Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto 

 

 

Resumo da semana:
A dicotomia do pior nível de produção dos últimos anos e de escalas alongadas continua a ditar o ritmo dos negócios físicos do boi gordo, no entanto, parte da explicação para este alongamento das programações dos frigoríficos está no nível de ociosidade. As indústrias frigoríficas do país demonstram o pior nível de utilização de sua capacidade dos últimos anos, desta forma, conseguem reduzir artificialmente sua necessidade de compra, abatendo menos bovinos do que sua capacidade produtiva aguentaria. Desta forma, o preço do boi gordo continua estável, desta vez, um leve recuo de 0,23% foi observado no bovino, que fechou a semana a R$ 318,46/@.
O suíno vivo encerrou a última semana com um recuo nos preços praticados, o animal está sendo negociado na casa dos RS 6,79/kg nas principais praças paulistas, com um recuo de 10,30% no comparativo semanal. Com a China reduzindo o apetite por proteína suína, devido à forte queda dos preços internos, o Brasil passa por um processo de readequação, com exportações mais tímidas e consequentemente preços em queda.
Já o milho passou por uma semana de valorização no mercado físico, os preços atingiram os R$ 92,10/sc na última sexta-feira, avançando de 6,76% no comparativo semanal. As geadas no centro-sul do país e o relatório divulgado pelo USDA, indicaram uma menor área de plantio para a safra 2021/22 (abaixo das estimativas do mercado) contribuíram para a valorização do grão tanto no mercado brasileiro quanto no internacional.
A soja segue pelo mesmo caminho e registrou uma forte alta na semana, o preço cotado na última sexta-feira ficou em R$ 164,28/sc em Paranaguá/PR, com uma variação positiva de 10,45% em relação a sexta-feira retrasada. A alta do preço do óleo de soja na sexta-feira impulsionou o preço da oleaginosa, que vinha em uma crescente desde o último relatório do USDA e a valorização do dólar frente ao real.

 

1. Na tela da B3
Após bater a mínima, o preço do boi gordo na B3 voltou a se valorizar durante a última semana e o vencimento para outubro/21 fechou a sexta-feira cotado a R$ 317,10/@, 1,12% superior ao que era negociado na semana retrasada.
Apesar da valorização, as cotações do animal na B3 seguem com muita dificuldade em evoluir, mesmo diante da valorização do dólar e do tempo frio castigando as pastagens. Poderíamos até justificar que os operadores ficaram decepcionados com o desempenho das exportações em julho/21, que vieram abaixo de julho/20, no entanto, ao nosso olhar o mercado de boi gordo na B3 opera mais em ambiente especulativo do que fundamentalista atualmente.
Com o vencimento junho/21 finalizado no último dia 30, o mercado do boi gordo perdeu um pouco da sua liquidez, o volume de contratos em aberto reduziu 11,47% no comparativo semanal, chegando a 71,78 mil contratos (futuros + opções). Com esta movimentação, a diminuição da exposição foi observada em todos os operadores, dentre os que seguravam as maiores posições em futuros, as Pessoas Físicas reduziram sua posição comprada em 23% através do encerramento de futuros comprados, enquanto que as PJ não financeiras e os Investidores Institucionais reduziram sua exposição vendida em 24% e 29%, respectivamente, através principalmente do encerramento de posições previamente vendidas.
A virada de mês deturpa um pouco os números, no entanto, destacamos que o vencimento para outubro/21 assume uma posição “sobrevendida” que desde que começou a ser negociado não é vista. E isto, em conjunto, com um fundo estabelecido próximo dos R$ 313,00/@, pode significar que estamos diante das mínimas para este contrato. Mas como abordamos anteriormente, o mercado com o “modo” especulativo no máximo, com os fundos (IIs) operando um volume que não era visto há mais de dois anos, sendo assim, a “irracionalidade” (sem foco nos fundamentos) deve ditar o ritmo dos futuros de boi gordo por enquanto.
Fonte: Agrifatto; B3;

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Conforme relatador anteriormente, o mercado segue sem grande força para uma valorização de curto prazo. A frente fria que chegou ao país na última semana, enfraqueceu as pastagens ainda mais, antecipando a oferta restante do gado suplementado a pasto.
Sendo assim, com um mercado físico “andando de lado”, o futuro deve permanecer sem grandes movimentações nos próximos dias.
Desta forma, continuamos com uma visão de valorização no médio prazo, com o vencimento para outubro/21 representando uma oportunidade de compra no patamar próximo dos R$ 315,00/@. Diante disso, a compra de futuros ainda nos é atraente neste patamar, visando a proteção contra a valorização da reposição. Cabe ressaltar que esse tipo de operação sempre irá exigir um fluxo de caixa maior e por isso, deve se atentar ao caixa da empresa antes de realizar tal operação.
As opções para outubro/21 continuam sem grande atratividade, isto por que as proteções de venda (PUTs) para este mês com um strike de R$ 300,00/@ estão custando algo em torno de R$ 4,82/@. Diante dos altos custos de confinamento e da reposição de animais, tal proteção não se mostra nada atrativa para os pecuaristas. A compra de opção que, diante da análise de mercado, nos parece mais atraente continua sendo a CALL simples, atualmente, a compra de uma CALL para outubro/21 com strike nos R$ 340,00/@ custaria algo em torno de R$ 3,87/@, podendo ser uma boa opção.
Além disso, as CALLs Spreads continuam no radar visto que é possível realizar a compra de uma CALL com strike nos R$ 335,00/@ a um custo estimado de R$ 2,83/@, que seria financiada pela venda de outra CALL nos R$ 350,00/@.
Essas seriam as opções apresentadas pelo mercado atualmente, mas diante da movimentação dos últimos dias e da previsão de “falta de notícias” para os próximos dias, devemos ver a especulação ditando o ritmo do mercado no curto prazo, desta forma, a mensagem que fica é: paciência e solidez de caixa, a mágica da volatilidade das commodities ainda terá espaço.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
Com o início do mês de julho, o mercado atacadista de carne bovina começa a aquecer os motores, se preparando para o montante de vendas da primeira quinzena do mês. Porém, a movimentação no mercado interno ainda não foi o suficiente para mostrar elevação no preço da carcaça casada bovina. Com isso, a carcaça casada bovina, encerrou a semana com o valor médio de R$ 19,84/kg, variando -1,55% no comparativo semanal. 
Já o frango resfriado no mercado interno se manteve firme, visto que a sua saída ocorreu de forma mais lenta no final do mês passado.  Isso fez com que o preço do frango resfriado permanecesse no mesmo patamar da semana passada, em R$ 7,00/kg, não apresentando variação.
Esse fato não é semelhante para a proteína suína. Como não teve mudanças significativas nos volumes comerciais de vendas, o preço da carcaça suína especial passou por desvalorização de -9,59%, fechando a semana cotada na média de R$ 10,04/kg. A queda também foi sentida no suíno vivo, que recuou 10,30% no mesmo período.
Agora os olhos se voltam para o volume de vendas do varejo no último final de semana, com expectativas de bom desempenho, para que os reajustes durante esta semana se mostrem positivos, abrindo espaço para a possível alta do boi gordo.
3. No mercado externo
Com 42,73 mil toneladas enviadas aos portos nos últimos oito dias úteis do mês, as exportações de carne bovina encerraram o mês com um total de 140,31 mil toneladas, 10,69% superior ao montante de maio/21. Apesar da evolução, no comparativo anual notou-se uma queda de 7,64% nos embarques para fora do país, destacando o ano mais tímido para as exportações em comparação a 2020.
Apesar disso, com um preço em franca evolução, 20,54% acima do mesmo período do ano passado, a receita obtida com a venda de proteína bovina fechou o mês com um montante 11,33% superior ao mesmo período do ano passado, totalizando US$ 727,02 milhões e se posicionando como a maior arrecadação em dólares da história para um mês de junho.
Os últimos dias úteis de junho/21 se encerraram demonstrando uma aceleração nas exportações de milho para fora do país. Foram 90,05 mil toneladas de milho enviadas para fora do país nos oito dias finais do último mês, um forte avanço ante a semana anterior, sendo este responsável por 97,7% de todo o volume embarcado no mês. Ainda assim, o avanço semanal não foi suficiente para impedir a queda anual de 70,48% nas exportações de cereal.
Por outro lado, as importações de milho do Brasil encerraram o ano com um avanço de 2.746% no comparativo anual, com um total de 116,73 mil toneladas adquiridas pelo país no último mês, o maior montante para um mês de junho desde 2017.
Já a soja encerrou o mês de junho/21 com pouca mais de 11,11 milhões de toneladas exportadas no último mês, sendo 3,55 milhões nos oito dias úteis finais do mês. No comparativo anual, constatou-se uma queda de 12,74%, a tendência é de arrefecimento nos embarques, conforme a oferta interna vai ficando cada vez mais escassa.
Vale a ressalva de que, diferentemente do volume, a receita obtida com a venda da oleaginosa cresceu 23,57% no comparativo anual, graças ao aumento de 41,61% no preço médio da soja comercializada. Foram US$ 5,31 bilhões obtidos com a venda de oleaginosa.
 

 

4. A compra do pecuarista
A virada para mês de julho é marcada pela apreensão no mercado do milho com registros de geadas em lavouras nos estados do PR, MS e SP, fato que potencializa a quebra de safra já registrada. A princípio, o movimento de evolução da colheita de milho 2ª safra induzia um movimento de desvalorização nas cotações do cereal que foi congelado ao longo da semana deixando o mercado praticamente inerte na região Centro-Sul e fazendo o indicador de negócios em Campinas/SP inverter o movimento de queda voltar superar os R$91,00/sc, o preço médio registrado para o mês de junho foi de R$92,09/sc. O mesmo evento climático deu suporte para forte valorização do cereal na B3 que enceraram a semana em alta superior a 10% nos contratos futuros.
A firmeza nos preços da @ durante o mês de junho, com preço médio mensal de R$317,30, ajudou a sustentar a relação de troca boi/milho que encerrou o mês de junho no em 3,45 sacas por arroba de boi, o melhor nível desde março. A apreensão sobre as exportações de carne bovina vindas da China e o recuo da moeda norte-americana aos níveis de R$5,00 tiveram forte influência nas desvalorizações do boi gordo na B3.
O momento é de apreensão e cautela para ambos os mercados e requer cautela na tomada de decisão para posições de boi e milho na B3, o cenário que se desenha para o 2º semestre requer estratégia arrojada.
Fonte: Agrifatto

 

5. O destaque da semana
E a última semana foi para retirar os agasalhos do armário em grande parte do país. A chegada de uma massa de ar polar na região centro-sul do país, não só penalizou os mais desavisados, como também trouxe geadas em várias regiões do país. Com isso, perdas de produção foram registradas em diversas áreas agrícolas no território brasileiro, segundo dados do INMET, as temperaturas foram mais extremas nos dias 29/06 e 30/06.
Fonte: Inmet
Foram 10 focos de geadas no país nos no intervalo entre o dia 29/06/2021 e o dia 03/07/2021 segundo o Inmet, considerando este período do ano, esta é a maior quantidade de geadas ocorridas no país desde 2011, quando 45 focos de geadas aconteceram no mesmo intervalo. A preocupação com essas geadas foi reverberada principalmente sobre as cotações do milho na B3.
Como ainda há parte do milho de 2ª safra em desenvolvimento em parte das lavouras do centro-sul do país, a produção que já foi reduzida por conta do regime pluviométrico mais fraco em 2021, pode ter sofrido mais um baque. E com isso, a cotação do cereal na B3 voltou a flertar com os R$ 95,00/sc para setembro/21, fato que não ocorria desde 11/06/2021.
Assim como o milho, a cana-de-açúcar também sofre com o frio exacerbado produzido pelas geadas, forçando a mão das usinas a realizarem a colheita antes do momento ideal para minimizar maiores perdas.
Além disso, vale a ressalva de que o café e as pastagens também tiveram áreas impactadas pelas geadas, com danos ainda não mensurados.

 

6. E o que está no radar?
A primeira semana do mês completa renova as expectativas de um mercado consumidor mais firme, que levaria os preços da carcaça bovina no atacado paulista de volta a um processo de valorização. Desta forma, o fato que mais deve se destacar no radar da pecuária brasileira nos próximos dias é o comportamento da demanda.
Os números de contratações divulgados pelo Caged na última semana demonstram que a economia brasileira continua a se recuperar dos efeitos da pandemia, e em uma velocidade acima do esperado, foram 280,66 mil contratados, 78% acima da mediana que o mercado esperava. Tais números consolidam os fundamentos de que o principal entrave para a valorização do boi gordo nos últimos meses, está se recuperando, e com uma melhora econômica, a demanda interna deve voltar a crescer, estimulando os preços da proteína bovina.
Desta forma, a perspectiva de médio prazo continua positiva, no entanto, o olhar de curto prazo ainda aponta para a estabilidade dos preços do boi gordo entre os R$ 315,00 e 320,00/@, visto que, a geada prejudicou as já afetadas pastagens do Brasil e os pecuaristas estão antecipando as entregas programadas para os próximos dentro dos próximos dias.
Sendo assim, com escalas alongadas pela quarta semana consecutiva e a dificuldade do pecuarista em impor uma pressão positiva através da escassez de oferta, a tendência é de mais uma semana de estabilidade no preço do boi gordo paulista.

 

Agrifatto