Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Stefan Podsclan é engenheiro agrícola e consultor de mercado pela Agrifatto
Jéssica Huescar é médica veterinária e trainee pela Agrifatto
Antônio Costa é estagiário pela Agrifatto 

 

Resumo da semana:
Semana estável no mercado físico do boi gordo, a cotação do animal em São Paulo ficou em média a R$ 312,35/@, variando positivamente 0,05. O mês de junho/21 traz consigo uma expectativa de sustentação dos preços, devido a diminuição da oferta de boi gordo produzido a pasto, o que já reflete em margens de escala de abate mais curtas dentro das indústrias. No estado paulista, os frigoríficos observaram um recuo médio de um dia nas suas escalas de abate durante a última semana, ainda que estejam acima da média histórica, a redução já preocupa as unidades frigoríficas paulistas.
Com o mercado climático atuando com força sobre as cotações, o preço do milho e da soja sofreram fortes reajustes durante a última semana em Chicago. O contrato do cereal para setembro/21 na CBOT fechou a semana cotado a US$ 6,07/bu, valorizando 5,85% no comparativo semanal e com o maior valor desde 12/05/2021. No caso da oleaginosa, a alta observada foi de 4,39%, com o vencimento para setembro/21 cotado a US$ 14,69/bu, também o maior valor desde 12/05/2021. No Brasil, a alta desses ativos foi anulada pela movimentação negativa do dólar, travando assim negociações e valorizações para o milho e soja em solo brasileiro.
Impulsionado pela demanda chinesa, o preço do suíno magro vivo nos EUA continua firme e forte. O contrato corrente do animal na CBOT atingiu os cents US$ 119,50/lp, valorizando 2,07% no comparativo semanal e fechando ao maior preço desde março/18. Essa movimentação vai em sentido oposto ao que acontece no mercado físico chinês, aonde o preço da carne suína segue em franca desvalorização, chegando ao menor valor desde agosto/19. Duas linhas de narrativa se formam e justificam essa movimentação oposta: a primeira é a do governo chinês que aponta que a onda da PSA que afeta atualmente a China é pequena e que a queda de preços atuais é reflexo da recuperação massiva do rebanho suíno chinês, e a outra é ventilada pelo mercado que a desvalorização forte observada no preço da carne suína na China está sendo causado por um grande volume de animais sendo encaminhados pelos produtores para a linha de abate se precavendo de um abate sanitário com a chegada da PSA. Caso a tese do governo chinês se mostre verídica, a tendência natural é a redução das importações dos EUA nos próximos meses, vale a atenção a este movimento.

 

1. Na tela da B3
O encerramento do contrato futuro para maio/21 não trouxe muito ânimo ao mercado de boi gordo na B3. O processo de desvalorização continuou a acontecer, com o vencimento para outubro/21 recuando aos R$ 335,50/@ na sexta-feira, com queda de 0,70% na semana e no menor patamar de fechamento desde o dia 13/05/2021.
Além do movimento de correção e ajuste de posição, outro fator que contribuiu para esta desvalorização foi o dólar. A chegada ao menor valor de 2021 na última sexta-feira, R$ 5,05, traz preocupações para a competitividade das exportações brasileiras de proteína bovina e fez o mercado ficar mais depressivo.
O fim do vencimento para maio/21 reduziu a liquidez do mercado de boi gordo, visto que o foco agora se dá exclusivamente no contrato para outubro/21, no entanto, um movimento que se destacou na última semana é a redução mais significativas no volume de PUTs em aberto no mercado. Enquanto as CALLs registraram uma diminuição de 13% no comparativo semanal, as PUTs diminuíram seu volume em aberto em 41%, atingindo o menor nível desde março/21 e destacando a maior diferença entre CALLs e PUTs dos últimos 18 meses.
Fonte: Agrifatto; B3;

 

Ainda que os futuros tenham “relaxado” e se desvalorizado durante toda a semana, os titulares de opções de boi gordo neste momento enxergam a maior probabilidade de valorização do ativo do que de queda do ativo neste momento, cabe atenção para a realização, ou não, deste movimento.

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Com a virada do mercado futuro e um físico ainda em recuperação, as oportunidades que podem surgir no radar dizem respeito mais a reposição e compra de insumos do que sobre a venda de animais.
Diante da desvalorização de R$ 10,00/@ do boi gordo na B3 para outubro/21 na última semana, o interesse de formar posição passa a ser para aqueles que precisam recompor animais nos próximos meses.
Desta forma, acreditamos que para aqueles que enxergam em futuros uma opção de comercialização interessante, e detêm caixa para segurar os ajustes diários e o depósito de margem, a compra de futuros de boi gordo para outubro/21 entre os R$ 330,00/@ e R$ 335,00/@ se desenha atraente. Na nossa visão, o caminho natural para o boi gordo no 2º semestre de 2021 é acima dos R$ 340,00/@, sendo assim, a oportunidade de compra e reposição é real via futuros.
Por outro lado, as opções para aqueles que necessitam vender seus animais nos próximos meses perderam um pouco da sua atratividade. Isso porque a desvalorização encareceu as PUTs simples, e, mesmo com strikes menores, os custos para aquisição a tornam pouco atrativas. Para aqueles que gostariam de estabelecer um preço mínimo e surfar em uma possível alta do boi gordo em 2021, este não parece ser o melhor momento para realizar tal operação. Para o outro lado da ponta, aqueles que precisam adquirir animais, a compra de CALLs para os próximos meses ficou mais atraente e é uma estratégia interessante, ainda mais se combinado a uma operação estruturada de COLLAR, que consistira na venda de uma PUT para financiar a CALL.
Por fim, o mercado a termo esfriou um pouco na última semana com o feriado e o desinteresse do pecuarista em vender abaixo dos R$ 340,00/@ para outubro/21. No entanto, como havíamos dito no relatório passado, a venda de animais a termo é uma opção barata e que se feita no momento certo, pode encaixar de maneira confortável para a empresa.

 

2. Enquanto isso, no atacado…
Com o “buraco” na oferta causado pelo feriado da quinta-feira (03/06/2021) e uma demanda acima do esperado, as negociações da carcaça casada bovina ganharam “corpo” durante os últimos dias da semana passada. Os preços da carcaça casada, da pontas de agulha e dos dianteiros tiveram maior facilidade de escoamento e registraram valorizações.
As semanas consecutivas de queda deram lugar a alta de 0,87% na última semana, fazendo com que a carcaça casada bovina atingisse o patamar de R$ 19,18/kg. Os atacadistas agora ficaram de olho no comportamento do varejo, visto que um reajuste de preços deve acontecer nesta segunda semana do mês, dependendo da resposta dos consumidores a esta alta, este novo patamar poderá se consolidar.
As proteínas concorrentes estão ganhando valor a passos curtos, mas mostrando uma certa recuperação em comparação as semanas anteriores. O frango resfriado que chegou a registrar um recuo semanal de -3,19%, já observou na última semana uma desvalorização de apenas 0,86%. O desempenho das vendas durante o feriado prolongado deverá ditar o ritmo dos preços durante a semana vindoura.
Com um mercado mais estabelecido e bem precificado pela oferta curta, a carne suína já não enfrenta reajustes tão profundos, visto que há cerca de três semanas, a carcaça suína especial chegou a mergulhar -9,39%, agora já visualiza uma queda de apenas 0,36% no comparativo semanal.  A média de preço para a carcaça suína especial ficou em R$ 8,46/kg.

 

3. No mercado externo
Os envios de carne bovina iniciaram o mês de junho aquecidos. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgou as exportações de carne bovina in natura referentes aos três primeiros dias úteis de junho/21 que contabilizaram um volume total embarcado de 24,30 mil toneladas e uma receita gerada de US$ 123,94 milhões.
Desta forma, a média diária registrada enviada para fora do país ficou em 8,10 mil toneladas – alta de 34,17% ante a última semana do mês anterior e avanço de 11,95% em comparação ao mesmo período do ano passado. O valor médio por tonelada registrou-se em US$ 5,10/t, aumento de 18,67% quando comparado com a junho/20. Mesmo com o otimismo da primeira semana, a Agrifatto estima um volume exportado em torno de 135 a 155 mil toneladas para este mês.
Com preços elevados no mercado interno, o cereal registrou o carregamento de 710 toneladas nos primeiros dias de junho/21 contra 312,2 mil toneladas em junho/20. Já as importações registraram cerca 7,5 mil toneladas descarregadas nos portos brasileiros, volume 85% superior ao total milho comprado em junho/20, de 4,1 mil toneladas.
O preço do cereal importado deixa evidente que ele também está caro no mercado internacional, o custo em junho/21 está em US$277/ton contra US$219/ton em junho/20. O custo com as compras det milho no exterior até o momento é próximo de US$2,1 milhões.
Os primeiros dias úteis do mês de junho/21 contabilizaram o embarque de 2,47 milhões de toneladas de soja, volume que corresponde a 19,4% das 12,74 milhões de toneladas exportadas em junho/20. A performance de carregamento com quase 825 mil toneladas carregadas diariamente no mês atual é 36% superior à de junho/20, com 607 mil toneladas.
A receita de US$1,158 bilhões obtida com as exportações de soja nos três primeiros dias uteis de junho/21 corresponde a 27% da receita obtida em junho/20, fato explicado pelo maior valor da soja no ano de 2021. Em junho/21 o preço da tonelada despachada é de US$468/ton contra US$337/ton em junho/20, diferença de 38,9%.

 

4. A compra do pecuarista
O mês de junho inicia com tendência de ligeiras reduções no preço do milho disponível, a sensação ao mercado é que milho escondido nos armazéns começou a aparecer e o vendedor, cerealista ou produtor, está um pouco mais flexível com os preços. O tímido início da colheita em Mato Grosso pode trazer a impressão de oferta farta de milho no mercado, uma vez que essas primeiras áreas foram plantadas dentro da janela ideal e tendem a apresentar bom potencial produtivo, mas a realidade do milho está traduzida no comportamento dos preços no físico e futuro.
Desde o início da última semana de maio o preço do milho físico representado pelo indicador CEPEA de Campinas/SP sinaliza preços abaixo de R$100,00/sc com patamar próximo de R$98,00/sc enquanto a arroba vem em um comportamento de estabilidade próximo de R$310,00 em São Paulo nas últimas 2 semanas, esses comportamentos colaboraram para uma ligeira relação de troca entre boi e milho nesse início de junho comparada ao mês de maio.
Já no mercado futuro os movimentos de boi e milho influenciados por oferta, demanda e dólar tem registrado estabilização nas relações de troca boi/milho, mas o cenário é que temos retratado e alertado permanece inalterado especialmente pela oferta de milho com os preços voltando para o patamar de R$100,00/sc após a finalização da colheita.
Fonte: Agrifatto;

 

 

5. O destaque da semana
O dólar encerrou a última semana no seu menor valor desde o início do ano. Em um movimento de desvalorização que começou a se intensificar a partir do dia 21/05/2021, a moeda norte-americana fechou a última sexta-feira (04/06/2021), no menor valor desde dezembro/20, cotada a R$ 5,04.
Fonte: B3;

 

A melhora acima do esperado dos indicadores econômicos do país durante o primeiro trimestre de 2021 ajudaram na valorização da moeda brasileira frente ao dólar. Segundo o IBGE, entre janeiro e março de 2021, o PIB do país cresceu 1,2%, cerca de 0,4 p.p. acima do que o mercado aguardava e fechando assim o terceiro trimestre de alta consecutiva. Além disso, os consecutivos aumentos da taxa básica de juros do país (Selic) e a expectativa de novos reajustes desta estão atraindo mais capital especulativo ao Brasil.
Com a vacinação alcançando cada vez mais brasileiros, a confiança da indústria e dos empresários para um cenário de menos restrições de locomoção durante o segundo semestre do ano vêm aumentando. Ainda que a incerteza política pese sobre as cotações do real brasileiro, o mercado já visualiza um câmbio flutuando dentro da banda dos R$ 5,00-5,20 pelos próximos meses.
Esse movimento pode ser interessante sobretudo para aqueles produtos que estão correlacionados com a moeda norte-americana, ativando o radar de compra dos insumos (milho, farelo de soja, etc), mas também ligando o sinal de alerta para a competitividade da proteína bovina brasileira no mercado externo.

 

6. E o que está no radar?
A alta surpreendente de R$ 1,00/kg na carcaça bovina no atacado paulista reacendeu um ânimo que não era visto há algum tempo nos frigoríficos e distribuidores do mercado interno. A escassez de proteína bovina em conjunto com uma demanda levemente melhor fez com que o preço pago pela carcaça subisse aos R$ 19,95/kg em São Paulo, atingindo o maior valor das últimas semanas.
Tal movimento é animador, visto que o mercado esperava um reajuste na casa dos R$ 0,30-0,50/kg e se deparou com uma valorização bem acima, e ainda assim, a comercialização andou relativamente “bem”.
Mesmo com o dólar puxando a competitividade do boi brasileiro para baixo, a perspectiva continua de firmeza do preço do boi gordo, caminhando até mesmo para uma valorização, visto que as pedidas já rondam a casa dos R$ 320,00/@ em São Paulo, bem acima do nível atual médio de R$ 310,00/@.
A solidez desta alta dependerá de como o varejo irá receber e repassar a alta dos cortes ao consumidor, em caso de um repasse bem-sucedido, a tendência é que o patamar de R$ 320,00/@ se consolide.

 

Agrifatto