Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Laura Rezende é médica veterinária e consultora pela Agrifatto
Resumo da semana:
O mercado do boi gordo passou por dias dramáticos até a confirmação dos dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina atípica nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. Com a incerteza rondando o mercado de quarta-feira até a sexta-feira, o mercado físico do boi gordo passou por um processo de desvalorização de 1,09%, com o animal sendo negociado ao valor médio de R$ 309,28/@ na última semana, o menor desde a terceira semana de maio/21. Com a confirmação da atipicidade, a tendência natural é de vermos uma recuperação nos preços físicos nas próximas semanas.
O suíno vivo terminou mais uma semana em desvalorização. A relação entre oferta e demanda pela carcaça do animal ainda não se ajustou completamente às mudanças do mercado chinês e também a redução no consumo interno, o que refletiu em queda no valor pago ao produtor. No estado de SP, os animais foram vendidos na média a R$ 6,64/kg, uma baixa de 7,11% ante a semana passada.
Com a colheita do milho segunda safra se aproximando do fim em todo o país e as ofertas aparecendo com mais força no mercado físico, que se encontra com uma demanda reduzida, os preços do cereal recuaram nesta última semana, e as incertezas com o mercado pecuário deram suporte ao movimento. Em Campinas/SP, o cereal encerrou o período a um preço médio de R$ 94,33/sc, queda de 3,0% no comparativo semanal.
A soja também passou por um recuo no mercado físico brasileiro. Os danos causados pelo furacão Ida sobre a infraestrutura americana, poderia prejudicar as exportações dos EUA, o que causou uma retração em Chicago. Em Paranaguá/PR, a oleaginosa encerrou a última semana a um preço médio de R$ 167,11/sc, reduzindo 2,41% no período.
1. Na tela da B3
E a falta de novidades que pairava sobre o mercado do boi gordo até o final da semana retrasada, deu lugar a bombástica notícia de que dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (doença da vaca louca) atípica foram confirmados em território brasileiro na última semana.
Toda essa notícia foi tratada com a alcunha de “suspeita” até o final da última sexta-feira, pois o “boato” começou a ser veiculado ao final da última terça-feira (31/08/2021) e só foi comunicado oficialmente pelo MAPA no início do sábado. Ainda assim, a B3 respondeu logo na quarta-feira com a sua maior desvalorização diária no contrato corrente desde 12/03/2020, recuando 3,43% no comparativo diário, quando se concretizou o fechamento de diversos países por conta da COVID-19.
O vencimento para outubro/21 recuou de maneira ainda mais intensa e fechou a semana com desvalorização de 4,40%, cotado a R$ 296,95/@, menor valor desde fevereiro/21.
Mesmo diante de toda essa movimentação o número de contratos em aberto reduziu-se de maneira leve, são agora 79,35 mil contratos em abertos (futuros + opções) de boi gordo na B3, 4,17% a menos que na semana retrasada. Considerando que tivemos o encerramento do vencimento agosto/21 neste intervalo, a redução é vista como pequena diante dos fatos.
Além disso, o fato que mais chamou a atenção na movimentação do contrato futuro de boi gordo na B3 foi a forte redução da exposição comprada das Pessoas Físicas, que atingiram um saldo positivo de 1,55 mil contratos (futuros + opções), o menor nível desde maio/20. Ao que parece, as Pessoas Físicas estão realmente perdendo a “força” financeira para manter a posição comprada diante das atuais quedas. Desta forma, quem fica com a maior posição comprada em boi gordo atualmente são as PJs não financeiras (frigoríficos, em sua maioria), com um saldo positivo de 5,29 mil contratos, muitos em cima de PUTs vendidas.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Entre o intervalo de surgimento da notícia até a confirmação dos dois casos atípicos no Brasil, o cenário de preços que se desenhava no país era desenhado de duas formas, um em que teríamos a confirmação de casos atípicos e outro em que teríamos a manifestação típica da doença. Como a segunda opção foi descartada no final da última sexta-feira (03/09/2021), visualizamos que o boi gordo deve registrar uma recuperação no mercado futuro nas próximas semanas.
Desta forma, enxergamos que existe a probabilidade de maiores ganhos diante de tal confirmação estaria na alta do boi gordo. Sendo assim, traçamos algumas possibilidades diante da precificação atual do contrato futuro do boi gordo para os próximos três meses.
A forma mais comedida para buscar surfar nessa possível valorização seria através das opções, que encareceram por conta da volatilidade da última semana, mas ainda assim entregas possibilidades interessantes de ganhos. A compra de CALLs simples para outubro/21 próximo aos R$ 310,00/@ ou então a compra de CALLs Spreads para novembro/21 com o intervalo entre R$ 310,00 e R$ 325,00/@ seriam as operações mais interessantes e conservadoras diante da análise de mercado atual.
Uma outra forma de surfar nessa valorização, mas de maneira mais arriscada, seria a compra de futuros para outubro/21 e novembro/21, visto que a confirmação de casos atípicos da doença traz impactos de curto prazo (teríamos uma volta à normalidade ao fim do mês de setembro/21), mas a tendência seria de volta aos patamares anteriores a circulação da notícia. Sendo assim, o nível atual de R$ 297,45/@ estaria “barato” diante de tais fatos.
Acreditamos que a compra de PUTs para se proteger contra novas quedas seria interessante a partir do momento em que tivéssemos uma volta à normalidade dos embarques para fora do país, e assim, a precificação deste ativo recuaria a valores mais aceitáveis.
2. Enquanto isso, no atacado…
O frenesi entre a suspeita e a confirmação de casos de vaca louca atípica no Brasil também trouxe apreensão ao mercado atacadista de proteína bovina brasileira. Como esse mercado não teria condição de absorver o volume de carne excedente, que viria de um possível impedimento das exportações, os vendedores e compradores se mostraram reticentes e fizeram pedidos apenas para atendimento de demanda “urgente”. Diante disto, a carcaça casada bovina encerrou a semana cotada em média de R$ 19,42/kg, com desvalorização de -0,17% no comparativo semanal.
Para o frango resfriado, a chegada as máximas históricas em conjunto com um consumidor ainda recuperando seu poder de compra fez com que os preços recuassem 4,71% no comparativo semanal, sendo negociado em média a R$ 8,25/kg. A percepção é de que os preços chegaram a um patamar muito elevado e precisavam passar por um reajuste, a tendência natural agora é de leve desvalorização ou estabilidade.
Assim como o frango resfriado a carne suína no atacado paulista seguiu sofrendo desvalorizações no comparativo semanal, diante das fortes altas que foram observadas em semanas anteriores. Com isso a carcaça especial suína fechou a semana cotada em média de R$ 9,16/kg, com desvalorização de -4,14% no comparativo semanal.
A retração do consumo interno devido a descapitalização dos consumidores levou a grandes sobras de carne bovina no mercado de vários produtos comercializados durante a última quinzena de agosto/21. Com a chegada do recebimento dos salários e mais pessoas em casa com o feriado do 7 de setembro, o consumo de proteína bovina deve ser estimulado.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura iniciaram o mês com o ritmo acelerado, no entanto, com perspectiva de piora nas próximas semanas. Nos três primeiros dias úteis de setembro/21, 31,53 mil toneladas da proteína foram destinadas aos portos, resultando em uma média diária de 10,51 mil toneladas, 55% superior à média diária de setembro/20. Apesar do início animador, com a suspensão dos embarques devido a EEB, a tendência é de redução nas próximas semanas.
O preço pago pela proteína bovina brasileira no mercado internacional se valorizou 2,46% na última semana, sendo negociada na casa dos US$ 5,81 mil/t. Com isso, a receita obtida com as vendas externas ficou em US$ 183,51 milhões, resultando em uma média diária de US$ 61,17 milhões, 120% superior aos números finais de setembro/20.
Os embarques de milho iniciaram setembro/21 em ritmo mais lento, com 534,83 mil toneladas exportadas nos 3 primeiros dias úteis do mês, o volume médio diário foi de 178,27 mil toneladas, recuos de 9,83% sobre a média do mês anterior e de 41,24% comparado à setembro/20. A receita obtida com os negócios da última semana ficou na casa dos US$ 98,67 milhões, queda de 33,49% ante a mesma ocasião no ano passado.
Já as importações do grão ganharam forças nesse início de mês registrando que 65,72 mil toneladas atracaram nos portos brasileiros, uma média de 21,90 mil ton/dia e ritmo 230,8% superior ao da última semana de agosto/21. O valor utilizado na compra internacional do milho ficou na casa de US$ 16,56 milhões, o que corresponde a 74% do montante investido em todo setembro/20.
Durante os 3 primeiros dias úteis de setembro/21 as exportações de soja acumularam 757,39 mil toneladas, uma média diária de embarques de 252,46 mil toneladas e avanço de 27,7% sobre o ritmo de agosto/21. As vendas externas da oleaginosa estão com um volume 24,43% maior que a mesma ocasião em 2020.
O preço pago pela soja no mercado internacional registrou valorização de 5,09% e a tonelada do grão foi vendido em média por US$ 510,50/ton. Com isso, as negociações geraram uma receita de 386,64 milhões nesse início de mês, faturamento 73,83% superior ao mesmo período no ano de 2020.
4. A compra do pecuarista
Com recuo de 3,4% do preço médio no comparativo semanal, a saca do milho em Campinas/SP foi negociada ao valor médio de R$ 93,91/sc, evidenciando a melhora da oferta e disponibilidade de milho para o mercado interno. O mês de setembro deve trazer boas oportunidades para o pecuarista que está avaliando fazer posições físicas de milho.
Os preços futuros do cereal também registraram forte queda e encerraram a semana nos patamares próximos de R$ 92,00/sc nos contratos setembro/21 e novembro/21, refletindo a oferta do mercado doméstico. A paridade de importação também colaborou com o recuo dos preços domésticos devido à expectativa com o início da colheita do cereal norte-americano pressionando os preços internacionais.
Para o boi gordo o tombo na semana foi grande devido a reação do mercado às notícias relacionada aos casos de “vaca louca”, fator que trouxe forte desvalorização nos preços físicos e futuros do boi gordo, colaborando assim para manter as relações de troca boi/milho pressionadas.
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
Na última semana, os casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (doença da vaca louca) nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso que se iniciaram como “suspeitos” na terça-feira e foram confirmados como manifestações atípicas ao final da sexta-feira abalaram o mercado do boi gordo. Como o posicionamento oficial do governo através do MAPA veio somente no sábado, o mercado operou sobre intensa “neblina” e “com ajuda de aparelhos” entre a quarta-feira e a sexta-feira.
Desde a veiculação da possibilidade da doença em território brasileiro o preço do boi gordo no físico e no futuro despencou. No físico de São Paulo a arroba recuou 2,64% encerrando a sexta-feira sendo comercializada a R$ 305,10, já na B3 o futuro com vencimento em outubro/21 saiu dos R$ 310,80/@ para R$ 294,90/@, recuando 5,11%.
Como houve a confirmação de que foram dois casos atípicos, é interessante traçar um paralelo com o ocorrido no país em maio/19, quando um caso de EEB atípico ocorreu no estado de Mato Grosso. O preço do boi gordo em SP recuou de R$ 153,15/@ do dia 31/05/19 para os R$ 144,85/@, no dia 07/06/19, recuando 5,42%. Na ocasião, o valor da arroba demorou cerca de 25 dias para recuperar o mesmo patamar de R$ 153,50.
Fonte: Cepea;