Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto
Bruna Giacon é graduanda em agronomia e estagiária pela Agrifatto
Resumo da semana:
Com oferta ainda bastante escassa em todo país, essa é a sétima semana consecutiva que a arroba do boi gordo apresenta alta. O indicador Cepea/Esalq atingiu R$ 300,00/@ desde o início da semana, batendo o recorde da série histórica da instituição. No estado de São Paulo animais destinados à exportação foram negociados em até R$ 310,00/@, enquanto que o boi comum ficou cotado entre R$ 300,00 a R$ 302,00/@. Mesmo com o aumento dos preços do boi gordo a oferta não reagiu, deixando os frigoríficos com escalas de abate inferiores a 6 dias úteis, e forçando-os a trabalharem no vermelho.
Em contrapartida, o bezerro seguiu a semana com preços estáveis, sendo cotado em média entre R$ 2700,00/cabeça a R$ 2715,00/cabeça no estado do Mato Grosso do Sul. Em São Paulo as cotações foram um pouco inferiores, fechando a semana com média de R$ 2586,50/cabeça referência Cepea/Esalq.
O mercado da soja brasileira continua estável apesar dos avanços da colheita no Brasil. As ofertas ainda estão escassas pois os grãos colhidos são de baixa qualidade, não sendo qualificados para a exportação. No Porto de Paranaguá a oleaginosa ficou cotada a R$ 167,00/sc. A soja norte-americana acompanhou o mesmo ritmo, terminou o dia cotada a US$ 13,66/bu, recuando 0,42% em comparação com o dia anterior. A expansão das áreas semeadas nos Estados Unidos corrobora com as movimentações.
Os contratos futuros para o petróleo fecharam em alta. O petróleo WTI foi catado a US$ 54,85/barril com contrato de vencimento para março/21, com uma alta de 8,90% na comparação semanal. O petróleo Brent também não ficou para trás, obtendo um avanço de 0,85%, ficando cotado a US$ 55,04/barril. As altas no preço podem ser justificadas devido ao anúncio da Opep+ sobre o cumprimento de seus cortes na produção. Além disso, o fato de que a Arábia Saudita não concederá descontos aos chineses, também sustentam os preços do petróleo.
1. Na tela da B3
Como esperado, semana de pouca movimentação na bolsa. Os participantes do mercado costumam ficar ligeiramente afastado neste início do mês, refletindo assim em um mercado mais arrastado, de baixa liquidez. Com isso, a primeira semana de fevereiro encerrou com ajustes negativos em grande parte dos contratos futuros.
O fevereiro/21, oscilou negativamente grande parte dos dias, fechando a semana com queda diária de 0,64% e cotado R$ 296,70/@. Houve uma queda de 14% no volume de negociações do BGIG21 entre a primeira semana de fevereiro a última de janeiro/21, com o número passando de 5.319 para 4.561.
Já o maio/21, que vinha se aproximando da casa dos R$ 290,00/@, encerrou a sexta-feira em R$ 281,30/@, acumulando queda diária de 0,92%. O número de contratos ainda é pouco expressivo, mas fica na posição dois do ranking. Na última semana houve um incremento de 71,67% nos contratos negociados em comparação da semana anterior, com o número ultrapassando os 2 mil contratos.
Com relação a participação dos players, houve uma redução significativa na participação de Pessoa Jurídica Financeira, principalmente na compra e venda de opções, tanto para PUT quanto CALL. Os números que já vinham cadenciados, beiraram o nulo na última semana. O que reafirma a posição de atenção quanto aos participantes do mercado, que resistem em assumir riscos no momento e acabando não tomando posição.
1.1 O que o mercado futuro proporciona?
Com o mercado físico ultrapassando a faixa dos R$ 300,00/@, e as cotação se aproximando dos R$ 310,00/@ para os animais destinados à exportação, o mercado tem pregado a precaução. Neste início do mês foram observadas poucas negociações, com a tendência se mantendo no para operar no mercado futuro, onde grande parte das indicações ainda ficam acima dos R$ 290,00/@.
A grande volatilidade continua a afastar os operadores de mercado das opções. As PUTS “secas” para fevereiro/21 com strikes entre R$ 280,00/@ a R$ 290,00/@ estão saindo em média R$ 1,35/@, e ultrapassam os R$ 2,00/@ quando chegam aos R$ 289,00 e R$ 290,00/@. Para os meses posteriores os valores são maiores, o que vai tornando inviável optar por este método de proteção.
Já os futuros, apesar de uma semana com menor liquidez, ainda têm os valores acima da média do ano passado e, em grande maioria, está acima dos R$ 290,00/@. Apesar de exigir fluxo de caixa, se tornando uma das opções mais adequadas para os pecuaristas que ainda não protegeram parte de seu rebanho. O contrato para maio/21, conforme os dias vão passando sua liquidez aumenta, ficando na média de R$ 285,00/@ nos últimos 5 dias úteis, relevando um acréscimo de 44,46% em comparação ao indicador de maio/20.
Com o mercado atacadista de carne bovina passando por tempos difíceis, em decorrência do menor consumo e migração para proteínas mais baratas, o mercado a termo continua fora do radar.
2. Enquanto isso, no atacado…
A comercialização de carne bovina continua lenta na última semana. O mercado abriu sem aumento após avaliar que, devido ao baixo poder aquisitivo, o consumidor não suportaria tal inflação. Com isso, a carcaça casada do boi fechou a sexta-feira cotada a R$ 18,40/kg, tendo o ajuste deixado de lado, praticamente mantendo os preços da semana passada. Com uma crescente oferta de fêmeas no mercado, suas carcaças foram as que sofreram maior desvalorização em todo o cenário.
O mercado de aves encerrou a semana com leve alta. O frango resfriado ficou cotado a R$ 5,41/kg, com um ganho de 0,74% na comparação semanal. Mesmo com a elevada competitividade entre o frango e as demais proteínas, como a bovina e suína, as vendas internas de frango ainda estão fracas, assim como as exportações, limitando o preço da proteína.
Para o mercado suíno a semana se encerra em queda, sendo observado um ajuste negativo de 0,76% comparando com a semana anterior. A proteína ficou cotada a R$ 9,05/kg. A demanda pela carne suína sofre um forte recuo tanto pelo mercado interno, como para o exterior, acarretando a diminuição da procura por novos lotes de animais por parte da indústria, retraindo o preço do quilo do animal. Segundo o Cepea, em algumas regiões o preço médio do suíno vivo chegou ao menor patamar desde julho de 2020.
Com uma oferta reduzia, o mercado do ovo encerra a semana com reajustes positivos. O preço em São Paulo para uma dúzia de ovos foi cotado a R$ 6,00, R$ 0,50 a mais que na semana passada. A caixa com 30 dúzias foi negociada a R$ 120,00. Mesmo com tais avanços, os custos de produção ainda estão bastante elevados, pressionados principalmente devido aos preços altíssimos de soja e milho.
3. No mercado externo
Com um desempenho muito fraco na segunda semana do mês de janeiro/21, as exportações de carne bovina observaram sua média diária desacelerar 26% no comparativo com a semana inicial deste mês. Foram 19,83 mil toneladas de proteína bovina embarcadas no acumulado da 2ª semana do mês, 51% a menos que na primeira semana. Desta forma, a média diária do mês de janeiro/21 caiu para 6,05 mil toneladas, nível 7% abaixo quando comparado a dezembro/20.
O impacto sobre a receita seguiu o mesmo caminho, visto que o preço médio continuou estabilizado na casa dos US$ 4.500/t. A receita média diária caiu 26% comparado a 1ª semana do mês de janeiro/21, estabelecendo-se em US$ 27,30 milhões/dia. Ainda que seja 7% maior que a média observada durante o mesmo período do ano passado, este fraco desempenho da 2ª semana coloca em “xeque” o possível recorde que seria batido.
A redução vertiginosa da oferta continua a acometer os embarques de milho brasileiro para fora do país. Com cerca de 601,88 mil toneladas exportadas na 2ª semana de janeiro/21 (6% a menos que na 1ª semana), a média diária exportada no mês caiu 3% em relação a semana retrasada, estabelecendo-se em 124,32 mil toneladas/dia. Cabe a ressalva que apesar da piora nos embarques nas últimas semanas, a média diária do mês de janeiro/21 está 30% maior que no mesmo período do ano passado.
Com uma queda de 11% no preço médio comercializado, a receita caiu de maneira ainda mais intensa no comparativo semanal. Foram obtidos US$ 104,42 milhões com a venda de cereal na segunda semana do mês, 27% menos em relação a semana retrasada. Desta forma, a média diária obtida com a venda de milho chegou à US$ 24,69 milhões, 13% a menos do que era visto na 1ª semana do mês.
Praticamente sem oferta no mercado interno, as exportações de soja seguiram lentas na 2ª semana do mês. Foram 17,50 mil toneladas embarcadas na última semana, fazendo finalmente o contador dos embarques de oleaginosa sair do “zero” no Brasil. Ainda assim, a média diária embarcada no mês está em 1,75 mil toneladas, 86% menor que em dezembro/20 e 97% menor que em janeiro/20.
A receita seguiu caminho parecido, foram US$ 6,66 milhões obtidos com a venda de soja no Brasil na segunda semana do mês de janeiro/21, elevando a média diária do mês para US$ 666,7 mil. Cabe a ressalva de que os preços da tonelada da oleaginosa brasileira continuam elevados, cotados em média a US$ 381,00/t.
4. A compra do pecuarista
A semana encerrou com estabilidade, tanto nos principais insumos quanto para a reposição. O preço do bezerro fechou a semana a R$ 2.701,81/cabeça, demonstrando queda diária de 0,49%. A grande realidade é que os preços ficam estreitos entre R$ 2700,00 e R$ 2720,00. Apesar da semana estável, nos últimos 30 dias a categoria passou por 12,54 p.p. de aumento nas cotações. Fazendo um comparativo com o boi gordo, durante o mesmo período, as cotações andaram somente 8,96%.
Enquanto isso, o boi se descolou dos R$ 300,00 cravados e negociações acima já podem ser vistas. Neste sentido, o Indicador Cepea/Esalq fechou, na média semanal, em R$ 301,15/@, o que demonstra uma valorização de 56,44% em comparação ao mesmo período do ano passado. Apesar disso, os custos ainda restringem a lucratividade, não só pela reposição, mas também pelos insumos.
A colheita de soja ainda deixa dúvidas quanto ao ritmo e qualidade dos grãos recolhidos, principalmente com o aumento das chuvas. Com isso, a oleaginosa encerrou praticamente estável nesta última semana, com a média semana girando em torno de R$ 167,45/sc em Paranaguá. Apesar disso, a tendência aponta que o armazenamento não será vantajoso, o que pode melhorar a oferta.
Já o milho, após alcançar as máximas históricas, perdeu o ritmo e os preços desaceleraram na última semana. Com a venda mais ativa, para liberação dos armazéns para a entrada da safra de verão, os compradores aguardam por mais queda nos próximos dias. A sexta-feira encerrou com os preços em queda de 0,06 p.p. na comparação semanal, cotado a R$ 82,78/sc.
5. O destaque da semana
O destaque da semana vai para a alta do preço do boi gordo que está refletindo, e muito, nos frigoríficos. Nos últimos dias o Sindicado das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (SicadeMS), que representa 20 plantas de unidades frigoríficas no estado, entrou com um pedido para realizar a importação de gado vivo do Paraguai para o Brasil. A reinvindicação deve-se como forma de buscar alternativas para o preenchimento das escalas de abate em meio à oferta apertadíssima de gado, não só no estado, como em todo o país.
O Mato Grosso do Sul tem operado com ociosidade, devido à escassez de carne, as plantas frigoríficas estão abatendo apenas metade de sua capacidade produtiva, e o pouco volume processado, está aquém do esperado, deixando o estado com grandes dificuldades em participar do mercado. A escassez de animais deve-se em partes a estiagem que ocorreu no ano passado e acabou atrasando a recuperação das pastagens, o que forçou os pecuaristas a confinarem, reduzindo a quantidade de boiada pronta para abate no atual momento. Além disso, o ciclo pecuário também contribui para tal cenário, devido a retenção de fêmeas e a valorização do bezerro.
Há uma série de entraves para a liberação da importação dos animais, tais como os custos logísticos e da própria importação, uma oferta limitada do Paraguai, – onde um mês de produção brasileira equivale a um ano da paraguaia -, uma séria de regulações para tornar viável a comercialização da carne no Brasil, além de provocar uma alta dos preços no país, o que equilibrariam os preços brasileiros por pouco tempo, ou seja, seria uma medida paliativa e pouco satisfatória.
Enquanto o preço da arroba brasileira vai as alturas, as ações frigoríficas vêm caindo, o mercado interno não acompanha, não havendo espaço para repassar o custo ao consumidor, deixando os frigoríficos no vermelho.
6. E o que está no radar?
A primeira semana de fevereiro manteve o ritmo: poucas negociações sendo realizadas e escalas de abate apertadas em todo o território brasileiro. Fator que não deve demonstrar grande melhora no curtíssimo prazo. Como comentado nas versões anterior, animais provindos das pastagens devem chegar somente no início do próximo mês, em decorrência principalmente do atraso das chuvas nas principais regiões produtoras do país.
Por ora, o que se observa é um ritmo mais lento das exportações, o que já era esperado para este primeiro trimestre do ano. Isso está relacionado também com o afastamento do mercado chinês das compras até o encerramento de seu Ano Novo Lunar, que acontecerá no final deste mês, período em que as negociações devem começar a retomar.
Enquanto isso, o mercado doméstico ainda preocupa as indústrias, principalmente aquelas que não alcançam a fatia das exportações. O varejo derrapa, com o consumidor migrando para outras proteínas, reduzindo assim a competitividade de carne bovina. Com isso, os preços da arroba podem seguir tendência a estabilidade, não encontrando espaço para altas em meio ao fraco desempenho do mercado interno.