Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto 

 

 

Resumo da semana:
Em uma semana com as escalas estabilizadas e um atacado reduzindo o apetite, o preço do boi gordo se manteve estável, ficando cotado ao valor médio de R$ 319,21/@, recuando 0,01% no comparativo semanal. Nota-se agora uma grande dificuldade dos pecuaristas em avançar para novos patamares de preços do boi gordo, pois as indústrias se mantêm reticentes em fechar um volume grande de compras, diante do dólar cada vez mais desvalorizado e das dúvidas sobre o comportamento da demanda de proteína da China, visto que as cotações do suíno no gigante asiático continuam em franca desvalorização.
O governo argentino divulgou uma nova nota flexibilizando a restrição total sobre as exportações de carne bovina, que vigorava no país nas últimas semanas e tinha como principal objetivo conter a inflação desta no mercado interno. Apesar de liberar os embarques de alguns cortes específicos, o governo de Alberto Fernandez determinou a proibição de envio de mais de 12 itens que são populares no consumo interno da população argentina até o fim do ano de 2021. Esta medida deve favorecer as exportações brasileiras da proteína bovina, principalmente para a China.
Os grãos continuam em queda no mercado físico brasileiro, pressionados pela desvalorização do dólar e pelo recuo dos preços em Chicago.  O preço do milho atingiu patamares que não eram vistos há mais de 3 meses e encerrou a semana com o valor médio de R$ 87,21/sc em Campinas/SP, recuando 4,92% no comparativo semanal. Já as correções para a soja no período chegaram a 5,26% e a saca da oleaginosa encerrou a semana com um preço de médio de R$ 152,10.
E por mais uma semana o dólar fechou em desvalorização, desta vez ao menor valor desde junho/20, a R$ 4,93. A movimentação na taxa de juros brasileira e a falta deste na norte-americana continuam a ser a principal justificativa para essa queda da moeda dos EUA frente a brasileira. No entanto, o panorama de crescimento do PIB acima das expectativas iniciais e possíveis reformas governamentais acontecendo também auxiliaram para o fortalecimento do real.

 

1. Na tela da B3
Em mais uma semana de queda do dólar, o boi gordo acompanhou a divisa norte-americana e recuou na B3.
Alheio a firmeza do mercado físico, a cotação do animal na B3 para outubro/21 fechou a sexta-feira a R$ 313,55/@, recuando 2,49% no comparativo semanal e o menor valor desde 04/03/2021.
E, apesar dessa desvalorização que já chega aos 8% nos últimos 30 dias, o número de contratos em aberto de boi gordo na B3 só cresce. A última semana fechou com 22,66 mil futuros de boi gordo em aberto na bolsa brasileira, 10,13% maior que na semana retrasada e flertando com os volumes máximos que foram vistos em 2020, durante o mês de outubro/20. No comparativo anual, o avanço ultrapassa os 64%.
A movimentação dos players de boi gordo na B3 na última semana demonstrou alguns pontos interessantes na ponta vendedora. Isso por que, os frigoríficos (PJs não financeiras) reduziram fortemente sua exposição vendida em futuros de boi gordo, mantendo uma posição vendida de apenas 613 contratos. Por outro lado, os fundos (investidores institucionais), continuaram a aumentar sua posição vendida, com um saldo de 8,97 mil contratos vendidos (futuros + opções), 31% maior do que era há uma semana atrás.
O fato que atrai os nossos olhares neste momento é a movimentação dos frigoríficos (PJs não financeiras), que aparentemente enxergam no preço de R$ 315,00/@ um bom valor de entrada para a liquidação de parte da posição vendida em futuros que eles detinham. Isto pode ser um indicativo de que um boi gordo neste valor estaria a um nível bom para o travamento de preços das indústrias frigoríficas. Vamos acompanhar esse movimento!
Fonte: Agrifatto; B3;

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Diante do atual cenário de preços futuros na B3 e da análise de mercado que propõe baixa probabilidade de desvalorização frente as cotações atuais do boi gordo, as travas contra a queda são descartadas neste momento.
Sendo assim, a proteção contra a possível alta da reposição demonstra-se mais interessante, e, desta forma, desenhamos três cenários possíveis para surfar na valorização do boi na B3. Sendo elas:
Conservadora: Uma das estratégias mais conservadoras para este momento seria a compra de opções de compra (CALLs), servindo, para os pecuaristas, como uma forma de proteção contra a variação positiva que a reposição possa vir a ter. A compra de CALLs para outubro/21 apontam para um custo de R$ 4,48/@ para proteger o valor de R$ 335,00/@, um dispêndio de 1,34% sobre o valor protegido. A redução da volatilidade tem tornado as opções mais atrativas, e, neste caso especifico, trava-se um preço máximo que já aconteceu no vencimento para outubro/21, tornando possível o rompimento deste strike.
Mista: Para este perfil, uma estratégia que se mostra interessante é a CALL Spread, que irá consistir basicamente na compra de uma CALL de maior valor de strike financiada pela venda de uma CALL de menor valor de strike. Exemplificando: é possível adquirir uma CALL que proteja os R$ 330,00/@ para o mês de outubro/21 pelo valor de R$ 3,79/@, combinando-a com a venda de uma CALL com strike de R$ 350,00/@. Neste caso, o proprietário desta operação estruturada está protegido contra a alta do boi gordo dos R$ 330,00/@ até os R$ 350,00/@ nos próximos três meses, no entanto, acima de R$ 350,00/@ os ganhos se interrompem, pois, a CALL vendida começa a ser exercida. Considerando-se a necessidade de proteger contra a possível valorização da reposição que venha a acontecer nos próximos quatro meses, se mostra como uma opção interessante para aqueles que precisariam repor animais.
Arrojada: Duas operações se mostram interessantes ao se trabalhar com um perfil mais arrojado para proteção da reposição. Como observamos os preços atuais para os próximos meses como atrativos para a realização de compras (visto o cenário pontuado no texto abaixo), a compra de futuros de boi gordo para outubro/21 entre os R$ 305,00/@ e os R$ 310,00/@ se mostra como uma boa oportunidade para garantir a proteção contra uma possível valorização da reposição.
Além disso, pensando em opções, outra operação que pode se mostrar interessante em um perfil mais arrojado, é a operação de COLLAR, que consiste na compra de CALLs para se proteger contra a valorização do boi gordo em conjunto com a venda de PUTs para financiar essa operação. Exemplificando, seria a compra de CALLs para o mês de outubro/21 com um strike nos R$ 330,00/@ pelo valor de R$ 0,32/@, combinando-a com a venda de uma PUT de R$ 297,00/@. Neste caso, o ativo (boi gordo) fica protegido contra altas a partir dos R$ 330,00/@ no mês de outubro/21, a um custo de R$ 0,32/@, no entanto, caso a arroba caia abaixo dos R$ 297,00/@, o pecuarista irá sofrer ajustes negativos por conta da PUT vendida neste valor.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
Se aproximando para o final do mês de junho, momento pelo qual as vendas normalmente são menores, o mercado atacadista de carne bovina visualiza um encerramento de mês tranquilo, com os preços da carcaça bovina em São Paulo rondando a casa dos R$ 20,00/kg. Os varejistas e distribuidores focam sua atenção neste momento para o período de maior consumo sazonal, o início de julho/21.
Em relação ao comportamento da proteína bovina na última semana, nota-se que essa continuou a encontrar dificuldade no escoamento, e com isso, a carcaça casada bovina, encerrou a semana com uma média de R$ 20,22/kg, variando -1,96% no comparativo semanal. Apesar disso, a média mensal de junho/21 deve encerrar no maior valor para um mês da história.
De certo modo, a procura por proteínas alternativas à bovina foram razoáveis. Diferente da proteína bovina, os preços de ambas as proteínas alternativas, frango congelado e a carcaça suína especial, registraram uma leve valorização.
Apesar da relativa dificuldade de escoamento, a carne de frango resfriada conseguiu segurar as “pontas”, encerrando a semana na faixa dos R$ 7,00/kg, valorizando 0,35% no comparativo semanal. As vendas de carne suína seguiram controladas, fazendo com que a carcaça suína especial valorizasse 0,62%, encerrando a semana cotada a R$ 11,16/kg.
Vale a ressalva de que o preço da carcaça suína especial poderá sofrer alguns reveses nos próximos meses diante das cotações da proteína em franca desvalorização na China, reduzindo assim o apetite do gigante asiático pela importação de carne suína, que hoje é o principal importador desta proteína.

 

3. A compra do pecuarista
Com a colheita do milho se intensificando ao mesmo tempo em que o dólar atinge o menor patamar dos últimos dezesseis meses, o preço do cereal mergulha em desvalorização e deve fechar o mês de junho/21 no menor patamar desde março/21. No comparativo semanal, observa-se que a cotação do milho chegou ao valor médio de R$ 87,21/sc na última semana, recuando 4,92% em relação a semana retrasada, sendo essa a quarta desvalorização consecutiva.
E com o preço do boi gordo firme, a relação de troca do milho com o bovino atinge deve fechar o mês de junho/21 no melhor nível dos últimos quatro meses, com uma arroba de boi gordo garantindo a compra de cerca de 3,41 sacas de cereal.
Fonte: Agrifatto
Pelo cenário observado até este momento, a tendência é que os preços do milho ainda caminhem em desvalorização pelas próximas semanas, pressionado por um câmbio que não descobriu seu “fundo”, por uma colheita que deve ganhar ainda mais velocidade nos próximos dias e também pelo clima norte-americano, que até agora tem se mostrado cada vez mais favorável a uma boa produção de cereal nos EUA.
Diante disto, ligamos o sinal de alerta de negociação para o pecuarista que necessita adquirir milho para o abastecimento do 2º semestre. As próximas semanas deverão revelar uma ótima janela de compra, sendo assim, uma boa oportunidade para ir ao mercado e adquirir cereal.
A situação vivenciada na soja e nos seus subprodutos é semelhante ao milho, o preço do farelo de soja em Rio Verde deve encerrar o mês de junho/21 no menor valor dos últimos nove meses, cotado em média a R$ 2.069/t.
No entanto, diferentemente do milho, o espaço para a queda do farelo é menor que o do milho, visto que, a indústria de esmagamento da oleaginosa já começa a reduzir o apetite e a produção nos próximos meses, o que poderia causar uma menor oferta e consequentemente manter os preços em um patamar mais elevado. E com o preço do boi gordo ainda firme, a relação de troca com o farelo de soja finalmente ultrapassou a média histórica, sendo assim, um momento simpático para ir as compras do proteinado.
Fonte: Agrifatto;

 

4. O destaque da semana
O preço da reposição vem sofrendo nas últimas semanas. O bezerro atingiu na última terça-feira o menor patamar dos últimos três meses, ficando cotado a R$ 2.892/cabeça. Desta forma, atenta-se para o fato de que as cotações da principal categoria da reposição podem ter chego ao seu pico de preços ao final do mês de maio/21, e, agora com a perspectiva de um boi gordo depreciado na B3, os compradores se ausentam do mercado, enfraquecendo os preços físicos.
Apesar de um horizonte que aponta dificuldade (arroba em desvalorização na B3), a relação de troca do boi gordo com o bezerro tem melhorado nas últimas semanas, isso por que, no físico a cotação do bovino destinado ao abate manteve-se firme, próximo aos R$ 320,00/@.
Desta forma, a relação de troca do boi gordo com o bezerro voltou a crescer, fazendo com que o pecuarista paulista conseguisse adquirir 2,11 cabeças de bezerro com a venda de um boi gordo de 20 arrobas, valor 5,78% maior do que no em maio/21. Ainda assim, no comparativo anual, observa-se uma redução da capacidade de reposição do recriador, isso por que, a relação de troca neste mês deve fechar 3,52% abaixo do que era em junho/21.
Fonte: Cepea; Agrifatto;
Duas motivações levam a esta desvalorização do bezerro no mercado físico, a primeira diz respeito a um aumento sazonal de oferta. O período de desmame e consequentemente de maior oferta anual de bezerros acontece neste período do ano, sendo assim, a queda observada no preço do animal de reposição neste momento é justificada pela chegada da “safra” de bezerros 20/21.
O segundo ponto que justifica essa movimentação negativa é o ciclo pecuário, que já dá sinais de “virada”, visto que, as fêmeas retidas desde o fim de 2019 já começam a resultar em mais bezerros sendo produzidos, aumentando de maneira contínua a oferta de bezerros já a partir de agora e com sinais de intensificação deste processo nos próximos anos.

 

5. E o que está no radar?
Em banho-maria, está o mercado de boi gordo paulista, o alongamento “irreal” (irreal pois as indústrias estão com o seu maior nível de ociosidade dos últimos dez anos) das escalas de abate dos frigoríficos em conjunto com o dólar no menor patamar desde mar/20 tem mantido a cotação do boi gordo comportado, próximo aos R$ 320,00/@.
E a tendência é de estabilização para a próxima semana, isso por que os pecuaristas paulistas ainda se mostra muito reticente em aceitar negociar a valores menores que os R$ 315,00/@. Com isso, as indústrias buscam alternativas, e animais de outras unidades da federação são os principais destino deste assédio. Não à toa, vemos o diferencial de base entre São Paulo e os demais estados nos menores valores históricos.
Apesar da estabilidade no mercado do boi gordo, os negócios da carne bovina no atacado devem voltar a se aquecer nos próximos dias. Isso por que há no radar o recebimento dos salários e da primeira parcela do 13º, que pode estimular o crescimento do consumo de proteína animal. Desta forma, a carcaça casada bovina poderá sofrer reajustes nos próximos dias, descartando a possibilidade de alta para o boi gordo em um primeiro momento, mas a depender da intensidade de valorização da carcaça, o animal poderia surfar em uma alta no curto prazo.

 

Agrifatto