ainda excedente para tal nível de demanda, a cotação para o frango resfriado passou por desvalorização de -2,83% no comparativo semanal e encerrou a semana com o preço médio de R$ 7,46/kg.
Já no mercado da proteína suína, as vendas no atacado se mantiveram em linha com as semanas anteriores, mas como as ofertas se ajustaram a demanda, a cotação do animal interrompeu as sucessivas quedas das últimas semanas. Com isso, a carcaça especial suína, encerrou a sexta-feira cotada na casa de R$ 9,37/kg, sem alterações significativas no comparativo semanal.
De modo geral, as vendas de carne bovina no mercado atacadista continuaram vigorosas pela segunda semana consecutiva, no entanto, a entrada da segunda quinzena do mês e a própria forte valorização nas últimas semanas coloca em xeque até onde pode ir a alta da carcaça bovina no atacado paulista, freando o ímpeto da volta ao patamar de R$ 20,00/kg.
3. No mercado externo
Durante a última semana 22,48 mil toneladas de carne bovina in natura foram exportadas pelo Brasil, uma média de 4,49 mil t/dia, o que representa uma queda de 14,59% no comparativo semanal. A primeira quinzena de nov/21 se encerrou com um total de 38,28 mil toneladas da proteína bovina encaminhada para fora do país, com a média diária mensal se estabelecendo em 4,78 mil toneladas, apesar do recuo na semana, ainda assim tal volume é 16,46% maior que o fechamento de out/21.
O preço médio da carne bovina brasileira fechou a segunda semana de nov/21 em US$ 4,95 mil/t, recuando 0,37% ante a semana retrasada. As vendas externas da primeira metade do mês consolidaram um montante de US$ 189,55 milhões, que resulta em uma média diária de US$ 23,69 milhões/dia, 35,83% inferior a média de nov/20. Cabe a ressalva de que apesar do preço estar caindo, o valor atual é 12,46% superior ao que fora registrado no mesmo mês do ano passado.
As exportações de milho avançaram durante a última semana, com uma média diária de 125,81 mil toneladas embarcadas, as vendas externas do cereal na 2ª semana de novembro somaram 629,06 mil toneladas e totalizaram 1,076 milhões de toneladas no mês corrente. A venda grão ficou a um preço médio de US$ 212,3/t, queda semanal de 13,35%. Com isso, as exportações do cereal durante a primeira quinzena de nov/21 geraram uma receita de US$ 228,44 milhões, e o volume é 22,74% do registrado no mesmo período no ano passado.
As importações de milho também encerram a primeira metade do mês em ritmo acelerado. As compras internacionais da última semana ficaram em 156,45 mil toneladas, alta de 28,08% no comparativo semanal. Já para as importações o cereal foi cotado a um valor médio de US$ 245,5/t, recuo de 1,10% na semana. Até o momento foram investidos US$ 68,38 milhões em nov/21 para as compras externas do grão, valor 5,7 vezes mais do que havia sido desembolsado na mesma ocasião em 2020, quando a tonelada valia US$ 142,8. O volume de cereal importado de 278,6 mil toneladas até a 2ª quinzena do mês corrente é 33,08% superior ao volume total importado em nov/20.
Na semana passada, 679,72 mil toneladas de soja foram exportadas, uma queda de 20,88% no comparativo semanal. Com isso, a primeira quinzena de nov/21 terminou com 1,53 milhões de toneladas da oleaginosa embarcadas, mas superando em 7,19% todo o mês no ano passado.
A tonelada da soja embarcada foi ao preço médio de US$ 503,3, valor 1,39% abaixo que na 1ª semana do mês. A receita obtida com as vendas externas totaliza um montante de US$ 774,46 milhões, superando em 46,5% a receita total obtida em nov/20 com a oleaginosa exportada.
4. O destaque da semana
Nesta última quinta-feira (11/05) o IBGE divulgou os resultados preliminares da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais. Os frigoríficos brasileiros abateram 6,90 milhões de cabeças de bovinos no 3º trimestre de 2021, um recuo de 2,24% em relação ao 2º trimestre e queda de 11,10% no comparativo anual.
Já a produção de carcaça ficou em 1,88 milhão de toneladas no 3º trimestre, um avanço de 0,5% frente ao produzido no 2º trimestre de 2021, o volume produzido no país só não recuou no comparativo trimestral pois o peso médio dos bovinos abatidos no país segue crescendo, desta vez, o peso médio das carcaças ficou em 270,98 kgs/animal, 2,82% acima do que fora registrado no 2º trimestre deste ano.
Fonte: IBGE; Agrifatto;
Nos meses de julho e agosto desse ano os abates vinham acontecendo na média de 2,5 milhões de cabeça/mês, porém em setembro (o mês que começou as restrições de exportações devido à suspeita do caso de EEB), esse número recuou para 1,91 milhão de cabeça, queda de 31,58% ou de aproximadamente 600 mil cabeças. Destacando a estratégia dos pecuaristas em reter ao máximo seus animais, ao mesmo tempo em que os frigoríficos diminuíram suas compras fortemente.
*Estimativa;
Fonte: IBGE; Agrifatto;
Os números do terceiro trimestre de 2021 vieram em linha com o que esperávamos, estimávamos cerca de 7,01 milhões de cabeças abatidas no período e o número consolidado foi de 6,91 milhões de cabeças. Com isso, a perspectiva de que 2021 seja o ano de menor abate de bovinos do Brasil desde 2004 vai se consolidando de maneira cada vez mais intensa.
Ainda assim, com o rebanho de fêmeas se reestabelecendo após os anos de descarte entre 2017 e 2019, a tendência natural é que 2022 registre uma melhora na oferta de animais, principalmente com a participação mais intensa das fêmeas no total abatido. Apesar de não visualizarmos uma forte pressão baixista no preço neste próximo ano, o direcional aponta com maior força para baixo em 2023, quando a margem da cria deverá estar mais pressionada. Acompanharemos!