Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto
Resumo da semana:
Após duas semanas consecutivas de leves valorizações, o valor médio pago pelo boi gordo passou por reajustes negativos na última semana, o animal pronto para o abate encerrou a sexta-feira sendo negociado em média a R$ 318,27/@, recuo de 0,56% no comparativo semanal. A perda de qualidade dos pastos associado ao baixo consumo doméstico fazem com que os frigoríficos continuem a ter uma boa margem de negociação, visto a melhora da oferta e a diminuição da demanda, não à toa, as escalas de abate do país ultrapassam os 9 dias úteis.
O bezerro encerrou mais uma semana em queda, a restrição na quantidade e qualidade das pastagens deixam recriadores menos incentivados a realizar novas compras, esfriando o mercado de reposição. Em Mato Grosso do Sul, o macho é vendido a R$ 2.929,12/cabeça, recuo de 3,04% no comparativo semanal. Cabe a ressalva de que o maior volume de animais desta categoria já deve começar a entrar ao mercado nos próximos semestres, intensificando o processo de desvalorização do bezerro.
O avanço da colheita do milho não foi o suficiente para segurar a valorização do grão. As geadas recentes no centro-sul do país impactaram em novas perdas para a 2ª safra do cereal, fazendo com que haja baixo volume nas negociações, pois produtores preferem aguardar melhores oportunidades. A saca do cereal encerrou a semana com um valor médio semanal de R$ 98,54/sc, no referencial de Campinas/SP, fechando o período com alta de 1,54%.
Novas intempéries climáticas que ocorreram no centro-sul do país durante a semana, prejudicam os cafezais brasileiros. Algumas das principais regiões produtoras do país já começam a contabilizar as perdas causadas pela a geada dos últimos dias, deixando o mercado global apreensivo em relação a oferta do grão. Segundo o indicador Cepea, o café Arábica encerra o período sendo negociado a R$ 1.028,35/sc, avanço de 17,47% no comparativo semanal.
1. Na tela da B3
E o boi gordo na B3 continuou de olho no físico e repetindo sua movimentação durante a última semana. O contrato com maior liquidez neste momento, outubro/21, fechou a semana cotado a R$ 321,80/@, recuando 0,53% no comparativo semanal e no menor valor desde o dia 14/07/2021.
Ainda que tenha registrado desvalorização durante a semana, nota-se que o mercado ainda permanece sem um viés. Não há concretização, nem de um movimento de queda, nem de um movimento de valorização. O que determina o ritmo dos negócios na B3 é o preço do boi gordo no físico. As escalas alongadas e a demanda interna ainda fraca não animam a ponta compradora a aumentar seu apetite.
Esmiuçando os números divulgados pela B3, destaca-se a grande movimentação no mercado de opções, principalmente nas PUTs. Foram mais de 4,38 mil PUTs colocadas no mercado na última semana, o maior volume desde 12/11/2020, sendo que a maioria dessas operações foram realizadas pelos Investidores Institucionais e os Investidores Não-Residentes, através do que parecem ser PUTs Spreads, visto que o aumento real de exposição desses players foi bem pequeno.
Ainda que as conclusões para este movimento possam ser as mais diversas, o fato é que o segundo maior operador de futuros e derivativos de boi gordo atual, os investidores institucionais, aumentaram seu volume operacional “apostando” na desvalorização do animal, e quando os “fundos” entram para jogo, a atenção deve ser redobrada.
Fonte: Agrifatto; B3;
1.1. O que o mercado futuro proporciona?
A volatilidade continua acima da média e afasta as opções como uma alternativa conservadora, tanto para a compra (CALL) quanto para a venda (PUT).
Avaliando o cenário de curto prazo e que demonstra maior liquidez para realizar operações, até dezembro/21, a avaliação continua a apontar para uma arroba em valorização, ou seja, a proteção contra a alta da reposição seria a opção mais atrativa neste momento. No entanto, com o valor de entrada a R$ 321,00/@ para outubro/21 (contrato com maior liquidez) os riscos inerentes a operação em futuros são maiores do que o observado no último relatório.
Diante do cenário diferente, acreditamos que apenas dois cenários possíveis possam ser traçados, descartando a possibilidade conservadora neste momento. Listamos a seguir:
Mista: Conjecturando a análise de mercado e oportunidades que a B3 oferece para o boi gordo, visualizamos que a CALL Spread seria uma opção interessante. A compra de CALLs na casa dos R$ 330,00/@ financiadas pela venda de outras CALLs na casa dos R$ 340,00/@ para outubro/21 implicaria em um custo médio de R$ 2,63/@, e, considerando a possibilidade de que o boi gordo deve ultrapassar este valor (R$ 330,00/@) até tal mês, está se mostra uma alternativa com risco baixo, mas interessante para auferir uma proteção interessante contra uma possível alta do animal.
Arrojada: Na opção mais arrojada temos a compra de contratos futuros para os meses de outubro e novembro de 2021. Diferentemente do último relatório, os preços agora estão maiores e com isso os ganhos possíveis da operação são menores, no entanto, ainda enxergamos que a compra para outubro/21 na casa dos R$ 321,00/@ pode garantir uma boa proteção contra a alta do animal, devido a fundamentação que demos logo abaixo. Cabe a ressalva que para esta operação será necessário disponibilizar um fluxo de caixa para operar na B3, visto a necessidade de depósito de margem.
Além disso, já gostaríamos de reiterar que os vencimentos para 2022 já começam a aparecer na tela da B3, e devemos começar a abordagem para estes contratos a partir dos próximos relatórios. Em uma leitura de cenário diferente do que visualizamos nos últimos dois anos.
2. Enquanto isso, no atacado…
Apesar de ter apresentado ajustes negativos, o mercado atacadista de carne bovina ainda enfrenta dificuldade para engatar maiores volumes de negócios. Como o consumo no varejo aparenta não mostrar sinais de aumento de procura nos próximos dias, os preços devem permanecer estáveis para a próxima semana, mesmo que a procura aumente, já que caminhamos para o final do mês de julho/21.
Diante desta movimentação fraca, a carcaça casada bovina, encerrou a sexta-feira com sutil queda, cotada a R$ 19,88/kg, e desvalorização de -0,52% no comparativo semanal.
Para a proteína de frango, as notícias são boas. A demanda permanece aquecida abrindo espaço então para ajustes positivos nos preços. Aos poucos, o mercado dá sinais que a população possa estar saindo dos embutidos e voltando a proteína animal mais barata do mercado, com isso, o frango resfriado encerra a semana cotada a R$ 7,43/kg, com alta de 2,25% no comparativo semanal.
Para a proteína suína não é diferente. O setor se mostra aquecido, com bons movimentos de vendas no atacado e varejo. Com isso, a carcaça suína especial passou por um ajuste positivo, e fechando a sexta-feira cotado a R$ 9,83/kg, com valorização de 4,54%, no comparativo semanal.
O final do mês de julho/21 vai se aproximando emitindo sinais de calmaria ao mercado atacadista. Mesmo que com os ajustes negativos nos principais cortes pleiteados pelos varejistas nesta última semana, o volume de negócios não animou e a tendência para esta semana é de estabilização de preços.
3. No mercado externo
As exportações de carne bovina in natura avançaram na última semana, foram 41,26 mil toneladas embarcadas do produto, avanço de 13,85% no comparativo semanal. Com isso, a média diária de envios atingiu as 7,68 mil toneladas, com os 17 dias úteis de julho/21 somando 130,49 mil toneladas exportadas, 4,30% a mais que o mesmo período do ano passado.
O preço pago pela proteína bovina brasileira se manteve próximo a estabilidade, o mesmo foi vendido a um valor médio US$ 5,73 mil/ton na última, fazendo com que a média mensal recuasse 0,11%. Desta forma, as vendas da última semana geraram uma receita de US$ 221,68 milhões, representando um aumento de 12,34% ante a semana anterior, consolidando o montante de US$ 702,858 milhões até o momento, a probabilidade de visualizarmos o melhor mês de 2021 para os embarques de carne bovina é grande.
As exportações do milho continuam a progredir, na última semana 597,28 mil toneladas foram embarcadas, volume 548,04% superior a todo milho exportado em junho/21. Com uma média de 65,95 mil ton/dia embarcadas nos navios, o mês atual atinge a marca de 1,12 milhões de toneladas exportadas do grão, representando 28,18% de todo volume do mesmo mês em 2020. A receita obtida com as vendas da semana chega na casa dos US$ 140,41 milhões e com isso, os 17 dias úteis de julho/21 somam US$ 256,64 milhões.
As importações do cereal também avançam. Nos últimos 5 dias úteis, 105,54 mil toneladas do produto chegaram ao país, 642,85% a mais que a semana anterior. O preço pago pela tonelada recuou 5,73%, sendo desembolsado um valor total de US$ 26,79 milhões nas aquisições do cereal durante o mês atual. Com isso, julho/21 acumula um volume de 136,84 mil toneladas importadas de milho, quantidade 308,27% superior a de todo o mês em 2020.
Os embarques de soja recuaram 47,9% na terceira semana de julho. As 1,46 milhões de toneladas foram exportadas no período representam o menor volume do mês corrente. Até a terceira semana de julho 7,01 milhões de toneladas deixaram os portos brasileiros, volume que representa 70,5% de julho/20.
O preço pago pela a tonelada teve ligeira queda de 0,18%, sendo foi vendida a US$ 454,40. As comercializações da última semana geraram uma receita de US$ 662,99 milhões. Com isso, o mês corrente acumula um montante de US$ 3,18 bilhões, superior em 24,8% sobre o mesmo período em julho/20.
4. A compra do pecuarista
A apreensão que toma conta do mercado sobre a oferta de milho permanece impactando a relação de troca entre boi e milho, tanto no físico quanto no futuro as indicações de preços de cereal estão no patamar entre R$ 100,00/sc e R$ 101,00/sc. Embora tenha a sinalização de que o milho Argentino já é viável para algumas regiões no RS e SC, o mercado não sentiu o efeito da indicação de um maior movimento para importações.
O cenário para o boi gordo também colabora com essa perda no poder de compra para o pecuarista, com o atual preço médio da arroba próximo de R$ 319,00 e o mercado futuro, até o momento, sem dar sinalizações otimistas, mas estabilizado nos níveis de R$ 322,00.
Para o cereal os preços devem-se manter sustentados nos níveis atuais e o boi gordo tem se a expectativa de melhora da demanda que permanece estável, essa combinação de preços baseadas pelas incertezas dos dois lados deixa o poder de compra do pecuarista estabilizado no nível de 3,3 sacas de milho por @ de boi vendida, indicando até o momento que esse é a relação de troca média do ano.
Fonte: Agrifatto;
A mudança de estratégia das processadoras de soja surtiu leve efeito na perda relação de troca entre o farelo de soja e o boi gordo, mesmo assim essa relação se mantém no patamar de 3,09 toneladas de farelo por boi gordo de 20@, a mesma de junho/21. Com a demanda morna pelo derivado, as indústrias optam pelas negociações spot precificadas nas oscilações dos preços da saca soja em vez de negócios de contratos com grandes volumes. A atual indicação dos preços do derivado da soja em Rio Verde/GO está em R$ 2.060,00/ton, o mesmo preço médio registrado no mês anterior.
Fonte: Agrifatto;
5. O destaque da semana
E ao fim da última semana o noticiário climático voltou a bombar no centro-sul brasileiro. Mesmo com boa parte da segunda safra de milho já colhida, a preocupação com uma frente fria que pode chegar ao Brasil ao fim desta semana aumentou consideravelmente.
As previsões iniciais apontam para a maior frente fria dos últimos 50 anos em boa parte do sul do país, com possibilidade de geadas que se estendam por RS, SC, PR, SP E MS. Com isso, não só o milho pode ser prejudicado, mas até mesmo as culturas de café, cana-de-açúcar, trigo, fumo e também as pastagens.
Vale ressaltar que as pastagens já estão com seu suporte nutricional comprometido em grande parte do país devido a irregularidade das chuvas no primeiro semestre de 2021 e em algumas localidades do PR, MS e SP, a geada das últimas semana enfraqueceu ainda mais essa capacidade de suporte.
Desta forma, a tensão sobre esta frente fria é grande pois além de causa prejuízos sobre as culturas agrícolas, ela também pode comprometer a engorda de animais de confinamento. Atenção ao frio!
6. E o que está no radar?
A falta de novidades reinou e deve continuar a ditar o ritmo do mercado na última semana do mês de julho/21.
Com preços estabilizados e variando dentro do intervalo de R$ 315,00/@ e R$ 320,00/@, o boi gordo ainda não dá sinais de mudança de curtíssimo prazo. O radar aponta para a estabilidade ainda no final do mês de agosto/21. Ao mesmo tempo em que os frigoríficos estão com suas escalas alongadas (mesmo com a capacidade reduzida), a demanda por carne bovina no mercado interno ainda derrapa.
Após o excelente resultando em junho/21, a expectativa inicial era de que finalmente a demanda interna iria engatar, no entanto, as negociações dos frigoríficos com os varejistas foram consideradas fracas, demonstrando que o consumidor final ainda está reticente em pagar maiores valores pela carne bovina. Desta forma, com o final de mês batendo a porta, a tendência é de preços estabilizados também para o atacado da proteína bovina.
Além disso, destacamos a chegada de uma frente fria ao fim desta semana, que pode afetar ainda mais as já comprometidas pastagens do centro-sul brasileiro. Áreas que foram “reservadas” para o período seco e que venham a lidar com outra geada (que pode ser ainda mais intensa), podem chegar ao pico de stress e sofrer quedas produtivas consideráveis, o acompanhamento da intensidade desta frente fria que chega ao país será de suma importância para a pecuária nos primeiros dias de agosto/21.
Agrifatto