Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Laura Rezende é médica veterinária e consultora pela Agrifatto

 

Resumo da semana:
A pressão baixista fez com que o boi gordo encerrasse mais uma semana em queda. Ainda sem um posicionamento do governo chinês, o mercado se encontra instável e os frigoríficos efetivam negócios com valores cada vez menores em todo o país. Com isso, as escalas de abate evoluem sem grandes dificuldades, e o mês da entressafra vai dando sinais de que deve ser o mais “barato” do ano. No estado de São Paulo, o animal pronto para o abate chegou nas mínimas de 2021 e fechou a semana no preço médio de R$ 280,88/@, queda de 4,97% no comparativo semanal.
Com a estabilidade da carcaça suína especial, o preço do suíno vivo encontra dificuldades em se valorizar mesmo diante da oferta ajustada. Em São Paulo, os produtores de suínos observaram o preço pago pelo animal recuar 0,13% no comparativo semanal, sendo negociado a R$ 7,61/kg. Vale destacar que o processo de desvalorização dos cortes bovinos no atacado paulista influencia as demais proteínas a não conseguir efetivar uma valorização.
Com uma demanda global aquecida e o real desvalorizado, os preços do algodão em pluma passaram um por uma forte alta. Na última semana, foi vendido a um preço médio de R$ 5,83/lp, alta de 6,11% ante a semana retrasada. Cabe a ressalva de que um dos fatores que puxa o algodão é o petróleo em alta (influenciando o preço do poliéster), e o barril do betuminoso está nas suas máximas dos últimos sete anos.
Atingindo patamares vistos pela última vez em abril deste ano, o dólar encerrou mais uma semana em alta devido ao momento de aversão ao risco internacional e problemas internos (políticos e fiscais) do Brasil. A moeda norte-americana fechou o período cotado a R$ 5,51, avanço de 2,82% ante sexta-feira retrasada.

 

1. Na tela da B3
Após algumas semanas deslocado, o preço do boi gordo no mercado físico voltou a “encostar” no futuro. Enquanto o vencimento para outubro/21 chegou a precificar os R$ 273,85/@ no início da semana, o físico oficial (Cepea) só foi ter tal referência de preço na última sexta-feira, quando foi negociado à R$ 271,25/@, o menor patamar do ano de 2021.
O vencimento para outubro/21 encerrou a semana com desvalorização de “apenas” 1,64%, fechando a sexta-feira negociado a R$ 278,85/@. No entanto, a volatilidade continua a ser intensa, mesmo com menos de 30 dias para o encerramento do contrato, a variação entre a máxima e a mínima no contrato para outubro/21 na última semana chegou a R$ 17,00/@.
A ausência chinesa e a necessidade de “retomar as atividades” por parte dos frigoríficos fazem com que os players ainda busquem qual o nível de equilíbrio para o boi gordo na B3, considerando a possibilidade de que os chineses demorem ainda mais para retomar as compras. Por isso a volatilidade impera sobre o mercado.
Diante de tamanha volatilidade, a exposição dos players vai se reduzindo, principalmente das Pessoas Físicas, que diminuíram a posição comprada para um saldo de apenas 302 contratos, o menor nível desde 21/05/2020, destacando o receio em ficar posicionado em um mercado que pode variar mais de 5% em apenas um dia. Por outro lado, os investidores institucionais (Fundos) viraram a mão pela em 2021, saindo de um saldo vendido (-2,52 mil contratos) para uma posição comprada de 1.205 contratos.
Enquanto não ocorrer a confirmação de como será o mercado chinês, a volatilidade irá imperar sobre os futuros de boi gordo na bolsa.

 

Fonte: Agrifatto; B3;

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Sem grandes alterações por parte da China, mesmo após o feriado, ressaltamos as palavras da última semana, com algumas atualizações e a adição (ao final do texto) sobre o desempenho do atacado nos últimos dias, que pode ser um “norte” para direcionar o preço mínimo do boi gordo em São Paulo:
“Conforme fora ressaltado na última semana, sem um posicionamento chinês o mercado iria sofrer com alta volatilidade diante de uma possibilidade crescente de excesso de oferta de proteína bovina no mercado interno.
A dificuldade do mercado interno em repassar a atual quantidade de proteína bovina disponibilizada pelos frigoríficos é tão grande, que o preço pago pela carcaça casada atingiu o menor patamar dos últimos quatro meses.
Caso a China não volte, teríamos duas opções: os frigoríficos continuarem abatendo e redirecionarem algo entre 50 a 100 mil toneladas para o mercado interno (que já está depressivo) ou então o que já está ocorrendo por agora, frigoríficos dando férias coletivas ou saindo das compras pois não há necessidade de continuar abatendo grandes volumes visto que a demanda pela proteína bovina brasileira foi cortada em torno de 15%.
(O prazo para permanecer fora do mercado vai se esgotando, as férias coletivas estão vencendo, eles irão voltar, mas com o atacado na mínima do ano, o preço ofertado será menor do que quando saíram de férias)
Diante disso, encaramos o cenário de maneira conservadora de curto prazo. Para aqueles que tem animais para entregar dentro dos próximos 60 dias, a trava deve ser estabelecida para evitar uma maior “sangria” da já espremida margem.
As opções de venda (PUTs) continuam como uma alternativa, no entanto, com a atual precificação desses contratos strikes com valores atrativos de compras só são vistos a partir dos R$ 270,00/@ para outubro e novembro/21, com um custo médio de R$ 2,17/@. Uma PUT SPREAD pode ser lançada no mesmo patamar de proteção em conjunto com a venda de uma PUT de R$ 255,00/@, tal operação imprimiria um custo de R$ 1,84/@, e, considerando o custo da PUT simples não faz tanto sentido optar pela PUT SPREAD neste cenário.
Outra operação que tem o mesmo sentido de proteger a margem é a venda de futuros para outubro/21 e novembro/21 no patamar atual de R$ 278,50/@ e R$ 291,90/@. Ainda que visualizamos que a B3 possa estar “exagerando” nesta movimentação negativa, a ausência chinesa do mercado por mais 30 dias pode ser catastrófica aos preços do boi gordo neste curto prazo. Logo, como já reafirmado anteriormente: “cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, desta forma a venda de futuros para esses meses se justifica no sentido de proteger seus animais contra uma desvalorização ainda maior. ”
Com a carcaça casada do bovino voltando a ser negociada abaixo dos R$ 19,00/kg, em desvalorização mesmo na primeira semana do mês, confirmamos o que já esperávamos, o mercado interno não aguentaria manter o preço com um maior volume de carne sendo despejada para os consumidores. Os frigoríficos cederão a pressão e já negociam a carcaça em valores que encostam nos R$ 18,00/kg.
Com isso, a precificação do boi gordo na casa dos R$ 270,00/@ é uma das “metas” desses frigoríficos, visto que a compra nesse patamar já significa trabalhar com uma margem bem menos apertada. O mercado busca entender agora até onde o atacado vai “esticar a corda” dos preços da carcaça casada, caso a China volte nesse meio tempo, é provável que vejamos esses R$ 270,00/@ se tornar o “fundo do poço” de 2021.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
O mercado atacadista paulista passa por um cenário desafiador, marcado por inseguranças e volatilidades. Por conta de importantes desvalorizações do boi gordo, baixo desempenho do varejo e o silêncio em relação a retomada de embarques da proteína bovina para a China, os preços dos principais produtos bovinos comercializados cederam às pressões baixistas e passaram por reajustes negativos conforme a semana foi avançando. Com isso, a carcaça casada bovina encerrou a sexta-feira cotada em média de R$ 18,95/kg, desvalorizando -0,71% no comparativo semanal e flertando com as mínimas de 2021.
No mercado de frango em São Paulo, as ofertas estão mais alinhadas com a atual demanda e este apresentou vendas que foram consideradas normais ao longo da semana. Como reflexo, os preços dos produtos comercializados passaram por leves ajustes positivos, já que os frigoríficos estão apostando em aquecimento do mercado para o final do ano. Portanto, as cotações de frango resfriado fecharam a semana em R$ 8,19/kg, com valorização de 0,81% no comparativo semanal.
A situação no mercado da proteína suína ainda segue sem perspectivas de forte valorização diante do atual patamar. A comercialização durante a semana no varejo permaneceu sem grandes novidades, alinhada aos volumes que vinham sendo comercializados nas últimas semanas. As ofertas foram consideradas curtas e com isso os preços permaneceram estáveis. Desta forma, a carcaça especial suína fechou a sexta-feira cotada em R$ 10,44/kg, sem modificações significantes no comparativo semanal.
Ao que tudo indica, a China ainda segue “ditando as regras” do mercado brasileiro de carne bovina. A demora em se chegar no acordo para a retomada das comercializações da proteína bovina é o principal fator de morosidade atual, adjunto com a baixa demanda do consumo interno. Nem mesmo o recebimento dos salários na primeira semana de outubro ou a chegada do feriado do dia 12 trouxeram animo para melhora do consumo interno da carne vermelha. E com o dianteiro recuando ao menor nível desde jan/21, as outras proteínas (frango e suíno) começam a sofrer uma competição mais dura e que deve dificultar altas em seus valores.

 

3. No mercado externo
Com a interrupção das compras dos chineses, as exportações brasileiras de carne bovina começaram a sentir os reflexos de tal medida. Foram 30,43 mil toneladas de proteína bovina embarcada nos seis primeiros dias úteis de out/21, resultando em uma média diária de 5,07 mil toneladas, 37,65% abaixo da média de out/20 e 43,05% da média de set/21. Este é o pior resultado para uma primeira semana desde jan/21.
Até mesmo o preço médio da carne bovina sentiu a saída chinesa, sendo negociada em média a US$ 5,34 mil/t, 7,77% abaixo do que fora visto em set/21. Com isso, a receita caiu em proporção ainda maior quando comparado aos valores do mês anterior, atingindo uma média de US$ 27,09 milhões/dia, 47,47% abaixo do que fora visto em set/21.
Nos primeiros 6 dias úteis de outubro/21 o volume de 482,8 mil toneladas de milho deixou os portos brasileiros, quantidade que corresponde a 9,65% do total de milho exportado em outubro/20. Com o preço da tonelada em US$ 201,5/ton, a receita obtida com as exportações do cereal é de US$ 97,29 milhões e corresponde a 12% da receita total obtida em outubro/20 quando o valor da tonelada era de US$ 166,8.
As importações do cereal registraram 207,2 mil toneladas na 1ª semana de outubro/21, volume 7% superior ao total registrado no mês de outubro/20. Com valor de US$ 239,2/ton, 82% superior a outubro/20, o cereal importado teve um custo US$49,55 milhões, quase o dobro do valor total do milho importado há um ano atrás.
As exportações de soja iniciaram o mês em ritmo acelerado com 240,2 mil toneladas carregadas diariamente, praticamente o dobro do volume carregado diariamente em outubro/20. Somente na 1ª semana do mês corrente 1,441 milhões de toneladas deixaram os portos brasileiros, volume que corresponde a 59,5% de toda soja exportada em outubro/20.
Com o preço médio atual da tonelada em US$ 528,30/ton e 45% superior ao mesmo período do ano passado, o faturamento obtido com as exportações da oleaginosa é de US$ 761,4 milhões durante a 1ª semana de outubro e corresponde a 86% do faturamento total registrado em outubro/20.

 

4. A compra do pecuarista
Com as ofertas de milho futuro já em negociação, a tabela abaixo mostra a referência de preço futuro para cada região, considerando a diferença média histórica de cada praça para o indicador CEPEA para Campinas/SP e projetando essa diferença nos preços da B3, com os preços indicados em R$/sc.

 

Fonte: Agrifatto, CEPEA-ESALQ, Broadcast.

 

No momento há a indicação de mercado estabilizado no médio prazo devido ao cenário de safra que se desenha e com recorde histórico das importações. Já visando o prazo mais longo, mas cotações começam a ceder diante da boa expectativa para a produção de milho na temporada 21/22, até momento.
Para tal se faz necessário o início planejamento para aquisições futuras de milho, visando a recomposição dos estoques, analisando as ofertas no custo de produção para o pecuarista e da mesma forma auxiliando para balizar essas negociações.

 

5. O destaque da semana
Em meio ao cenário de crise energética que se espalha pelo mundo, o preço do barril de petróleo passou por fortes altas nas últimas semanas. A medida em que as economias se recuperam da pandemia causada pela COVID-19, a demanda pelo betuminoso aumenta, enquanto as interrupções logísticas reduzem a oferta.
O petróleo WTI fechou a última semana sendo negociado a US$ 79,44/barril, uma alta de 4,69% ante a sexta-feira retrasada. Já o Brent avançou 4,09% no período, sendo negociado a US$ 82,52/barril, ambos em seus maiores valores desde novembro de 2014. Essa forte alta do betuminoso reflete em maiores custos com o diesel para o pecuarista.
Desde o início de 2021, o diesel se valorizou 28,26% em São Paulo, saindo de R$ 3,62/l em janeiro/21 para R$ 4,89/l em setembro/21. No mesmo período, a arroba do boi gordo avançou em passos mais curtos, tendo uma alta de 4,51% e fechando o mês passado em R$ 302,05/@. Com isso, a relação de troca entre arroba do boi gordo sobre o diesel no estado vem recuando, chegando a 65,05 litros por arroba em setembro/21, o menor valor desde abril/20.

 

Fonte: ANP/Cepea/Agrifatto

 

A tendência é que a demanda energética pelos países continue forte, enquanto a sua produção ainda enfrenta desafios, traduzindo em preços elevados por um bom período. Já a arroba do boi gordo, deve voltar a avançar no médio prazo, pois não há motivos técnicos para se manter o embargo sobre a exportação de carne bovina para a China.
Portanto, após atingir um pico em novembro/20, onde o pecuarista conseguia adquirir 83 litros de óleo diesel com a venda de uma arroba de boi gordo, essa relação entrou em redução e deve operar em leve queda e estabilidade para os próximos meses, ficando em linha com os valores atuais (próximo dos 60 litros/@).

 

6. E o que está no radar?
A primeira semana de out/21 foi marcada por grande volatilidade, devido a imprevisibilidade do cenário em que estamos e a falta de notícias da retomada das importações chinesas, com isso o contrato para outubro/21 recuou 1,64% no comparativo semanal. Já no mercado físico o acumulado da semana apresentou queda expressiva de 7,19%, onde a cotação do boi gordo saiu de R$ 286,55/@ na segunda-feira e fechou a R$ 271,25/@ na sexta-feira, menor valor desde dez/2020.
Alguns boatos saíram no mercado de uma possível retomada das exportações para a China a partir de sexta-feira (08), quando as atividades do país voltariam ao normal após o feriado nacional que durou uma semana. Porém até o momento não recebemos nenhuma notificação deste retorno, totalizando assim 36 dias de bloqueio às exportações para China.
Com o maior país importador de carne bovina brasileira ainda fora do mercado poderemos ter essa proteína sendo direcionada para o mercado interno (seriam cerca de 60-90 mil toneladas), o qual já há um tempo não tem absorvido bem o nível de oferta atual (média de 422 mil toneladas), principalmente devido a perda do poder de compra do consumidor brasileiro.
Essa possibilidade de aumento na disponibilidade de carne no mercado interno em conjunto com os preços do boi gordo já se desvalorizando, está pressionando a carcaça casada bovina para baixo, que foi cotada a R$ 18,73/Kg ao final da última semana, sendo o menor valor desde mar/21.
Portanto, para esta semana continuamos à espera de um posicionamento chinês e enquanto não o temos o que veremos é um cenário de grande volatilidade e pressões de baixa, tanto no mercado físico quanto na B3. Para aqueles que ainda não travaram animais que devem sair nos próximos dias, a máxima de “estancar a sangria” ainda vale, com o uso da venda de futuros como alternativa de curtíssimo prazo.
A chegada aos R$ 271,25/@ na última sexta-feira representa um importante marco para a precificação da carcaça no mercado interno, acreditamos que a margem das indústrias conseguiria absorver este preço do boi gordo, mesmo vendendo a carcaça casada no patamar de R$ 18,00/kg. No entanto, com as informações imprecisas circulando no mercado atualmente, a tendência é que a pressão de baixa continue.
Agrifatto