Gustavo Machado é engenheiro agrônomo e consultor de mercado pela Agrifatto
Resumo da semana:
Na última semana, o predomínio foi de baixa para os fatores de precificação. Os prêmios para a soja nos portos recuaram para níveis em US$ 0,35/bushel (para embarques do primeiro semestre).
As indicações para o milho também foram pressionadas para baixo, com recuo das referências em importantes praças pelo país. Na esteira, os futuros para o milho na bolsa brasileira também se ajustaram, com os contratos alcançando os menores patamares já negociados neste ano.
E o câmbio iniciou a última semana em queda, passando de R$ 3,84 para a mínima em R$ 3,81 na quarta-feira (10/abr), mas conseguiu recuperar as perdas no final da semana, subindo 1,72% para R$ 3,88.
Além disso, importantes relatórios de oferta e demanda foram divulgados na última semana, com projeção de safra cheia no Brasil. Calcula-se colheita de 94 milhões de toneladas de milho (CONAB).
O clima nos EUA ganha, gradualmente, importância para a precificação. Espera-se continuidade do período frio e chuvoso, embora o clima desfavorável neste início de temporada não represente, pelo menos por enquanto, prejuízos substanciais para a próxima safra.
- Mercado futuro na tela
A última semana foi marcada por desvalorizações dos contratos futuros de grãos.
Os contratos de milho na B3, que vinham até a semana anterior respeitando os limites gráficos e praticamente andando de lado, perderam a sustentação e buscaram por cotações menores.
Os contratos com maior liquidez cederam em maior intensidade e, assim, o vencimento para maio caiu 3,07% ao longo da última semana (com fechamento em R$ 34,70/sc), e o setembro caiu 2,54% para R$ 33,88/sc.
Vale destacar que o vencimento para setembro/19 alcança os menores valores do ano, abrindo oportunidades de hedge para a necessidade do insumo do 2º semestre.
Já os contratos para a soja em Chicago responderam pouco ao relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), continuando com movimentação bastante técnica. Além disso, o vencimento para maio resiste em manter equilíbrio acima de US$ 9,00/bushel.
- Enquanto isso, no físico…
No mercado físico do milho, as referências que vinham mantendo os níveis de preços também mostraram alívio na última semana.
A pressão negativa acontece por uma combinação de fatores, como a menor necessidade da ponta compradora no curto prazo, a expectativa de oferta cheia pela safrinha e, especialmente pela queda do câmbio e da B3.
Em Paranaguá, a variação para baixo de 3,10% alterou a referência para R$ 35,50/sc, e na esteira, a paridade para o cereal mato-grossense caiu 6,93% para R$ 19,43/sc. Além disso, a média do milho no MT baliza-se em R$ 22,35/sc (-2,15% na comparação semanal).
As indicações de preços para entrega futura de milho também esfriaram. Na região de Rondonópolis/MT e em Rio Verde/GO, houve reporte de negociações em torno de R$ 23,50/sc para entrega em julho e agosto.
Em Dourados/MS, as negociações seguem paradas pela disputa de preços entre as duas pontas, com negociações girando ao redor de R$ 26,00/sc.
- No mercado externo
Os embarques com a soja esfriaram na segunda semana de abril, e se no início do mês o ritmo diário registrava-se em 604 mil toneladas, na segunda semana, o desempenho caiu para 504,40 mil toneladas.
Mas apesar da desaceleração, o país embarcou 5,04 milhões de toneladas nos 10 primeiros dias úteis deste mês, proporção 5,47% superior quando comparado com o mês anterior e 3,25% maior ante o mesmo período do ano passado.
Para o milho, o país enviou 246 mil toneladas no mesmo período, um ritmo diário 47,59% inferior quando comparado com março/19, entretanto, registra avanço de 350% quando comparado com o mesmo período do ano passado.
- O destaque da semana:
O destaque fica para o 7º boletim de acompanhamento de safra da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
O órgão reajustou para cima a expectativa de produção de milho, com a safrinha podendo alcançar 68,14 milhões de toneladas – se confirmado, será um avanço de 26,4% ante a safrinha anterior. E assim, a colheita total pode alcançar 94 milhões de toneladas – alta de 16% ante a safra 2017/18.
Além disso, a Companhia estima que as exportações deverão fechar o ano em torno de 31 milhões de toneladas, e que o consumo interno para alimentação animal será de 62,5 milhões de toneladas.
- E o que está no radar…
As negociações entre os EUA e a China parecem avançar, com o anúncio da criação de “escritórios de implementação” em ambos os países. Aparentemente, restam detalhes em áreas mais delicadas e estruturais, como propriedade intelectual e transferência de tecnologia.
E embora seja difícil até mesmo especular sobre uma data para o fim da guerra comercial, o fato é que o mercado acredita em algum tipo de acordo entre os dois países, e frustração sobre o avanço das negociações resultaria negativamente sobre os mercados.
O clima nos EUA também deverá ganhar importância cada vez maior, com previsão de temperaturas ainda menores na próxima semana, e chuvas acima da média para o período. Entretanto, devido a janela ainda prolongada para o plantio, o desempenho da temporada 2019/20 não está definido.
No Brasil, entra no radar a redução das chuvas ao final deste mês.