Resumo da semana:

A demanda por carne bovina enfraqueceu em janeiro, refletindo queda do boi casado no atacado e pressão negativa sobre o spread da indústria (diferença de preços entre a carne bovina e a arroba do boi gordo). Já o ritmo das exportações se manteve praticamente dentro das expectativas.

Do outro, a oferta de animais prontos também recuou, em consequência do período de forte estiagem nas principais regiões produtoras. A oferta restrita reflete sobre as programações de abate mais curtas, que sustentaram o mercado – aproximando os diferenciais de base e indicando mercado mais sustentado nos próximos dias.

Dado o cenário, as indústrias fazem compras de modo compassado, de modo a pressionar em menor intensidade a arroba do bovino terminado ao mesmo tempo em que oferta carne para o atacado alinhado com o ritmo do mercado interno.

 

  1. Na tela da B3

Na última semana houve a liquidação do contrato futuro com o vencimento de jan/19 em R$ 152,79/@. Ao longo do último mês, as cotações praticamente preservaram equilíbrio em dois patamares diferentes. Na primeira metade de janeiro, os valores oscilaram ao redor de R$ 152,30/@. Na 2º metade do mês, houve ligeiro recuo em torno de R$ 151,70/@.

Já nos últimos dias, os patamares mais altos foram recuperados. Destaca-se que variações expressivas para o indicador também colaboraram para ampliar a volatilidade em bolsa.

E o vencimento para fevereiro, que vinha sendo pouco negociado, já viu sua liquidez melhorar – tendência que continuará ao longo do mês, ajustando sua curva. Fev/19 encerrou a semana passada em R$ 151,30/@.

O contrato futuro para maio, que iniciou 2019 a R$ 152,35/@, vem recuando semana-a-semana e fechou a sexta-feira (01/fev) em R$ 150,05/@.

Com a acomodação dos contratos em patamares inferiores, a opção de venda (PUT) encareceu. Por exemplo, dia 02/jan uma PUT com strike em R$ 146,00/@ custava R$ 0,89/@. No dia 01/fev, nas mesmas condições, o custo passou para R$ 1,37/@.

 

  1. Enquanto isso, no atacado…

Após recuar nas 4 (quatro) primeiras semanas de janeiro, a carcaça casada bovina passou por valorizações na semana passada, motivada principalmente pela sazonalidade do consumo maior de carne bovina na primeira metade de cada mês.

No comparativo entre as quintas-feiras (24 e 31/jan), o preço da carne bovina no atacado avançou 1,00%. Na contramão do boi, a cotação das principais proteínas alternativas, o frango e o suíno, recuou 0,85% e 1,26%, respectivamente.

Ao longo de janeiro, a carcaça casada bovina se desvalorizou 5,40%, passando de R$ 10,65 para R$ 10,07/kg. A carne de frango e a suína recuaram 4,35% e 12,88% no mesmo período, e encerraram janeiro cotadas em R$ 4,07/kg e R$ 5,48/kg, respectivamente.

O spread (diferença de preços) entre a carne bovina no atacado e a arroba do boi gordo, que vinha trabalhando no campo positivo desde outubro/18, ficou negativo a partir da segunda metade de janeiro e encerrou o último dia útil do mês em -1,47%. Entretanto, na média mensal o spread ainda conseguiu se manter positivo em 1,16%.

A valorização em maior intensidade da carne no atacado na próxima semana pode diminuir o spread ou até trazê-lo para o campo positivo novamente, posto que arroba do boi gordo segue firme, mas sem muito espaço para avanços consideráveis.

 

  1. No mercado externo

As exportações de carne bovina in natura referentes aos embarques de janeiro/19 contabilizaram um volume total de 102,43 mil toneladas e uma receita de US$ 382,95 milhões.

A média diária registrada foi de 4,66 mil toneladas, recuo de 26,52% em relação ao mês anterior e alta de 3,0% frente à média diária do mesmo período de 2018.

O preço médio por tonelada foi de US$ 3.748,40, recuo de 1,65% em relação a dezembro/18 e queda de 12,39% quando comparado com janeiro/18.

A queda do valor médio da tonelada exportada pode ser explicada pela mudança no mix exportado. Com o mercado interno mais aquecido no fim do ano passado, houve preferência dos frigoríficos por comercializar produtos de maior valor agregado ao consumidor doméstico. Assim, as vendas externas entre novembro e dezembro, que se traduzem em embarques em janeiro, refletem produtos de menor valor agregado, refletindo em preços médios negativos. É o que explica a forte queda observada na comparação anual de preços médios.

Janeiro confirmou o sazonal recuo dos embarques – com volume menor frente ao embarcado em dezembro de 2018. Mas as expectativas seguem positivas para 2019, com retorno da Rússia e continuidade do protagonismo da Ásia nas importações.

Para mais detalhes sobre as exportações ao longo de 2018 e perspectivas para este ano basta clicar aqui.

 

  1. O destaque da semana:

As escalas de abate encurtaram e estão nos menores patamares desde a primeira metade de setembro/18. No final da semana, as programações de abate em São Paulo e Mato Grosso do Sul atendiam a 6,3 e 5,5 dias, respectivamente. Em Goiás e Mato Grosso, estavam em 6,1 e 4,9 dias.

Após um dezembro de pouca chuva nas principais praças pecuárias, diminuindo a oferta de pastagem, janeiro trouxe condições ligeiramente melhores, mas o fato é que a disponibilidade de animais prontos neste momento ficou comprometida pelas condições de clima mais difíceis ocasionadas pelo forte veranico entre dezembro e janeiro que acometeu o Brasil Central.

A oferta menor dificulta a originação por parte das indústrias, que compram compassadamente para diminuir a pressão positiva sobre a arroba.

 

  1. E o que está no radar…

Janeiro encerrou com alta de 4,65% ante a referência do CEPEA para o mesmo mês em 2018, abaixo do desempenho registrado para o Índice Gral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que nos últimos 12 meses acumula alta de 7,10%. A relação representa perda de valor real para o boi gordo e mostra que, apesar de o mercado estar mais firme e otimista, a correção dos preços reais do boi gordo via ciclo pecuário ainda não refletiu sobre os preços.

A menor oferta de pastagens esfriou a procura por reposição, fazendo com que a relação de troca do boi gordo por bezerro, na maioria das praças, melhorasse ligeiramente em janeiro. Em São Paulo, por exemplo, a relação de troca entre dezembro e janeiro passou de 1,98 para 2,02.

Nos próximos meses, principalmente com a queda gradativa do preço do boi gordo ao longo da safra de capim e uma maior procura pelas categorias de reposição, a relação de troca deve passar por ajustes.

O pecuarista deve ficar atento à aquisição da reposição, posto que é o principal custo da atividade.

 

  1. Como fica o longo-prazo?

Há oportunidades no radar via mercado futuro, considerando o comportamento histórico do boi gordo.

Em anos de fase de alta de ciclo pecuário, a alta média entre o período de safra e entressafra é de 7,7%. Isso levaria a arroba a R$ 163,00 em São Paulo na média do segundo semestre (entressafra).

Entretanto, até alcançar seu ápice, a fase de alta do ciclo tem reações mais brandas nos primeiros anos de ocorrência.

Além disso, há de se combinar tal indicador com o contexto econômico vigente.

Observando a história e considerando a ocorrência de uma fase de alta de ciclo pecuário ocorrida concomitantemente a um período de reformas e recuperação econômica no Brasil, é possível tomar como baliza o período de 96-2000 para projetar uma alta média possível para o boi gordo em seu primeiro possível ano de fase de alta do atual ciclo pecuário.

Com alta média de 4,0% observada naquele período, isso levaria a um preço inicial possível de R$ 157,00/@. Há de se considerar que o mercado pecuário no período era completamente diferente: outra realidade de consumo interno e externo, bem como outro perfil pecuário.

Entretanto, o exercício é válido para criar patamares possíveis de valorização para o boi gordo em um cenário de recuperação econômica versus fase de alta de ciclo.

 

Um abraço e até a próxima semana!