Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
A pressão negativa continua sobre os grãos no final de abril, em consonância com a expectativa de renovação dos estoques de milho, trazendo alívio às referências de balcão e renovação das mínimas na Bolsa. Além disso, o comportamento afasta os compradores de negociações apressadas, afrouxando ainda mais o mercado neste momento.
A soja em Chicago respondeu ao menor apetite Chinês, que passa por um preocupante surto de peste suína africana. Há temores de expansão da doença para além das fronteiras asiáticas.
O que o mercado precifica, portanto, é uma temporada de safras cheias nos principais ofertantes de commodities agrícolas, enquanto o consumo esfria no maior consumidor mundial.
A valorização do câmbio tem oferecido alguma sustentação às cotações internas, com os repiques positivos permitindo que as cotações avancem, mas a alta volatilidade não permite janelas alongadas de comercialização.
- Mercado futuro na tela
Abril entra na reta final com mais uma semana de desvalorizações para os preços futuros do milho. Nos últimos 7 dias, o contrato para julho/19 foi o que contou com quedas mais expressivas: -3,30% e fechando a semana em R$ 31,30/sc.
Já o contrato de maio/19 caiu em menor intensidade, variando 1,80% para baixo e fechando em R$ 33,56/sc. E ainda, o setembro/19 caiu quase 2%, para R$ 31,86/sc (com movimentação técnica mantendo a variação entre R$ 31,80 e R$ 32,00/sc em praticamente todos os dias da última semana).
A bolsa continua indicando novas quedas para o valor do cereal no mercado físico, com deságio de 2,12% entre o último fechamento do CEPEA e o contrato para maio/19.
Além disso, as negociações antecipadas para entrega na safrinha em Paranaguá – PR acontecem ao redor de R$ 34,50/sc – acima do que tem se negociado os contratos na B3.
Portanto, ou as indicações para entrega futura passarão por ajustes negativos, ou a bolsa precisará ser corrigida para cima.
E em Chicago, os fatores baixistas dominaram os contratos futuros da soja, acumulando queda semanal de 3% (na média para os contratos de 2019), com o vencimento de maio/19 buscando o novo suporte psicológico em US$ 8,50/bushel.
A menor demanda da China pela matéria-prima, a oferta confortável na América do Sul e as expectativas relativamente positivas para a nova safra dos EUA (embora os riscos climáticos ganhem protagonismo cada vez maior), foram os drivers do movimento baixista por lá.
- Enquanto isso, no físico…
De modo geral, as negociações no balcão envolvendo o milho acontecem para atender necessidades pontuais e de curto prazo, já que o mercado fica pressionado na expectativa de colheita de pelo menos 68 milhões de toneladas da safrinha.
Regionalmente, as variações aconteceram para os dois lados, subindo 1,10% em Paranaguá – PR (R$ 30,60/sc) e 0,80% em Cascavel – PR. Aliás, os repiques do Dólar para cima contribuíram para pressionar positivamente os valores no porto paranaense.
Em outras praças o predomínio ficou para recuos das referências, com queda mais forte em Dourados – MS, em 2,75% e com parcial em R$ 25,77/sc – trata-se do menor valor desde o final de outubro/18.
Rondonópolis – MT e Rio Verde – GO caíram ao redor de 1,50% nos últimos 7 dias, com parciais em R$ 26,10 e R$ 29,90/sc, respectivamente.
E ainda, os reportes de negociação antecipada diminuíram na última semana, indicando que as quedas das referências podem ter desestimulado novas negociações pela ponta vendedora.
- No mercado externo
No início de maio, o Ministério da Economia deve divulgar os dados completos das exportações em abril.
Mas até a terceira semana deste mês (14 dias úteis), o país enviou 6,68 milhões de toneladas de soja ao mercado externo, um ritmo diário de 477,5 mil toneladas. O desempenho caiu ao longo das últimas semanas, com o volume parcial registrando-se 0,15% menor ante o mês anterior e 2,25% inferior ao mesmo período de 2018.
Além disso, o milho somou 335,1 mil toneladas (23,9 mil toneladas/dia) nos 14 primeiros dias úteis. Trata-se de desempenho 49% inferior a março/19, mas ainda 337% superior quando comparado com o mesmo mês em 2018.
- O destaque da semana
Apesar das declarações vagas sobre as negociações entre EUA e China, o mercado mostra certo otimismo sobre um possível acordo entre os dois países.
E hoje (30/abr) deverá começar nova rodada de negociações entre representantes das duas partes. Na semana seguinte, a partir de 8 de maio, um novo encontro está marcado para acontecer em Washington.
É nessa expectativa de acordo nas próximas semanas que indústrias chinesas estão reduzindo seus estoques, projetando que novas importações da desvalorizada soja norte-americana deverão acontecer em breve.
- E o que está no radar…
As apostas em que a economia norte-americana siga firme enquanto outras potências econômicas estão perdendo tração fortaleceram o Dólar nas duas últimas semanas.
A moeda norte-americana alcançou o maior patamar desde dezembro, enquanto a percepção de cenários em países europeus e asiáticos está mais sombria.
No Brasil, a economia patina e as expectativas com a reforma da Previdência são cautelosas. A magnitude e o tempo para votação são os maiores riscos.
Assim, o câmbio, que iniciou abril em R$ 3,75, se aproxima do final do mês acima de R$ 3,90, com resistência em se manter além do limite psicológico em R$ 4,00.