Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto 

 

 

Resumo da semana:

O boi gordo tem o preço da arroba sustentado durante a 1ª semana de julho, os negócios em São Paulo foram realizados com preço médio de R$ 319,50/@, alta de 1,09% no comparativo semanal. A recuperação do dólar frente ao real faz com que a carne brasileira se torne mais atrativa para o mercado internacional, podendo trazer oportunidades para os produtores.  A média nacional de programações de abate se mantém estável em 9,0 dias úteis.

A reposição registra queda nos preços. O bezerro encerrou a última semana negociado a R$ 2.929,09/cabeça, recuo de 4,34% no comparativo semanal. A sinalização é de um ligeiro aumento da oferta do animal devido ao período de desmama nas principais praças brasileiras em decorrência do movimento de retenção de matrizes iniciado em 2019.

A colheita do milho segunda safra avança pelos principais estados produtores do país. Segundo dados da Conab, 15% da área plantada já foi colhida até o início da semana anterior. No mercado físico, os negócios estão pontuais, os vendedores preferem aguardar melhores preços para a comercialização, tendo em vista a perda de safra e uma menor oferta do grão. Com isso, os preços avançaram 5,13% no comparativo semanal e a saca do cereal encerra o período negociada a R$ 95,93, em Campinas/SP.

Influenciado pelo aumento dos preços da gasolina e do dólar, o etanol hidratado avança 3,16% na semana, sendo negociado a R$ 2,92/l. Com o comércio brasileiro se reestruturando e voltando as atividades, a demanda por combustíveis começa a ganhar força, movimentando os preços para cima.

 

 

1.  Na tela da B3

O preço do boi gordo na B3 engatou movimento de valorização pela segunda semana consecutiva com forte suporte da divisa norte-americana. A cotação do boi gordo na B3 para outubro/21 fechou a quinta-feira a R$ 324,65/@, ganho de 3,54% no comparativo semanal e o maior valor desde 17/junho.

A movimentação dos players de boi gordo na última semana foi mais intensa, as posições em futuros e opções somaram 79,26 mil contratos representando um avanço de 10,42% considerando os dados divulgados até o dia 07/julho, quarta-feira. Do total, as opções respondem por 76,8% e os futuros por 23,2%.

As posições em futuros estão praticamente estáveis há duas semanas com variação positiva de 0,29% na última semana, as alterações não significativas também são notadas nas posições dos agentes que movimentaram apenas 53 contratos no período e aguardam novidades mais claras do mercado, especialmente do lado da demanda.

Já as posições de contratos em opções tiveram significativo salto semanal de 13,9% e somam um total de 60.871 operações. A principal mudanças da semana foram o aumento das posições em PUT’s dos frigoríficos (PJ não-financeira) com 3.251 posições vendidas e 2.458 posições compradas. De alguma forma traz a sinalização da indústria que está protegendo os valores de aquisição da matéria-prima e de alguma forma proteger a operação frente a lenta fluidez da demanda por carne bovina.

O aumento da posição dos investidores institucionais com 2.469 PUT’s compradas e 1.979 vendidas também foi destaque na movimentação da semana. Essa movimentação sugere a aposta do mercado em uma queda que pode ser esperada nos próximos dias devido ao efeito da geada nos pastos e consequente aumento de oferta. Ressaltamos que o movimento de melhora da oferta, se acontecer, deve ser pontual não trazendo efeitos significativos aos preços praticados atualmente.

 

Fonte: Agrifatto; B3;

 

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?

Diante do atual cenário de preços futuros na B3 e da análise de mercado que propõe baixa probabilidade de desvalorização frente as cotações atuais do boi gordo, as travas contra a queda são descartadas neste momento. Mesmo que um recuo pontual aconteça, não há sustentação diante da oferta restrita de animais.

Sendo assim, com um mercado físico “andando de lado”, o futuro deve permanecer relativamente sem grandes movimentações nos próximos dias.

O momento parece ser mais oportuno para aqueles que necessitam repor seus estoques de animais. Sendo assim, a compra de futuros de boi gordo para outubro/21 na casa dos R$ 330,00/@ aparenta ser uma operação interessante, visto a grande capacidade de tal vencimento romper os R$ 340,00/@ e consequentemente levar a cotação do boi magro conjuntamente. Cabe ressaltar que esse tipo de operação sempre irá exigir um fluxo de caixa maior e por isso, deve se atentar ao caixa da empresa antes de realizar tal operação.

As opções para outubro/21 continuam sem grande atratividade, isto por que as proteções de venda (PUTs) para este mês com um strike de R$ 300,00/@ estão custando algo em torno de R$ 4,82/@. Diante dos altos custos de confinamento e da reposição de animais, tal proteção não se mostra nada atrativa para os pecuaristas. A compra de opção que, diante da análise de mercado, nos parece mais atraente continua sendo a CALL simples, atualmente, a compra de uma CALL para outubro/21 com strike nos R$ 340,00/@ custaria algo em torno de R$ 3,87/@, podendo ser uma boa opção.

Além disso, as CALLs Spreads continuam no radar visto que é possível realizar a compra de uma CALL com strike nos R$ 335,00/@ a um custo estimado de R$ 2,83/@, que seria financiada pela venda de outra CALL nos R$ 350,00/@.

Essas seriam as opções apresentadas pelo mercado atualmente, mas diante da movimentação dos últimos dias e da previsão de “falta de notícias” para os próximos dias, devemos ver a especulação ditando o ritmo do mercado no curto prazo, desta forma, a mensagem que fica é: paciência e solidez de caixa, a mágica da volatilidade das commodities ainda terá espaço.

 

 

2. Enquanto isso, no atacado…

A oferta restrita de boi gordo no mercado físico juntamente os efeitos do ciclo pecuário ainda são os principais fatores que agem como coadjuvantes na firmeza dos preços da arroba do boi gordo nas principais praças do país. Outro fator que leva a contribuir é o bom desempenho nas exportações, principalmente para o gigante asiático, o que leva as indústrias frigoríficas a buscarem animais com o padrão China, fechando as principais negociações em torno de R$ 320,00/@.

No mercado atacadista de carne bovina, os estoques de mercadorias da semana anterior ainda permanecem nas prateleiras devido as vendas travadas durante a semana. Os preços seguiram firmes e estáveis, alinhados com os praticados na semana passada. Com isso, a carcaça casada bovina, encerrou na quarta-feira, véspera de feriado, em média de R$ 19,68/kg, mostrando leve valorização de 0,71% no comparativo semanal.

Para a proteína de frango, o mercado segue operando com ambiente firme e boa procura, a previsão para os próximos dias é de mercado aquecido e com boas expectativas de consumo. Assim, os preços para carcaça de frango resfriado fecharam a média semanal a R$ 7,05/kg, valorizando 0,76% comparado a semana anterior.

O contrário se faz verdadeiro para a proteína suína. Como as vendas e procura foram consideradas pequenas, os preços de modo geral sofreram queda, devido a baixa demanda e alta oferta da proteína. Neste contexto então, o preço da carcaça especial suína passou por desvalorização de -4,07%, fechando a semana cotada na média de R$ 9,64/kg no comparativo semanal. Na semana anterior, estava R$ 10,04/kg.

Com o feriado prolongado do dia 09/07 no estado paulista, as expectativas para melhores volumes de vendas permaneceram altas. Seguindo para a reta final da primeira quinzena do mês de julho, o atacado ainda se apega às esperanças de ajustes positivos.

 

 

3. No mercado externo

Durante os sete primeiros dias úteis do mês de julho/21 foram exportadas 52,99 mil toneladas de carne bovina in natura, avanço de 24,02% ante a última semana de junho. Esse valor representa uma média de 7,57 mil toneladas exportadas diariamente, 2,87% a mais que o mesmo período do ano passado.

O preço pago pelo produto se valorizou e chegou na casa dos US$ 5,35 mil/ton, alta de 3,38% no comparativo semanal. Com isso, os envios aos portos totalizaram US$ 253,85 milhões no período, 41,09% do montante arrecadado em todo o mês de julho de 2020.

Os embarques do milho avançam à medida que a colheita ganha ritmo no campo. Os primeiros sete dias de julho 154 mil toneladas do cereal deixaram os portos brasileiros, volume 167% superior ao total do mês de maio. O ritmo de embarque também avançou, na primeira semana de julho 21,98 toneladas foram embarcadas diariamente deixando evidente o atraso do comportamento da safra comparado a julho/2020 quando 3,8 milhões de toneladas foram exportadas com um ritmo diário de embarque de 173 mil toneladas. O preço da tonelada de milho exportada é de US$209,8/ton, 31,8% superior ao preço de julho/2020.

Já as importações brasileiras do cereal seguem em tendência de queda, foram 17,09 mil toneladas que chegaram ao Brasil na primeira semana do mês, queda de 72,22% no comparativo semanal. Mesmo assim o volume importado representa 39% do total de milho que chegou ao Brasil em julho/2020. Em termos de valores, o cereal importado atualmente no preço de US$286/ ton está 85,5% superior ao preço de julho/2020.

A oleaginosa soja registrou nova desaceleração nas exportações, com uma média diária de 389,87 mil toneladas embarcadas o ritmo é 9,92% inferior comparado a julho de 2020. Na primeira semana do mês atual 2,72 milhões de toneladas deixaram os portos brasileiros, decréscimo de 23,71% no comparativo semanal.

Houve desvalorização no preço pago pela oleaginosa, que encerrou os 7 primeiros dias úteis do mês atual na média de US$ 462,20/ton, queda de 3,19% ante a semana anterior. As negociações totalizaram US$ 1,26 bilhões, 19,83% a mais que a média do período em 2020.

 

 

4. A compra do pecuarista

O preço do cereal disponível registrou a 2ª semana consecutiva de valorização em plena colheita superando o nível de R$96,00/sc em Campinas/SP, o preço médio semanal foi de R$94,79/sc, alta de 6,1% sobre o preço médio da semana anterior e valorização de 5,1% desde o início de julho/21. Levantamentos iniciais apontam que os efeitos das geadas no PR, MS e SP devem subtrair em torno de 3,5 milhões de toneladas a produção do cereal que já estava afetada pela irregularidade das chuvas, praticamente anulando o efeito da colheita sobre a redução dos preços.

A apreciação da moeda norte-americana sobre o real, que saiu de R$5,03 na 2ª feira para R$5,25 no encerramento da semana, também colaborou para o avanço nos preços do cereal tanto no físico quanto na B3. Somando ao efeito de apreensão sobre a oferta de milho, os futuros do milho operam entre R$95,00/sc e R$100,00/sc para o 2º semestre, registrando valorização média semanal de 2,4%.

O preço da arroba do boi gordo no nível médio de R$318,10/@ registrando ligeira valorização no início de julho colabora para a sensível melhora na relação de troca boi/milho, praticamente estabilizada entre 3,4 e 3,5 sacas de milho adquiridas por @ de boi gordo. Já no mercado futuro as apreensões frente à demanda trouxeram quedas na cotação da arroba na B3 resultando na perda do poder de compra do pecuarista. O momento requer cautela.

Fonte: Agrifatto

A situação para o pecuarista com o farelo de soja é oposta à do cereal no momento atual. O preço do derivado da soja em Rio Verde/GO tem ligeiro recuo de 0,9% para o nível R$2.033/ton nesse início de julho, comparado ao mês junho na qual o preço médio mensal foi de R$2.055/ton.

Os elevados estoques nas indústrias processadoras de soja combinado com a demanda em passos lentos tanto no mercado interno quanto para a exportação tem colaborado para o momento atual dos preços. O recuo nos preços da soja no mercado doméstico e o recuo dólar no nível de R$5,00 durante o mês de junho também influenciaram de forma significativa.

O momento para o pecuarista é bastante favorável e registra a melhor relação de troca desde fevereiro/20, sendo possível adquirir 3,12 ton de farelo com um boi de 20@. Vale ressaltar que devido a essa queda algumas indústrias estão trabalhando com negócios limitados, da mão pra boca, e evitando negociações com posições de médio-longo prazo.

Fonte: Agrifatto;

 

5. O destaque da semana

A volatilidade da moeda norte-americana voltou a dar as caras durante a semana. Com avanço semanal de 4,6% sobre a moeda brasileira, o dólar voltou ao patamar de R$5,25 na quinta-feira após atuação do Banco Central do Brasil quando a moeda atingiu o nível de R$5,30. Fatores internos e externos ao país nas esferas política e econômica tiveram forte influência na apreciação da moeda e a tomada para posições de aversões ao risco dos agentes do mercado.

No âmbito internacional, o avanço das notificações de infecções da variante Delta (Indiana) da covid-19 ligou o alerta quanto a recuperação econômica global, com possibilidade de novas restrições às atividades econômicas, ou até mesmo lockdowns, dependendo do comportamento do avanço dos novos casos em alguns países ou regiões, mesmo onde a vacinação se encontra mais avançada.

Outro fator de relevância para a economia internacional foram os dados vindos da economia norte-americana. O Federal Reserve (FED), Banco Central dos EUA, indicou que deve manter os auxílios financeiros para a população dos EUA transmitindo ao mercado que retomada econômica no país pode ser mais lenta que as projeções iniciais. Outro ponto destacado pelo FED é que apesar da forte recuperação dos empregos e melhora dos salários, a efeito inflacionário necessita de maior controle.

 

 

6. E o que está no radar?

A expectativa de melhora na liquidez da carne bovina no atacado e varejo para as próximas semanas com a 1ª parcela do 13º salário e uma possível sustentação do dólar nos níveis de R$5,20 pode acrescentar ligeiro apetite da indústria. Num primeiro momento essa força extra da demanda não deve alterar significativamente os patamares atuais próximos de R$320,00/@, mas sim melhorar a fluidez dos estoques de carne nas gôndolas e câmaras frias.

Do lado da oferta de animais, o efeito das geadas nas pastagens ainda não foi observado, mas a necessidade do pecuarista pode trazer ao mercado uma queda de braço para os próximos dias, ressaltando que mesmo operando com alta ociosidade os frigoríficos estão com escalas alongadas. A princípio uma combinação de fatores de demanda podem sustentar os preços em R$320,00/@, mas pelo lado da oferta, ligeiros recuos nos preços ao pecuarista podem ser registrados para o nível de R$310,00/@.

Para o milho as atenções seguem voltadas para o avanço da colheita e a disponibilidade de milho para novo negócios. A princípio novos eventos climáticos não devem trazer mais apreensão ao mercado brasileiro e ainda não está descartada reduções entre R$5,00/sc e R$10,00/sc em algumas regiões do país durante o mês de julho. Por ora o agricultor está entregando no mercado a quantidade necessária para o cumprimento dos contratos antecipados e estocando o restante com a expectativa de negociar a preços mais elevados durante o 2º semestre.

 

Agrifatto