Yago Travagini é economista e consultor de mercado pela Agrifatto
Caroline Matos é zootecnista e trainee pela Agrifatto

 

Resumo da semana:

 

Foi o boi com a corda! Após duas semanas consecutivas em que o boi gordo desvalorizou em média 1%, a primeira semana de dezembro/20 trouxe consigo uma queda ainda mais intensa, e a cotação do animal recuou 3,10% no comparativo semanal, sendo negociado em média à R$ 275,20/@, sendo este o menor valor do boi gordo das últimas cinco semanas. A pressão que os frigoríficos imputaram sobre os produtores está aos poucos demonstrando efetividade, e, com isso, a oferta de bovinos vai dando “as caras” em todo o país. A escala de abate que até metade de novembro/20 tinha grande dificuldades para completar cinco dias úteis, fechou a última semana acima dos sete dias úteis em grande parte do país. Com essa maior folga nas escalas, a pressão negativa tende a continuar.
Com o boi gordo em forte retração, a reposição também iniciou uma curva de desvalorização na última semana. A cotação do bezerro no Mato Grosso do Sul recuou 4,66% no comparativo semanal, com o preço do animal chegando à R$ 2.470/cabeça, o menor valor desde o dia 17/11/2020. Tal queda foi causada sobretudo pela saída dos compradores do mercado, visto que a forte desvalorização do boi gordo trouxe receio quanto a margem da atividade, provocando a saída em massa das compras. Desta forma, o mercado do bezerro está seguindo o do boi gordo, e como a pressão negativa continua sobre este, a desvalorização ainda tem fôlego para continuar sobre a reposição.
Se até a semana retrasada o milho dava sinais de que iria continuar se desvalorizando levemente até o fim do ano, a última semana veio para demonstrar que “não é bem assim”. O preço físico do cereal em São Paulo recuou 5,78% no comparativo semanal, sendo cotado na última sexta-feira à R$ 74,69/sc, o menor valor desde o dia 20/10/2020. O recuo do dólar unido a um desinteresse contínuo dos compradores em realizarem novas compras foi o que permeou o mercado durante essa última semana, com isso, as cotações do milho mergulharam em uma forte queda. Na B3, o contrato para janeiro/21 recuou 11,11% em apenas cinco dias, sendo cotado a R$ 69,87/sc.
O principal causador deste movimento que acometeu não só o milho, mas a soja também foi o dólar. A divisa norte-americana teve uma semana turbulenta em todo o mundo, mas que acabou levando a uma queda de 3,21% na semana, fechando a sexta-feira cotado á R$ 5,16, o menor valor dos últimos quatro meses. Além de um movimento global de desvalorização da moeda dos EUA, visto que o índice DXY (comparativo do dólar com outras moedas mundiais fortes) bateu o menor nível desde abril/18, a massiva entrada de estrangeiros na B3 no último mês aliado a emissão bem sucedida do Tesouro nacional demonstra o interesse de investidores no Brasil, e justificou a variação negativa do dólar na última semana.

 

1. Na tela da B3

 

Uma semana agitada e travada, esse pode ser o resumo semanal para os vencimentos de boi gordo na B3. Isso por que os contratos obtiveram uma forte desvalorização durante esta semana, ao mesmo tempo que o encerramento do contrato para novembro/20 não obteve uma grande rolagem de vencimentos fazendo com que o volume de contratos em aberto caísse no menor nível dos últimos seis meses.
O contrato com mais liquidez atualmente (dezembro/20) registrou uma queda de 4,87% no comparativo semanal, saindo dos R$ 272,78/@ na sexta-feira retrasada para R$ 259,50/@ na última sexta-feira. O vencimento para maio/20 que detêm pouco mais de 1,14 mil contratos em aberto acumulou uma desvalorização de 5,16% no mesmo período, atingindo o valor de R$ 243,35/@, o menor desde setembro/2020.
O encerramento do contrato novembro/20 e a volatilidade fez com que o número de contratos em aberto atingisse o terceiro menor volume de 2020. Com pouco mais de 43,03 mil contratos em aberto (futuros + opções), o volume de contratos reduziu 43%, sendo as opções a principal responsável por essa diminuição. O total de CALLs abertas reduziu em 15,81 mil e de PUTs em 11,65 mil em relação a semana passada, sendo este o menor volume de opções em aberto de 2020.

 

 

1.1 O que o mercado futuro proporciona?

 

A volatilidade permeou mais uma vez o mercado do boi gordo na última semana, no entanto, a forte desvalorização fez com que as opções e os contratos futuros disponíveis não atraíssem os produtores.
A recomendação de PUTs que informamos por aqui na semana passada já se mostra mais onerosa nesta semana, visto que houve uma forte desvalorização dos preços na B3. Se na semana passada para se garantir o preço de R$ 263,00/@ para dezembro/20, R$ 248,00/@ para janeiro/21 e R$ 243,00/@ para fevereiro/21 o custo médio era de R$ 2,33/@,
nesta semana o custo é de R$ 6,22/@. A alta volatidade que o mercado do boi gordo está vivenciando continua a onerar as opções, tal fato aliado a forte desvalorização das cotações nos últimos dias transformaram as PUTs secas em uma opção não tão atrativa. Por outro lado, com o mercado ainda “nervoso” e dando sinais de que pode mergulhar em quedas ainda maiores, a compra de CALLs visando a proteção da reposição pode ser uma boa alternativa.
A PUT sintética continua no radar sendo uma estratégia atraente, especialmente se realizada em ajuste com a venda de animais a termo, visto que pode melhorar o preço mínimo se comparada à PUT simples sem incorrer na incidência de ajustes até que o mercado bata o strike da CALL.
Os futuros de boi gordo se apresentam como uma opção plausível, no entanto, vale a ressalva que a demanda financeira para este tipo de operação é elevada. O posicionamento de hedge em futuros mais interessante seria de olho em 2021, principalmente para aqueles que necessitam realizar a compra de reposição. Com o mercado de bezerros ainda em aceleração, a montagem de uma posição de compra para maio/21 em torno dos R$ 243,00/@ pode ser interessante. No entanto, o ideal é que seja feita de maneira comedida e aos poucos.
O mercado a termo permaneceu sem grandes negócios por mais uma semana.

 

2. Enquanto isso, no atacado…

 

Semana de baixas no mercado atacadista de carne bovina. A carcaça casada bovina iniciou o mês de dezembro sendo cotada a R$ 17,00/kg, baixa de 2,86% na comparação semanal e queda mensal de 5,56%. A maior disposição de produtos aumentou a disputada, com a ponta vendedora se sobressaindo na tentativa de realizar vendas, o que concretizou em quedas nos preços.
Apesar de tratar da época mais favorável do ano para vendas, com a chegada dos salários e décimo terceiro, as vendas de carne no varejo ainda estão aquém do desejado e o sentimento que paira no ar é o de incerteza e esperança que as vendas se acentuam nos próximos dias.
Para a proteína suína o cenário é parecido, vendas lentas e preços em queda. A carcaça suína especial, encerrou a semana cotada a R$ 11,73/kg, queda semanal de 7,13% e mensal de -15,03%. A disparada dos preços acarretou em um menor fluxo de saída, o que, consequentemente, afetou negativamente as indicações dos produtos.
No caso do frango resfriado, a situação foi oposta. A entrada de dezembro alavancou os preços praticados, que se consolidando em R$ 6,13/kg, alta discreta de 0,41% na comparação semanal e aumento mensal de 3,81%. As exportações da proteína de aves auxiliaram na retomada dos avanços dos preços no mercado doméstico.
O destaque desta semana fica para o mercado de ovos, que avançou, aproximadamente, R$ 5,00 na última semana, com o preço da caixa com 30 dúzias sendo negociada a R$ 114,00.

 

3. No mercado externo 
Finalizada as compras para o abastecimento do ano novo chinês, os embarques de carne bovina reduziram fortemente na primeira semana de dezembro/20. A média diária obtida na primeira semana do mês ficou em 5,47 mil toneladas, 35% a menos do que foi em novembro/20, quando o recorde (volume médio diário exportado) de embarques foi atingido.
Com tal redução, o volume embarcado nesta primeira semana foi de apenas 21,86 mil toneladas, abaixo até mesmo do desempenho da primeira semana de dezembro/19.
O desempenho fraco no volume exportado não resultou em queda dos preços negociados, isso por que o preço médio da tonelada de proteína bovina exportada ficou em US$ 4,43 mil/t, 0,70% acima do que fora no mês de novembro/20. Diante disso, a receita gerada com os embarques de carne bovina ficou em linha com a queda obtida no volume, recuando 35% no comparativo com novembro/20, com uma média diária de US$ 24,23 milhões/dia.

 

4. A compra do pecuarista

 

Dezembro/20 começou abrindo algumas oportunidades de compra para os pecuaristas brasileiros. Dentre essas oportunidades destaca-se o milho, que mergulhou em uma desvalorização de 7% nos últimos 15 dias no mercado físico, chegando na última sexta-feira a ser negociado abaixo dos R$ 75,00/sc em São Paulo, sendo esse o menor valor dos últimos 32 dias.
A pressão que está acometendo o mercado de milho deriva de três pilares. Primeiro, o dólar, que também registrou uma forte queda nos últimos dias, chegando a bater na mínima dos últimos quatro meses. O segundo pilar é a necessidade que os agricultores e cerealistas tem em esvaziar os armazéns e silos que estão ocupados com cereal e precisarão receber a soja dentro de 1 a 2 meses, com isso, a oferta de milho que se mostrava escassa até 30 dias atrás, agora aparece em grandes volumes. O terceiro pilar é uma demanda interna fragilizada pela falta de apetite das indústrias de ração animal, visto que a margem dessas começou a se espremer nas últimas semanas, graças a uma desvalorização dessas proteínas no atacado.
Diante disso, o mercado de milho entrou em uma espiral de desvalorização, na B3, o contrato para janeiro/21 registrou queda de mais de 11% nos últimos sete dias, fechando a semana abaixo dos R$ 70,00/sc. Tal desvalorização abre uma janela para compra de cereal, pois há um grande risco climático que já afetou as lavouras de 1ª safra de milho no sul do país, e, além disso, a 2ª safra de cereal que ainda irá ser semeada em fevereiro/21 pode sofrer com atrasos e problemas climáticos. Dessa forma, a compra de milho neste momento se mostra interessante visando a proteção contra um aumento ainda maior nos custos de alimentação animal.

 

 

5. O destaque da semana

 

O destaque desta semana ficou para a divulgação dos dados de abate do Indea – MT (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso), que demonstrou uma redução de 16% nos abates de bovinos em novembro/20 quando comparado a outubro/20, com 393,39 mil cabeças abatidas em Mato Grosso, sendo este o menor volume para um mês de novembro desde 2010. Com isso, o total de bovinos abatidos no estado mato-grossense no acumulado de 2020 chegou a 4,85 milhões de cabeças, 8% a menos do que no mesmo período de 2019.
Diferentemente do que vinha acontecendo nos últimos meses, quem conduziu a diminuição dos abates no último mês foram os machos. Foram 279,92 mil bovinos do sexo masculino encaminhados a linha de abate em novembro/20, 20% a menos do que no mês de outubro/20. Tal movimento é justificado principalmente pela diminuição da atividade confinadora a partir de novembro, não à toa, a participação de fêmeas no abate voltou a crescer após oito meses consecutivos em retração.
Esta diminuição demonstra que o pico de preços atingindo em meados do mês de novembro/20 em grande parte do país tem na escassez de oferta sua maior justificativa para a valorização. Com a melhora das pastagens e a chegada de um maior volume de animais que havia sido confinado tardiamente (no final de agosto/20), a pressão sobre a oferta arrefeceu e com isso os preços entraram em uma curva descendente.

 

6. E o que está no radar?

 

A primeira de dezembro consolidou as baixas de preços no mercado físico de boi gordo, mudando o cenário, principalmente, para as programações de abate que avançaram em todo o território nacional. O que provocou até fechamento das escalas até o final deste mês em algumas indústrias na região do Mato Grosso do Sul.
Fato é que os preços praticados no atacado foram se tornando impraticáveis, em consequência do fraco desempenho das vendas no varejo, relacionado ao menor apetite do mercado doméstico, que vem optando por proteínas mais baratas, como é caso da carne de aves, principalmente. Apesar disso, ainda há esperança quanto a melhora das vendas nos próximos dias, a chegada dos salários e das festas pode contribuir positivamente para a melhora dos preços.
Outro fator que pressiona as cotações é a possível redução das exportações neste final de ano, período sazonal em que volume embarcado reduz historicamente. Entra no radar também a queda da moeda norte-americana, o que afeta o apetite dos players.