Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Em um ritmo lento, mas constante, o boi gordo passa pela terceira semana de leve desvalorização, chegando assim ao valor médio semanal de R$ 316,09/@, recuando 0,66% em comparação a semana retrasada. Ainda que este seja o menor valor desde a segunda semana de junho/21, notou-se na sexta-feira um encurtamento das escalas de abate dos frigoríficos paulistas, o que acende o sinal de alerta para uma possível pressão sobre a cotação do animal nas próximas semanas.
Com a colheita do milho atingindo mais da metade do território nacional, os preços praticados no mercado físico do cereal recuaram no comparativo semanal. Nota-se que os operadores continuam a avaliar os impactos das geadas sobre a oferta do milho de 2º safra e também a possibilidade de maiores importações vindas da Argentina. Em Campinas/SP, o referencial aponta que o milho teve um preço médio na semana de R$ 100,41/sc, queda de 1,17% no comparativo semanal.
A propagação da variante Delta do coronavírus pelo planeta, deixa o mercado atento ao risco de uma menor demanda por combustíveis, paralelamente, durante a semana foi divulgado um aumento no estoque de petróleo dos EUA. As somas desses fatores fizeram com que o preço do Petróleo WTI encerrasse a semana com desvalorização de 6,30%, sendo negociado a um preço médio de US$ 69,02/barril na sexta-feira.
Para tentar conter o avanço da inflação no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom), decidiu nesta quarta-feira (04/08) elevar a taxa básica de juros em 1,0 p.p, o maior aumento dos últimos dezoito anos. Agora, a Selic voltou ao patamar de 5,25% a.a., valor visto pela última vez em outubro de 2019. No entanto, vale o destaque os analistas já aguardavam tal movimentação, não à toa, o dólar permaneceu firme acima dos R$ 5,20 mesmo com tal aumento na taxa de juros.
1. Na tela da B3
E o sossego continua a ditar a movimentação do boi gordo na B3. Sem grandes novidades, o preço na B3 negociado para o vencimento em outubro/21 variou apenas 0,09% no comparativo semanal e fechou a semana cotado a R$ 325,40/@, ou seja, andou “de lado”.
O encerramento das negociações do vencimento julho/21 demonstrou que o apetite por negociar derivativos de boi gordo está baixo, isto por que o número de contratos em aberto (futuros + opções) diminuiu 11,43%, chegando a 75,39 mil contratos, o menor volume desde o dia 01/07/21.
Dentre a movimentação dos operadores visualizamos poucas movimentações ativas, isso por que houve mais encerramento de posições do que novos posicionamentos dentre os players. Um exemplo são os Fundos (Investidores Institucionais) que aumentaram sua exposição vendida em 19% no comparativo semanal, no entanto, essa exposição cresceu pois cerca de 2,40 mil CALLs que esses haviam comprados aparentemente foram liquidadas com o vencimento do contrato para julho/21, fazendo com que os Fundos atingissem um saldo de 7,51 mil contratos vendidos.
Situação parecida aconteceu com as PJs não financeiras (possivelmente frigoríficos) que aumentaram sua exposição comprada para o maior nível desde 17/12/2020 através do encerramento de CALLs que haviam sido vendidas por esses operadores. Foram mais de 3,34 mil CALLs vendidas que foram encerradas pelas PJs não financeiras na última semana.
Ou seja, toda essa movimentação está sendo mais passiva do que ativa, o mercado futuro do boi gordo na B3 caminha de lado e sem tendência definida, esperando que novidades surjam no radar e façam os movimentos convergirem para um lado.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
Conforme destacado acima, houve pouca movimentação do boi gordo na B3, com isso, a volatilidade implícita segue recuando e os prêmios a serem pagos pelas opções vão se tornando mais atrativos. Ainda assim, temos poucas mudanças nas nossas recomendações.
Ainda visualizamos a capacidade de valorização de todos os vencimentos do último quadrimestre de 2021, em especial o outubro/21 e o novembro/21. A exposição a essa possibilidade continua a poder ser feito através das opções, e visualizamos as CALLs e suas operações estruturadas como as que fazem mais sentido neste momento (considerando as opções). Sendo que tanto a CALL SPREAD (compra de uma CALL financiada por outra CALL) quando a operação de COLLAR (Compra de uma CALL financiada pela venda de uma PUT) se mostram interessantes e com custos relativamente “baratos” comparada as CALLs secas.
Apenas para elucidar, é possível fazer uma COLLAR com uma CALL com strike nos R$ 335,00/@ a um custo médio de R$ 0,95/@, financiada pela venda de uma PUT com strike nos R$ 315,00/@. Cabe ressaltar que essa operação irá exigir caixa necessário para cobrir os ajustes diários e a margem, por isso, envolve mais riscos que a CALL Spread listada na semana passada.
E também como listamos na semana passada, a compra de futuros também se mostra como uma operação interessante, com o físico encostando nos R$ 312,95/@ segundo o indicador Cepea na última sexta-feira, oportunidades de entrada no BGIV21 na casa dos R$ 322-323,00/@ poderão surgir, e seriam bons valores de entradas.
No entanto, como já havíamos salientado na última semana, o mercado aguarda novidades para se movimentar, e, enquanto não tivermos uma real resposta da oferta ou da demanda interna, a tendência é de pouca movimentação.
2. Enquanto isso, no atacado…
O mercado atacadista, de modo geral, passou por ajustes pontuais durante a semana anterior. A curto prazo, as projeções para agosto/21 possuem tendências altistas, visto que a entressafra bate à porta, ao mesmo tempo que as exportações podem aquecer no segundo semestre do ano, impulsionando o escoamento da proteína bovina. Enquanto isso, o mercado vai seguindo seu curso, a carcaça casada bovina, fechou a semana cotada em média de R$ 19,61/kg, apresentando desvalorização de -0,26% em relação à semana anterior.
Para o frango resfriado as vendas em São Paulo foram consideradas boas. A demanda permanece aquecida, com bons níveis de ofertas e o mercado operando com preços firmes. Assim o preço do frango resfriado quase não teve alterações, fechando a semana cotada em média R$ 7,48/kg, basicamente sem nenhuma variação no comparativo semanal.
A mesma coisa aconteceu para a proteína suína. A demanda por esta proteína permanece estável, com vendas consideradas normais e, embora as ofertas se mostrarem maiores, os preços da carcaça especial suína se mantiveram estáveis, apresentando leves reajustes positivos, fechando a semana cotada a R$ 10,14/kg, valorizando 0,57% em comparação a semana passada.
A expectativa era que, conforme os dias iniciais do mês de agosto/21 chegassem e fosse se aproximando o dia dos pais, o consumo da carne bovina aumentasse, valorizando assim os principais cortes comercializados no mercado interno. Entretanto, o mercado parece seguir sem muitas novidades, e o preço da carcaça enfrenta dificuldade de evoluir.
3. No mercado externo
O início de agosto/21 trouxe consigo um aumento vertiginoso nos volumes de carne bovina in natura embarcadas para fora do país, foram 57,73 mil toneladas exportadas na última semana, alta de 61,28% no comparativo semanal. Com uma média diária de envios em 11,54 mil toneladas, o mês se inicia com um incremento de 48,55% quando comparado ao mesmo período no ano de 2020.
Com preços ainda maiores, ultrapassando os US$ 5.500/t, a receita obtida com a venda da proteína bovina chegou à US$ 320,26 milhões nos primeiros cinco dias de agosto/21, com a média diária avançando 56,12% frente a semana retrasada, estabelecendo-se em US$ 64,05 milhões/dia. O montante recebido até o momento do mês corrente já representa 48,96% de todo agosto/20.
O volume de milho destinado às exportações iniciou o mês devagar. Foram 143,64 mil toneladas embarcadas diariamente, queda de 51,69% ante o mesmo período em 2020. Os cinco primeiros dias úteis de agosto/21 totalizaram 718,24 mil toneladas enviadas aos portos, 16,69% a menos que a semana retrasada. A receita com o cereal exportado chegou na casa de US$ 128,66 milhões, queda de 12,28% no comparativo semanal.
Já as importações do grão continuam firmes. Durante a última semana 20,54 mil toneladas atracaram em território brasileiro, um aumento de 175,01% ante a última semana de julho/21. Com isso, o montante investido nas compras do produto chegou em US$ 5,56 milhões, o que representa 61,54% de todo agosto/20.
As exportações da soja brasileira iniciam o mês em ritmo reduzido. Até o momento, 1,38 milhões de toneladas da oleaginosa foram destinadas aos portos, queda de 16,15% ante a última semana de julho/21. A média de embarques diário durante os cinco primeiros dias úteis do mês corrente foi de 276,03 mil toneladas, 0,68% a menos que o mesmo período de 2020.
A queda nos embarques do grão refletiu na redução do faturamento semanal com as exportações. O montante gerado com as vendas chegou a um valor de US$ 649,47 milhões, 18,87% a menos que a semana retrasada e 32,18% superior ao mesmo momento no ano de 2020.
4. A compra do pecuarista
A primeira semana do mês de agosto trouxe recuos nos preços físicos do milho e do boi, comparando com a última semana de julho, mesmo assim o poder de compra do pecuarista inicia o mês pressionado com a @ boi comprando 3,15 sacas de milho em São Paulo.
O cereal em Campinas/SP registrou preço médio semanal de R$ 100,41/sc recuando 1,2% sobre o preço médio da última semana de julho, enquanto a @ do boi gordo caiu 0,7% no mesmo comparativo e encerrou a 1ª semana do mês em R$ 316,09/@.
No mercado futuro as relações de troca mantêm os patamares entre 3,3 e 3,4 sc/@ com as indicações futuras do milho na B3 entre R$ 95,00/sc e R$ 102,00/sc e a @ futura do boi gordo entre R$ 320,00/@ e R$ 330,00/@.
O efeito das importações de milho tirou a euforia nos preços do cereal que podem registrar ligeiros recuos nas próximas 3-4 semanas, mas o preço do cereal dificilmente deve recuar abaixo dos R$ 95,00/sc em Campinas/SP, preço alinhado com a paridade de importação do milho que está chegando da Argentina.
Fonte: Agrifatto;
Se a situação não está favorável para o pecuarista que deixou para adquirir milho durante a colheita da 2ª safra, para aqueles que necessitam fazer a reposição uma “luz” surge no fim do túnel. Ao que tudo indica, teremos o terceiro mês consecutivo de recuo do ágio do bezerro sobre o boi gordo, caminhando para o menor nível desde fevereiro/21.
O regime pluviométrico reduzido durante o período das águas em conjunto com as geadas forçou os criadores a “desovarem” um volume maior de bezerros no mercado em um momento em que os preços caminhavam nas suas máximas. Desta forma, a cotação do bezerro recuou para R$ 3.015/cabeça em São Paulo, sendo este o menor valor nominal desde fevereiro/21, e, como o boi gordo manteve-se estável no período, o ágio do bezerro recuou para 46,74% na primeira semana de agosto/21.
Ainda assim, ressalta-se que a compra de bezerros no atual momento ainda se mostra arriscada, ainda mais para aqueles que visam o tempo de engorda desse animal em 24 meses, isso por que acarretaria em uma entrega em 2023, momento mais crítico para o preço do boi gordo, em vista da virada do ciclo pecuário saindo da retenção de fêmeas para o descarte destas.
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
O Indea-MT divulgou os números de bovinos mato-grossenses abatidos em julho/21, e, os valores do mês passado continuam a demonstrar a “fraqueza” de 2021. Foram 431,34 mil bovinos abatidos no mês de julho/21, 4,70% a mais do que em junho/21, mas ainda assim, 14,97% abaixo do mesmo mês do ano passado.
O interessante da movimentação em julho/21 foi que as fêmeas foram as principais responsáveis pelo aumento no comparativo mensal. Foram 177,71 mil fêmeas encaminhadas para a linha de abate, 9,48% a mais do que em junho/21. Enquanto isso, os machos registraram um acréscimo de apenas 1,59% em relação ao mês anterior. Ainda assim, como destacado anteriormente, há uma queda de 10,29% no total de fêmeas abatidas em comparação a julho/20.
Fonte: Indea-MT;
Os números continuam apontando para a menor participação das fêmeas no abate total do estado mato-grossenses dos últimos 11 anos, no entanto, pela primeira vez em 2021, a porcentagem de fêmeas abatidas foi maior do que no mesmo período de 2020. Ou seja, do total abatido em julho/21, 41,20% eram fêmeas, em julho/20 eram apenas 39,1%.
Esses números em conjunto com a desvalorização do bezerro podem significar os primeiros sinais que o ciclo pecuário talvez tenha atingido o seu ápice de retenção de fêmeas em 2021 e pode começar a “virar a mão” nos próximos meses, pressionando primeiro a reposição e consequentemente o boi gordo lá na frente. Como já havíamos abordado, 2021 ainda pode reservar bons frutos, mas os problemas para os pecuaristas podem surgir a partir de 2022.
6. E o que está no radar?
Após semanas de repouso, alguns sinais começam a aparecer no radar do boi gordo que podem reativar o processo de alta da arroba.
Do lado da demanda, destaca-se a concretização do maior volume exportado de carne bovina em 2021, resultando alcançado no mês de julho/21. As 166 mil toneladas embarcadas representaram também o melhor julho da história, e, ainda que a China tenha embarcado boa parte deste montante, a movimentação que “brilha” os olhos e a volta de antigos compradores como o Egito e o Chile em conjunto com a consolidação dos novos clientes como EUA, Israel e Indonésia.
O crescimento desses países sobre as compras brasileiras poderia representar uma menor dependência do consumo chinês, mas o mais interessante é que possivelmente estamos encarando um cenário de reabertura econômica e isso estimularia o consumo da proteína bovina em todos os países do globo, aquecendo assim o mercado do boi gordo.
No lado oposto, a oferta que era suficiente para encher as escalas de abate dos frigoríficos semana a semana parece estar minguando. Após duas semanas consecutivas de aumento, as escalas de abate reduziram fortemente em São Paulo, Goiás e Tocantins. No estado paulista, os frigoríficos fecharam a semana com a menor programação desde o dia 16/07/2021, com 11 dias úteis preenchidos.
Fonte: Agrifatto;
Ainda que esteja acima da média dos últimos doze meses, vale a ressalva de que os frigoríficos se reestruturam e estão operando com capacidade reduzida, e, um encurtamento das escalas de abate diante de um cenário de operação enxuta representa que a oferta pode estar “secando”, desta forma, o preço do boi gordo poderia sofrer pressões para cima nas próximas semanas.
Agrifatto