Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Laura Rezende é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Resumo da semana:
A falta de novas informações sobre a retomada de embarques de carne bovina para a China, mantém a pressão baixista no mercado físico do boi gordo. Frigoríficos demonstraram maior interesse em preencher as escalas de abate, com isso, a média nacional ficou em 7 dias úteis, no entanto, esse interesse não foi traduzido em melhores oferta de preços. No estado de São Paulo, o boi gordo ficou com o preço médio semanal de R$ 299,87/@, 0,96% abaixo do que fora visto na semana retrasada e pela primeira vez desde janeiro/21 abaixo dos R$ 300,00/@.
O suíno vivo continua a se valorizar no mercado paulista, puxado pela restrição de oferta que o mercado se propôs diante da desvalorização da carcaça suína especial há cerca de 5 meses. Desta forma, o animal registrou um avanço de 3,7% ante a semana retrasada, sendo negociado ao valor médio de R$ 7,44/kg.
Com a colheita do milho segunda safra praticamente finalizada em todo território nacional, a oferta está sobressaindo sobre a demanda e no mercado físico do cereal a mínima dos últimos 60 dias foi atingida. Em Campinas/SP, a saca do grão fechou a semana passada sendo negociada R$ 90,47, queda de 3,42% ante a sexta-feira retrasada.
A crescente demanda por combustíveis e queda nos estoques de petróleo dos EUA, aumentaram a preocupação do mercado com o balanço de oferta e demanda da commodity e mais pressão foi gerada sobre o betuminoso. O petróleo WTI atingiu a máxima dos últimos 2 meses e foi cotado a US$ 73,96/barril na última sexta-feira, emplacando uma valorização de 1,92% no comparativo semanal.
Na tentativa de conter a escalada inflacionário no Brasil, Brasil, o Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central elevou a taxa Selic pela quinta vez consecutiva, desta vez em 1 p.p., indo para 6,25% a.a. Essa alta já era esperada pelo mercado, no entanto, com as prévias da inflação já encostando nos dois dígitos e nem mesmo o dólar reagindo de maneira negativa (desvalorizando) a esses aumentos demonstra que a velocidade de aumento dos juros não está sendo “suficiente”.
1. Na tela da B3
Com a China ainda sem sinalizar quando irá voltar as compras de carne bovina e as informações “correndo” de maneira assimétrica pelo mercado, o preço do boi gordo na B3 começou a sentir os reflexos da movimentação no mercado físico, onde o pecuarista vai perdendo a cada dia que passa a capacidade de “segurar” negócios.
Desta forma, o vencimento para outubro/21 na B3 fechou a sexta-feira cotado a R$ 300,15/@ desvalorizando 2,07% no comparativo semanal, chegando a ser negociado a 299,55/@, na quinta-feira (23/09/2021), o menor valor desde o dia 15/09/2021.
Pela movimentação das últimas três semanas na B3, acreditamos que uma recuperação real do preço do boi gordo só irá acontecer a partir do momento em que os chineses liberarem as compras de novos lotes de carne bovina produzida no Brasil, até lá qualquer nova entrada em futuros de boi gordo deve ser consciente de que a volatilidade será grande e os ajustes acontecerão.
Sobre a movimentação dos players que operam boi gordo na B3 não tivemos nenhuma movimentação que valha o destaque nesta semana, não à toa o número de contratos abertos na última semana foi o menor desse mês.
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
A falta de posicionamento chinês sobre a volta a compra está deixando o mercado bastante especulativo, ainda que a relação entre Brasil-China seja de interdependência, os chineses têm “a faca e o queijo” na mão neste momento, e estão aproveitando para impor um receio sobre a destinação da proteína bovina que seria destinada a eles.
Até que tenhamos uma consolidação sobre a China e seu posicionamento iremos observar fortes variações nas cotações do boi gordo na B3, seja para baixo ou seja para cima.
Diante do cenário atual, limitaremos as recomendações a apenas dois cenários possíveis de curto prazo (até dezembro/21). Listamos a seguir:
Conservador: Com o intuito de hedgear toda a produção diante das incertezas causadas pela suspensão das compras da China, mas ainda assim, poder surfar em uma possível valorização do boi gordo caso a demanda chinesa cresça vertiginosamente no final de ano acreditamos que a compra de PUTs e de PUTs Spreads sejam as operações mais interessantes a serem realizadas neste momento. Pensando na PUT Simples é possível proteger o valor mínimo de R$ 295,00/@ para os meses de outubro/21, novembro/21 e dezembro/21 a um custo médio de R$ 3,76/@, representando 1,27% de custo sobre o valor protegido. Na segunda opção, constrói-se uma PUT Spread, com strike nos mesmos R$ 295,00/@ no entanto com um custo de R$ 2,75/@, 27% menor que o da PUT simples, mas com um limite de proteção nos R$ 280,00/@, ou seja, estaria protegido para qualquer valor abaixo dos R$ 295,00/@ mas com um limite nos R$ 280,00/@.
Mista: Para aqueles que estão dispostos a correr um risco um pouco maior neste momento ou até mesmo especular de maneira não tão exposta aos futuros de boi gordo, enxergamos que a compra de CALLs Spreads para novembro/21 e dezembro/21 seria a opção mais interessante neste momento. Com um custo médio de R$ 3,55/@ é possível adquirir uma CALL com valor protegido de R$ 325,00/@ e surfar em valorização do ativo até os R$ 340,00/@. Ainda que sem a China este cenário seja relativamente “distante”, ainda assim, uma volta chinesa as compras para o abastecimento de ano novo chinês e sem a Argentina ocupando parte deste espaço, um choque de demanda externa poderia levar o boi gordo para cima deste patamar de R$ 325,00/@.
Além disso, gostaríamos de ressaltar aqui que já enxergamos espaço para travamento de preço do boi gordo para maio/22 e outubro/22 para aqueles mais pessimistas com o próximo ano e que detêm fluxo de caixa para operar futuros.
A venda de futuros de boi gordo no maio/22 já pode ser executada na casa dos R$ 320,00/@ enquanto que para outubro/22 ofertas de R$ 325,00/@ já foram vistas no book de ofertas.
Não visualizamos que o atual momento é o ideal para se fazer essas vendas, visto que acreditamos que as exportações tendem a voltar à normalidade, mas para aqueles que enxergam tais preços como atrativos e que “entregam” margem, temos aí uma boa oportunidade.
2. Enquanto isso, no atacado…
Mais uma semana de vendas fracas, com os varejistas buscando devolver mercadorias e interrompendo novas compras. Conforme já era previsto a segunda quinzena do mês de setembro/21 trouxe consigo a sazonalidade típica deste período do mês, combalindo ainda mais a demanda interna (que já está sofrendo) e pressionando as cotações da proteína bovina no atacado paulista. Desta forma, a carcaça casada bovina encerrou a semana com o valor médio de R$ 19,35/kg, desvalorizando -1,18% no comparativo semanal.
Para o mercado de frango resfriado em São Paulo, o consumo da proteína se mostrou com bom desempenho, com as vendas sendo suficientes para absorver a oferta existente no mercado e manter o atual nível de preços. Mesmo com o aumento de custos com alimentação e energia, os avicultores estão conseguindo repassar esse alta para os atacadistas e varejistas e mantendo a cotação próxima do maior patamar da história. Nesta semana o frango resfriado desvalorizou apenas 0,59%, ficando cotado em média a R$ 8,31/kg.
Já no mercado da proteína suína o cenário foi diferente em relação as outras duas. As vendas seguiram bastante lentas. O que sustentou o reajuste das cotações foi a produção de carcaça suína que está levemente aquém da média das últimas semanas e com isso, a cotação da carcaça especial suína fechou a semana em R$ 10,32/kg, valorizando 3,86% no comparativo semanal.
Vale lembrar que a demanda por alimentos de origem animal tende a ficar cada dia mais requisitada com a volta do funcionamento dos canais de food service após a aceleração da campanha de vacinação para COVID-19, porém, o avanço da oferta pode não ser na mesma velocidade, causando principalmente no último trimestre do ano uma valorização das proteínas animais.
3. A compra do pecuarista
O patamar da relação de troca boi/milho entre 3,25 e 3,30 para o mês corrente sacas de milho por @ de boi gordo permanece estável refletindo o comportamento dos dois mercados. Do lado do boi gordo a indefinição sobre a retomada das exportações para a China combinada com o início dos abates de animais oriundos dos confinamentos tem pressionado o mercado físico em São Paulo semanalmente, com os preços oscilando ligeiramente abaixo e acima do R$ 300,00/@.
Mesmo com fluidez reduzida, os preços do cereal voltaram a registrar movimento de baixa na última semana devido à disponibilidade no mercado interno e às importações. Com preço médio na semana de R$ 91,56/sc, recuando 2,3% no comparativo entre as semanas e registrando o menor valor médio semanal desde junho., A tendência é que os preços do milho continuem em queda refletindo o mercado doméstico abastecido.
No mercado futuro as expectativas são de preços melhores para o cereal e ajudam a favorecer a relação de troca. O plantio do milho 1ª safra segue com boas expectativas, a normalização do calendário de plantio da soja em relação à safra passada favorece o milho 2ª safra e a colheita nos EUA pressionando os preços internacionais que devem atuar sobre os preços domésticos.
Fonte: Agrifatto;
Mesmo com boa safra de soja nos EUA, os problemas logísticos ocasionados pelo furacão Ida trouxeram a demanda internacional pela oleaginosa brasileira. Esse comportamento trouxe elevação nos preços da saca de soja no mercado doméstico, por consequência elevando os preços do farelo que registra um preço médio em setembro de R$ 2.127,17/ton em Rio Verde/GO, variação positiva de 1,3% sobre o preço médio do mês anterior. Nesse caso, a desvalorização de 3,7% no comparativo do preço médio mensal para o boi gordo, tem maior peso na piora da relação de troca, que recuou de 3,0 para 2,85 toneladas de farelo por boi gordo de 20@ em duas semanas.
Fonte: Agrifatto;
4. O destaque da semana
O destaque da semana vem com informações diretamente do gigante asiático. A China, que ainda não retomou as compras de carne bovina brasileira, divulgou recentemente dados de importações da proteína bovina no mês de agosto/21. No período, 192,29 mil toneladas do produto chegaram ao país, constatando um avanço de 1,27% no comparativo mensal e 2,27% no anual.
Devido às restrições das exportações impostas na Argentina, os nossos vizinhos perderam espaço nas vendas externas da proteína vermelha para a China, recuando 33% ante julho deste ano, o equivalente a cerca de 15 mil toneladas, saindo de uma representatividade de 24% em julho/21 para 16% em agosto/21. Esse vácuo deixado no mercado foi aproveitado principalmente por 3 países: Nova Zelândia, Austrália e Brasil.
Fonte: GACC/Agrifatto;
No mês passado, os neozelandeses foram responsáveis por enviar 21,82 mil toneladas de carne bovina à China, avançando 31,41% no comparativo mensal e representando 11,31% nas compras do país. Os australianos embarcaram 11,31 mil toneladas do produto, avançando 38,55% no comparativo mensal e preenchendo 5,86% das importações chinesas. Já o Brasil teve um avanço mais tímido, quando comparado aos dois países da Oceania, 77,95 mil toneladas saíram dos portos brasileiros com destino à China, 8,49% de aumento no comparativo mensal, no entanto, o país continuou sendo o principal fornecedor da carne bovina da China representando 40,40% das compras de agosto/21.
Fonte: GACC/Agrifatto;
Ainda não há posicionamento oficial nem do governo brasileiro nem do governo chinês sobre quando a volta as compras ocorreriam, mas há especulações que esta volta ocorreria a partir do dia 05/10/2021. Caso assim ocorra, as restrições ao nosso país durariam cerca de 30 dias, o que já impacta de sobremaneira os envios externos de proteína bovina do Brasil para a China que representa atualmente mais de 12% da nossa demanda total (considerando interno e externo), e com isso, visualizamos que o preço do boi gordo continuará “sentido” essa pressão.
As vendas externas devem acelerar assim que for acordado a liberação dos frigoríficos nacionais. A demanda da China pela carne bovina no fim de ano é sazonalmente mais forte, devido a necessidade de abastecimento para a principal festa do país, o Ano Novo Chinês.