Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Laura Rezende é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Resumo da semana:
Frente ao cenário de exportações de carne bovina ainda suspensas para grandes parceiros comerciais, o mercado físico do boi gordo fechou a última semana em desvalorização. Ainda assim, diferentemente da semana retrasada, já há no mercado sinais de que as negociações podem voltar à normalidade, já que desde quinta-feira (16/09/2021) os valores oferecidos pelos frigoríficos nas negociações de balcão começaram a subir, com a referência para início de negócios em São Paulo já buscando os R$ 305,00/@, não à toa, a escala de abate voltou a alongar levemente no país, avançando um dia útil no comparativo semanal. No estado de São Paulo, o boi gordo registrou o preço médio de R$ 302,78/@, 1,42% abaixo do que fora visto na semana retrasada.
Se o boi gordo ainda enfrenta dificuldades para recuperar o patamar de agosto/21, o mesmo não pode ser dito do suíno vivo. O animal registrou alta de 13,79% no comparativo semanal, ficando cotado a R$ 7,26/kg, atingindo a máxima dos últimos 30 dias. O movimento foi puxado pela recuperação do preço da carcaça suína, no entanto, nota-se que esse movimento é cíclico e vem ocorrendo desde dezembro/20.
Com os problemas logísticos enfrentados pelos EUA para a exportação de soja, o prêmio pago nos portos brasileiros sustenta a cotação da oleaginosa nas principais praças do Brasil. Com a falta de energia no principal porto de escoamento norte-americano (Nova Orleans) por conta do furacão Ida, os embarques da oleaginosa norte-americano ficaram comprometidos e com isso o prêmio pago pela soja brasileira cresceu 83% no comparativo semanal, sustentando o preço da soja em Paranaguá/PR nos R$ 175,44/sc na última sexta-feira, 1,16% acima da sexta-feira da semana retrasada.
Após reduções na produção de petróleo do Golfo do México, devido a prejuízos causados pelos furacões Ida e Nicholas, a matéria prima para a gasolina e diesel se valorizou na última semana. O petróleo WTI foi cotado a um preço médio de US$ 72,57/barril na última sexta-feira, valorizando 6,83% no comparativo semanal e fechando ao maior valor desde o início do mês de agosto/21.
1. Na tela da B3
Ainda em compasso de espera, mas com notícias mais animadoras, o mercado do boi gordo fechou a semana com valorização nos contratos futuros. O vencimento para outubro/21 terminou a sexta-feira cotado a R$ 306,05/@, subindo 1,34% em comparação a última sexta-feira.
A retirada da suspensão dos embarques para Arábia Saudita e para o Egito, em conjunto com a perspectiva de retomada dos envios para a China já nesta semana, deram sustentação para que a cotação do boi gordo evoluísse na B3. Não à toa, a volatilidade já apresentou redução em comparação a semana passada, a diferença entre a máxima e a mínima no vencimento outubro/21 ficou em 3,26% na última semana, 3,51 p.p. a menos que na semana retrasada.
Na última semana houve pouca movimentação por parte dos operadores de mercado no sentido de reforçar alguma “aposta”. No entanto, podemos destacar que as opções continuam a aumentar seu volume de contratos em aberto, foram mais de 4,56 mil opções abertas na última semana, chegando aos 70,89 mil contratos, o maior volume desde 05/11/2020. Vale o destaque para as CALLs que atingiram um volume de 49,87 mil CALLs em aberto, 3,79 mil a mais que na semana passada e o maior volume desde 17/09/2020. Se o mercado não adota um “lado” nos futuros, nas opções essa “aposta” está bem clara.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Mesmo diante da valorização de 1,34% no vencimento outubro/21 e a chegada novamente aos R$ 306,05/@, ainda não enxergamos esse momento como o ideal para iniciar a compra de PUTs para assegurar um preço mínimo do boi gordo. Como a volatilidade ainda está alta, a precificação dessas PUTs está nas máximas, sendo assim, enxergamos que as próximas duas semanas é que reservarão uma boa janela para iniciar os travamentos para outubro, novembro e dezembro de 2021.
Na semana passada, abordamos que a compra de futuros no outubro/21 nos R$ 302,00/@ estaria “barato” na nossa visão, e que com a confirmação da volta chinesa ao mercado a tendência era de que o valor do vencimento outubro/21 subiria. E finalizamos a sexta-feira com o contrato para outubro/21 nos R$ 306,05/@, ganho de R$ 4,05/@. E ainda não tivemos a confirmação oficial de volta do governo, apesar de as notícias que correm nos bastidores indicam uma volta para essa semana.
Desta forma, acreditamos que ainda há espaço para a compra de futuros no outubro/21 no patamar de R$ 306,00-307,00/@ assim como no novembro/21 entre os R$ 313,50-316,50/@. A normalização dos embarques para todos os principais compradores deve levar os vencimentos futuros para os patamares pré-EEB não-transmissível nas próximas semanas.
A outra operação que indicamos na semana passada, mas que perdeu um pouco da atratividade nesta semana é a compra de CALLs. Como a volatilidade está fazendo as opções serem precificadas a um valor acima da média, visualizamos que a compra de CALLs simples não fazem muito sentido neste momento, a não ser para o vencimento out/21, com um strike acima dos R$ 315,00/@, e ainda assim, com um risco médio de não ser rompido. A compra de CALLs Spreads nos denota mais sentido financeiro neste momento, principalmente para o novembro/21, com um intervalo entre os R$ 320,00/@ e os R$ 330,00/@, a um custo médio de R$ 3,00/@.
Ainda assim, cabe a ressalva de que no atual momento as opções perderam um pouco da sua atratividade devido aos altos custos, principalmente as CALLs.
Continuamos de olho nos vencimentos para maio e outubro de 2022, no entanto, a pouca liquidez desses contratos ainda nos mantêm afastado das recomendações.
2. Enquanto isso, no atacado…
A atenção do mercado na semana passada se voltou para a expectativa de retorno das exportações chinesas, que ainda não aconteceu. Enquanto isso, a maioria dos frigoríficos passaram maior parte da semana fora das compras e reorganizando suas escalas, visando atender a fraca demanda interna que sofre com baques da chegada da segunda quinzena do mês de setembro/21. Como ainda não houve uma “volta” de proteína bovina que era destinada à exportação para o mercado interno, a carcaça casada bovina conseguiu encerrar a semana com valorização de 0,56% no comparativo semanal, cotada a R$ 19,59/kg.
Mesmo com o mercado interno ainda demonstrando dificuldades para repassar aumento de preços, o crescimento no custo de produção do frango faz com que os atacadistas continuem repassando maiores valores para o frango resfriado. Mesmo com vendas mais lentas do que vinha acontecendo, o frango resfriado ainda conseguiu emplacar uma alta de 1,10% no comparativo semanal e terminou a semana cotado em R$ 8,39/kg.
Para o mercado da carne suína, o ajuste na produção em conjunto com as outras proteínas animais registrando fortes altas nas últimas semanas, fizeram com que finalmente a carcaça suína especial registrasse uma forte alta no comparativo semanal, subindo 7,79% e ficando cotada a R$ 9,89/kg, maior valor desde a terceira semana de agosto/21.
A esperança de aquecimento do mercado está depositada na aceleração das vacinas, a maior flexibilização das medidas restritivas e a chegada das festas de fim de ano. Por enquanto, com a eminência sazonal do fim de mês, a tendência é de preços da carcaça casada bovina andando de “lado”.
3. No mercado externo
Durante a terceira semana de setembro/21 o Brasil enviou para fora do país 43,63 mil toneladas de carne bovina in natura, apesar de ser um bom resultado, o desempenho foi aquém das primeiras semanas do mês e resultou em uma queda de 12,37% na média diária embarcada. O resultado prévio aponta uma média diária de 10,88 mil toneladas, ainda 60,46% maior que em setembro/20.
O preço pago pela proteína vermelha ficou na casa dos US$ 5,81 mil/t, com uma alta de 0,37% ante a semana anterior. Desta forma, a receita obtida com a venda de proteína bovina viu sua média diária recuar em linha com os volumes, recuando 12,04% no comparativo semanal e se estabelecendo em US$ 63,20 milhões/dia. Com este resultado a expectativa é que o Brasil supere os US$ 1 bilhão em faturamento em um mês novamente.
Até o final da 3ª semana do mês corrente as exportações do milho acumularam 1,697 milhões de toneladas com 437,8 mil toneladas embarcadas na última semana. O ritmo diário de carregamento recuou para 141,5 mil toneladas frente às 180 mil toneladas embarcadas diariamente nos primeiros dias úteis do mês. Com o preço unitário de US$ 193,8/ton, a receita obtida com as exportações em setembro/21 é de US$329 milhões. Para comparação, em setembro/20 o Brasil exportou 6,371 milhões de toneladas que geraram faturamento de US$ 1,039 bilhões.
Já as importações do cereal somam 245,3 mil toneladas no mês atual e o volume é superior em quase 100 mil toneladas sobre a quantidade de milho que entrou no país em setembro/20. Com preço médio de US$ 241/ton, o milho importado já custou até o momento cerca de US$ 59 milhões aos compradores, um montante financeiro superior em 2,6x comparado ao mês em 2020.
Com uma média diária de 270 mil toneladas carregadas diariamente, o mês corrente soma 3,24 milhões de toneladas exportadas de soja, volume que corresponde a 76% das 4,26 milhões de toneladas exportadas em setembro/20. A receita obtida com a exportação da oleaginosa no mês atual é de US$ 1,653 bilhões, cerca de 6% superior ao faturamento total do mesmo mês em 2020 devido ao preço atual da tonelada em US$ 510/ton contra US$ 365/ton em setembro/20.
4. A compra do pecuarista
Após 4 semanas sucessivas recuando, o preço do milho entrou em patamar de estabilização sinalizando um recuo do volume ofertado ao mercado alinhado ao comportamento da demanda, com isso o preço médio semanal registrou ligeira valorização de 1,2% permanecendo no nível de R$ 93,62/sc, influenciando na elevação do preço médio mensal para R$ 93,13/sc.
Os preços do boi gordo em São Paulo tiveram recuos durante a semana diante do imbróglio envolvendo a retomada das exportações e dos abates, sendo esse o principal fator da perda do poder compra do pecuarista diante dos insumos para nutrição.
Com os preços do milho praticamente estabilizados no mercado futuro e alinhados ao cenário de oferta local, novos recuos devem acontecer durante os próximos meses. A depender da retomada dos abates e das exportações, os preços do boi gordo podem também colaborar para uma melhora do cenário na relação de troca boi/milho. O mercado é dinâmico e essas oportunidades podem ser momentâneas.
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
Depois de sofrer com a crise econômica causada pela pandemia, o mercado de couro bovino voltou a se aquecer, e vem passando por fortes valorizações desde o início de 2021. A melhor demanda pelo produto, fez com que as cotações do couro verde avançassem 908% no comparativo anual entre agosto/21 e agosto/20, chegando aos R$ 4,05/kg o qual é negociado atualmente.
Grande parte desta forte movimentação positiva vem como recuperação do que aconteceu em 2020, já que com as restrições impostas pelos governos de todos os países e uma forte redução no consumo de couro, o preço do subproduto mais importante do boi gordo registrou uma forte desvalorização e em alguns casos não valia nem a pena comercializá-lo.
Fonte: Agrifatto
No entanto, a situação começou a se alterar a partir de novembro/20 quando o consumo de couro voltou a ser reativado e o preço do couro cru bovino registrou sucessivas valorizações até chegar ao atual patamar de R$ 4,05/kg, viabilizando novamente a produção deste subproduto. Parte deste incremento veio das exportações, já que o preço médio da tonelada de couro exportada pelo Brasil já acumulou alta de 61% em relação a 2020, atingindo o maior valor desde 2017.
Fonte: MDIC/Agrifatto
Apesar da queda dos abates de boi gordo no primeiro trimestre de 2021 ao menor volume desde 2011, a aquisição de couro avançou segundo dados da Pesquisa Trimestral do Couro, realizada pelo IBGE. Durante o segundo trimestre deste ano, foram adquiridos 7,51 milhões de peças de couro, 6,23% de avanço no comparativo entre os trimestres, quando comparado com o mesmo período de 2020, as compras aumentaram em 2,62%.
A movimentação contrária entre abate e couro adquirido, destacar a reativação do mercado de couro brasileiro, mas também atenta para o fato de que os abates informais e o resgate de couros podem estar acontecendo já que a atratividade do negócio está bem melhor.
6. E o que está no radar?
Depois de muito burburinho e boatos nas últimas semanas, vivemos uma semana de maior calmaria no mercado do boi gordo. A ausência de notícias ruins por si só já foi uma boa notícia!
Além disso, nos deparamos com alguns sinais bons emitidos pelo principal entrave do boi gordo neste momento, os importadores de carne bovina brasileira. A Arábia Saudita que havia suspendido compra de cinco frigoríficos de Minas Gerais já cancelou a suspensão. O Egito que havia interrompido as compras a partir do dia 04/09/21 também voltou as compras a partir do dia 14/09/21.
Não à toa visualizamos nos últimos dias da semana uma recuperação das cotações do boi gordo tanto no mercado físico quanto na B3. Os frigoríficos começaram a dar indicativos de que irão volta a abater a partir desta próxima semana e honrando preços negociados antes dos casos de EEB não-transmissível. O preço balcão oferecido em São Paulo saltou dos R$ 295,00/@ para os R$ 300,00/@ durante os últimos dias da semana passada.
O maior entrave segue na comunicação oficial do governo chinês de que irá retomar as compras, mas ao que tudo indica esse informe deve sair durante esta semana, em que os embarques para o gigante asiático seriam retomados. Como a China representa mais de 12% de consumo sobre a produção brasileira no atual momento, a volta das vendas para a China significaria maior probabilidade de retomarmos aos patamares pré-EEB não-transmissível, por isso acreditamos que veremos um preço do boi gordo mais aquecido nas próximas semanas.